Segundo dados recentes, cerca de 1 em cada 100 crianças em Portugal está dentro do espetro do autismo e a PHDA afeta aproximadamente 5% das crianças em idade escolar. Apesar destes números, a maioria das escolas portuguesas ainda enfrenta dificuldades em oferecer suporte adequado. Noutros países, como a Finlândia e o Canadá, a educação inclusiva tem sido implementada com sucesso através de formação especializada para professores, planos de ensino individualizados e apoio multidisciplinar. Estes modelos demonstram que a inclusão eficaz beneficia todos os alunos e melhora a qualidade do ensino.

Artigo da responsabilidade de Bruna Lopes. Autora, ilustradora e cineasta.

 

A neurodivergência inclui condições como o autismo e a perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA). Como mãe de uma criança neurodivergente, conheço de perto as dificuldades enfrentadas pelos pais e educadores. No entanto, também vejo o potencial transformador de uma educação inclusiva.

O sistema educativo em Portugal ainda carece de recursos para apoiar estas crianças. A falta de formação específica para professores e o escasso apoio especializado levam à exclusão e dificultam o processo de aprendizagem, perpetuando situações de bullying. A ausência de adaptações adequadas coloca as crianças neurodivergentes em desvantagem, prejudicando a sua integração e desenvolvimento.

O que mudaria se as escolas fossem inclusivas?

A educação inclusiva vai além de garantir que todas as crianças estejam na mesma sala de aula. Implica oferecer apoio pedagógico e psicológico adequado, desenvolver estratégias de ensino personalizadas e garantir um ambiente acolhedor. Para crianças neurodivergentes, a inclusão significa ser compreendidas, aceites e respeitadas.

Com apoio especializado, estas crianças podem desenvolver-se ao seu próprio ritmo. Num ambiente adaptado às suas necessidades, têm a oportunidade de explorar o seu potencial, promovendo autonomia, confiança e melhor qualidade de vida. Crianças com PHDA ou autismo, quando apoiadas, podem obter resultados académicos e emocionais excecionais, preparando-se para uma vida adulta realizada.

A integração destas crianças beneficia todos os alunos. Conviver com colegas que têm diferentes formas de pensar e aprender ajuda a desenvolver empatia e competências sociais, promovendo uma cultura de
respeito pela diversidade.

O papel dos livros na inclusão

A literatura infantil é importante para construir empatia e aceitação desde cedo. Quando as crianças têm acesso a histórias que refletem a diversidade humana, aprendem a reconhecer e respeitar diferenças.

Livros que abordam a neurodivergência ajudam as crianças neurodivergentes a sentirem-se representadas e permitem que os seus colegas compreendam melhor as suas particularidades.

A minha experiência como autora de uma coleção de livros infantis sobre neurodivergência tem mostrado o impacto positivo dessa representatividade. O primeiro volume, que aborda a PHDA, foi recebido com entusiasmo por pais, educadores e crianças. O segundo livro, sobre autismo, já foi adquirido por profissionais de saúde, como psicólogos e psiquiatras. Histórias de leitores que se sentiram vistos e compreendidos têm sido extremamente
gratificantes e reforçam a necessidade de continuar a promover esta mensagem de inclusão.

E se as escolas fossem verdadeiramente inclusivas?

A inclusão escolar é uma responsabilidade coletiva. Para que haja mudanças reais, é importante que os pais, educadores e decisores políticos promovam políticas mais inclusivas. Pequenas mudanças, como iniciativas de formação e sensibilização a profissionais de educação, a implementação de estratégias adaptadas, ajudam a criar ambientes mais inclusivos e podem ter um impacto transformador na vida de milhares de crianças.

A educação inclusiva não é apenas uma necessidade social, mas uma responsabilidade coletiva. Quando as escolas estão preparadas para acolher e apoiar crianças neurodivergentes, todos saem a ganhar: crianças, famílias, educadores e, em última instância, toda a sociedade.

Se as escolas fossem verdadeiramente inclusivas, cada criança teria a oportunidade de aprender ao seu ritmo, com o apoio necessário para se sentir respeitada e valorizada.

Fontes de estatisticas:
https://hiperatividade.com.pt/prevalencia-etiologia/
https://www.dn.pt/585987537/uma-em-cada-100-criancas-em-idade-escolar-tem-autismo/