A terapia de compensação hormonal traz grandes benefícios para a mulher na menopausa, desde que efetuada com a administração criteriosa de hormonas bioidênticas e no âmbito da chamada modulação hormonal. Vou explicar melhor…

Artigo da responsabilidade da Dra. Ivone Mirpuri. Médica Patologista Clínica; Especialista em Medicina Antienvelhecimento, pela World Society of Anti-Aging Medicine; Especialista em Hormonologia, pela International Hormone Society; Certificação em Medicina Antienvelhecimento, pelo Cenegenics,  Nevada University, USA

 

 

A menopausa é definida como o período de tempo que decorre depois de um ano sem menstruar, na altura em que, em princípio, é suposto isto acontecer, pois pode haver ausência de menstruação por outros motivos, como um hipotiroidismo, por exemplo.

Geralmente, a menopausa faz-se acompanhar de sinais e sintomas desagradáveis para a mulher. Os ovários atrofiam e deixam de produzir as hormonas que produziam, designadamente estradiol, progesterona e testosterona. Cerca de 30% das mulheres apresentam sintomas vasomotores, os chamados “calores”, que tão aflitivos e incomodativos são. Mas todas as mulheres, se nada fizerem, terão secura vaginal, atrofia das mucosas, dores nas relações sexuais, incontinência urinária, pele mais seca e com maior flacidez, rugas mais abundantes, cabelo mais fraco, risco cardiovascular aumentado e osteoporose, entre outros sintomas físicos. A isto há que somar os sintomas emocionais, como dificuldade de concentração, falta de memória, irritabilidade, ansiedade e até depressão.

Assim, 70% das mulheres acabam sobremedicadas, com ansiolíticos ou antidepressivos e hipnóticos. Este é o quadro comum perante uma mulher na menopausa.

TODAS AS MULHERES DEVEM SER TRATADAS?

Fazer a terapia de compensação hormonal “só às mulheres que precisam” e só pelo período de 5 anos?… Pergunto eu: perante os sintomas da menopausa, quais as que não precisam? Não fazer terapia, em nome de quê? De um suposto risco aumentado de cancro da mama, frequentemente referido em notícias alarmistas relacionadas com hormonas?

Quando falamos de hormonas bioidênticas, não há nenhum estudo que revele aumento do risco de cancro da mama, com a utilização destas hormonas. Pelo contrário, alguns estudos até referem um risco ligeiramente inferior, resultado de ter o stress controlado, este sim, com um papel importante no desenvolvimento de patologia maligna. Além do mais, a progesterona bioidêntica é protetora da mama, como veremos já adiante.

O QUE SÃO, AFINAL, HORMONAS BIOIDÊNTICAS?

As hormonas bioidênticas são hormonas estrutural e quimicamente iguais às nossas.

As hormonas atuam em recetores e são específicas para esse recetor, ou seja, a hormona A está bem adaptada para o recetor A e a hormona B não encaixará bem no recetor da hormona A.

O facto das hormonas bioidênticas serem estrutural e quimicamente iguais às nossas tem muitas vantagens, uma vez que os recetores onde elas atuam estão-lhes totalmente adaptados, reconhecendo-as como se tratassem das nossas próprias hormonas. Além disso, o fígado não as reconhece como estranhas, estando preparado para as metabolizar, isto é, “transformar” em substâncias a que está habituado, impedindo a sua acumulação neste órgão.

Pelo contrário, as hormonas não bioidênticas, não sendo exatamente iguais às nossas, têm muitas vezes ações secundárias acessórias, como retenção hídrica e aumento do risco cardiovascular.

E SÃO SEGURAS?

Quem afirma que as hormonas bioidênticas “estão mal estudadas” ou ” são manipuladas e, por isso, o controlo de qualidade pode não ser o melhor” está completamente desfasado da realidade e atualidade científicas. Hormonas bioidênticas são utilizadas há mais de 60 anos, nos EUA, Brasil e pela Europa. Existem milhares de trabalhos publicados em revistas científicas de renome e este número tende a crescer anualmente.

Embora as hormonas bioidênticas, quer as manipuladas, quer as de venda pela indústria farmacêutica (em farmácia comum), tenham menos ações acessórias e representem menos perigos para a nossa saúde, é imperativo individualizar a prescrição, adaptando-a a cada pessoa e fazendo-a, também, depender da idade, da condição física, da sintomatologia e da observação dos exames analíticos e de imagem.

Leia o artigo completo na edição de maio  2023 (nº 338)