O melanoma conta anualmente com cerca de 10 novos casos por cada 100 mil habitantes. Isto poderá tornar-se um importante problema de saúde pública, se não se implementarem medidas e uma boa comunicação de prevenção.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. Osvaldo Correia. Dermatologista. Previamente publicado na edição nº 284 – junho/2018

 

A mudança de comportamentos que se têm vindo a assistir a favor de uma exposição aos raios ultravioleta de forma exagerada ou inadequada gera um tipo de agressões no DNA de diferentes estruturas de pele, que têm feito aumentar a incidência dos vários tipos de cancro cutâneo.

A exposição abrupta, intensa e repetida ao sol aumenta o fotoenvelhecimento da pele, com um favorecimento das queratoses actínicas (escamas recorrentes em áreas fotoexpostas), as quais são precursoras frequentes do carcinoma espinocelular. Mas não é só a exposição repetida ao sol que pode ter efeitos secundários: uma exposição súbita mas intensa, nos períodos onde os raios ultravioleta se fazem mais sentir, favorece o aparecimento de queimaduras solares que, muitas vezes, são origem do carcinoma basocelular ou do melanoma.

O QUE É O MELANOMA?

O melanoma é a forma mais agressiva de cancro da pele e, se não for detetado e tratado corretamente nos estádios iniciais, pode alastrar-se precocemente. Este tipo de cancro está associado à exposição solar aguda e intermitente, principalmente em indivíduos com determinadas características, como pele clara, com sardas, cabelos e olhos claros. Mas mencione-se ainda os antecedentes de queimaduras solares na adolescência, assim como fatores genéticos (mais de três parentes em primeiro grau afetados pelo tumor) ou antecedentes considerados de risco, como seja a presença de imunossupressão (por exemplo, doentes que tenham sofrido um transplante).

O melanoma, apesar de ser o cancro da pele com menor incidência, conta anualmente com cerca de 10 novos casos por cada 100 mil habitantes. Isto poderá tornar-se um importante problema de saúde pública, se não se implementarem medidas e uma boa comunicação de prevenção. Os cancros da pele não melanoma (em particular o carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular) ocorrem numa frequência de 11 a 12 vezes mais do que o melanoma, o que significa que se estimam cerca de 12.000 novos casos de cancros da pele em Portugal, todos os anos.

TRATAMENTO

O tratamento habitual em pessoas com cancro de pele é a cirurgia. Contudo, em função do tipo de cancro da pele e da sua fase de evolução, poderão ser propostos outros tratamentos. Nas formas iniciais e superficiais de carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular, poderá ser utilizada a terapêutica fotodinâmica, a criocirurgia ou o laser CO2. Nas formas avançadas, utilizam-se apenas várias técnicas de cirurgia convencional. Nas formas avançadas ou metastizadas de melanoma, o advento dos novos fármacos, incluindo a imunoterapia e os inibidores das vias de sinalização, em particular os inibidores BRAK e MEK, vieram dar alguma esperança de maior sobrevida.

Perante este cenário, as mensagens de PREVENÇÃO PRIMÁRIA, com comportamentos adequados de bom convívio com o sol, e de PREVENÇÃO SECUNDÁRIA, estimulando o autoexame e a observação periódica pelo dermatologista de indivíduos com lesões de risco ou antecedentes de risco, a fim de se incentivar o diagnóstico precoce, assumem-se como atitudes prioritárias.

Desta forma, a melhor e principal abordagem a ter passa pela prevenção.

PREVENÇÃO

A exposição aos raios UV levam à transformação dos sinais em lesões cancerosas: 50 a 70% dos cancros de pele estão, de facto, ligados a sobre-exposição ao sol e aos raios UVA e UVB1. As pessoas devem proteger-se contra este tipo de radiações. Mas, apesar desta informação ser frequentemente disseminada, os comportamentos ainda deixam algo a desejar e potenciam o surgimento de melanoma. Por exemplo, 60% das pessoas não se protegem o suficiente ou nunca utilizam protetor após a pele estar bronzeada.

Para se proteger do sol, há vários hábitos que pode adotar: evitar expor-se ao sol entre as 12h e as 16h, em dias de ultravioleta (UV) inferior a 6 e evitar a exposição intencional entre as 11h e 17 h em dias com UV igual ou superior a 6. Por outro lado, deve aplicar regularmente o protetor solar de fator FPS igual ou superior a 30 e de textura não fluída, bem como usar óculos de sol, chapéu e T-shirt na praia.

CHECK-UP

Numa fase inicial, é importante ter em mente a existência de rastreios, ou seja, a nossa pele deve ser examinada, pelo menos, a cada dois meses, especialmente em pessoas que sofrem uma exposição exagerada aos raios UV. O exame deve incidir sobre o corpo todo, parte anterior e parte posterior, com destaque às áreas expostas ao sol, sobretudo nos grupos de risco.

Afinal, o tratamento precoce é possível, como tal, é vital que conheça os sinais de cancro da pele e, sempre que possa ser visualizada alguma irregularidade, é necessário monitorizar as suas alterações.

No caso do melanoma, os principais sinais cutâneos que deve ter em alerta são a existência de um nevo muito escuro, que desenvolveu bordos irregulares ou cores diferentes ao longo do tempo; ou com uma protuberância de crescimento rápido, rosa ou avermelhada. Pode ainda surgir de um nevo que se possa ter modificado ou como lentigos (manchas solares parecidas com sardas).

Uma boa forma de analisar as diferenças entre o envelhecimento e o fotoenvelhecimento da pele é comparar uma parte da pele habitualmente tapada com uma pele frequentemente exposta. A face interna do braço ou antebraço com a superfície exterior é uma boa forma de ver as diferenças: mais manchas, mais rugas, mais “sinais/nevos”, na pele exposta do que na não exposta.

CUIDADOS A TER

Noutro plano, existem alguns passos-chave a ter no que diz respeito aos cuidados a ter em relação à exposição solar. Uma das principais ideias que é importante reter é que não se apanha somente sol na praia: este alerta deve estar em mente quando se pratica um desporto ao ar livre ou em simples caminhadas ao sol. Sendo que o ideal é reduzir ao máximo as atividades exteriores entre as 12h e as 16h.

O vestuário faz parte dos cuidados a ter: são importantes a utilização de um chapéu; de uma camisa, de preferência, de mangas compridas e de cor escura; e de óculos de sol; assim como a exposição gradual, pois a nossa pele necessita de tempo para se adaptar.

Em relação ao creme de proteção solar, deve ter um fator de proteção igual ou superior a 30, devendo ser renovado de duas em duas horas; a sua aplicação deve ser generosa, sobretudo após o banho ou se transpirar excessivamente. Deve existir atenção com os protetores muito fluidos, “transparentes” ou “em espuma”, pois podem dar uma falsa sensação de segurança. Os lábios e as pálpebras devem ser igualmente protegidos.

Deve ainda ter em atenção que determinados alimentos contribuem para a fotoproteção, mas que não substituem, de modo algum, uma boa proteção e os cuidados a ter com o vestuário.