Quando falamos de obesidade (e consequentemente em gestão de peso), há uma tendência associada para pensar em números — os quilos, o Índice de Massa Corporal (IMC), as calorias — e em soluções rápidas, como as dietas, medicamentos ou planos intensivos de exercício físico. Mas esta acaba por ser uma visão redutora de um fenómeno tão complexo, multifatorial e profundamente impactante. Uma visão que não contempla um pequeno (mas tão grande) pormenor: o lado psicológico associado à obesidade e à gestão de peso.

Artigo da responsabilidade da Dra. Mafalda Leitão. Psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde. Professora Auxiliar, Universidade Europeia

 

Ao desconsiderar a forma sobre como gerimos pensamentos, emoções e, consequentemente, comportamentos, criou-se uma abordagem centrada na obsessão por práticas extremas e, muitas vezes, contraproducentes, numa procura infindável por um corpo idealizado pelas redes sociais e pela Sociedade em geral, alheio à saúde e ao bem-estar reais.

Estas práticas, que não são sustentadas ao longo do tempo, levam a tentativas (sucessivas) falhadas que, por sua vez, levam à frustração. Ao desânimo. À incapacidade de acreditarmos novamente em nós próprios. À alteração da forma como nos posicionamos no mundo e com os outros.

A gestão de peso deixa de ser um objetivo secundário para passar a dominar a nossa vida. E de forma negativa. São precisamente estes sentimentos e estes pensamentos que diminuem a motivação, distorcem a perceção do progresso e criam crenças irrealistas. A gestão de peso é um processo contínuo, que exige conhecimento (de fontes credíveis), equilíbrio e autorregulação emocional.

Um estudo recente da nossa equipa de investigação com mulheres portuguesas de meia-idade revelou diferenças (comportamentais e cognitivas) relevantes. Foram estudados dois grupos de mulheres – o grupo A (que manteve o seu IMC saudável após a menopausa) e o grupo B (que aumentou de peso e tinha obesidade após a menopausa), sendo que alguns dos padrões diferenciadores identificados foram:

Autocuidado psicológico – As mulheres do grupo A cuidavam do seu bem-estar mental, procurando momentos para si, acompanhamento psicólogo e estratégias de gestão emocional – o processo de estabilização emocional é uma vitória silenciosa, mas fundamental;

Alimentação equilibrada, mas flexível – As mulheres do grupo A adotavam uma alimentação saudável, mas permitiam-se comer sem culpa – uma estratégia de autorregulação importante que contrasta com a restrição rígida de quem vive em constante dieta;

Gestão de dificuldades – Os dois grupos de mulheres identificavam várias dificuldades associadas à gestão do peso (por ex., falta de tempo, motivação), no entanto, o grupo A utilizava estratégias para contornar essas dificuldades (por ex., planeamento de tempo), enquanto o grupo B não o fazia.

Por vezes, o peso que precisamos de gerir não é somente o do corpo, mas sim o dos pensamentos e emoções que carregamos sobre ele. A terapia pode ser uma ferramenta poderosa na desconstrução de pensamentos limitadores, de crenças irrealistas e na construção de uma nova forma de cuidar de si – por dentro e por fora!