A Medicina Antienvelhecimento é uma nova dimensão da prática clínica. É uma medicina cientificamente comprovada, de caráter pró-ativo, que tem por meta a diminuição do risco das doenças associadas à idade.
Artigo da responsabilidade da Dra. Ivone Mirpuri
Médica Patologista Clínica; Especialista em Medicina Antienvelhecimento pela World Society of Anti-Aging Medicine; Especialista em Hormonologia pela International Hormone Society; certificação em Medicina Antienvelhecimento pelo Cenegenics, Nevada University, EUA
O conceito de Medicina Antienvelhecimento surgiu há cerca de 20 anos, quando se começou a perceber que era mais importante prevenir as doenças do que tratá-las, dados os elevados custos associados à Medicina Curativa, cada vez maiores e mais incomportáveis.
A realidade atual é que a população está a envelhecer e a percentagem de pessoas novas e produtivas que “pagam” a reforma e a assistência social das mais velhas é cada vez menor, pois não há estímulos à natalidade, para já não falar das dificuldades sociais; simultaneamente, a longevidade vai sendo cada vez maior, pese embora, muitas vezes, à custa de prolongarmos a “doença”.
Um dado curioso que ilustra bem o envelhecimento global da população: se, em 1999, havia em todo o mundo cerca de 150 mil pessoas com mais de 100 anos, em 2050 estima-se este número ascenda a mais de 2 milhões!
Uma nova dimensão
A Medicina Antienvelhecimento é uma nova dimensão da prática clínica. É uma medicina cientificamente comprovada, de caráter pró-ativo, que tem por meta a diminuição do risco das doenças associadas à idade. É uma nova maneira de “pensar” e “abordar” a medicina, otimizando os meios de tratamento do utente e a sua saúde.
Os objetivos da Medicina Antienvelhecimento são simples: aumentar a vitalidade, a energia e a saúde dos indivíduos. E assenta em cinco pilares básicos: nutrição, exercício físico, suplementação alimentar, suplementação hormonal e mudança de hábitos de vida.
Nutrição e hábitos de vida saudáveis
Mesmo sabendo-se que os cinco pilares estão completamente interligados, os hábitos de vida saudáveis, incluindo a nutrição e o exercício físico, são fundamentais e talvez as componentes mais importantes. De nada adianta uma reposição hormonal, sem uma alimentação correta ou a regularidade do exercício físico.
Já todos ouvimos afirmar que a patologia cardíaca e o cancro são as doenças que lideram as causas de morte em praticamente todos os países ditos evoluídos. A obesidade, condição que aumenta a prevalência daquelas doenças, é controlada pela nutrição e pela mudança de hábitos de vida.
Muito poderíamos dizer sobre nutrição e hábitos de vida, mas fica apenas uma nota: o consumo de tabaco, de álcool e de café, são péssimos para as nossas hormonas.
Exercício físico
Igualmente fundamental para a manutenção do nosso equilíbrio físico e mental, o exercício físico interfere bastante a nível bioquímico celular, favorecendo a modulação e a regulação hormonais.
Mas, repito a ideia, de pouco adianta se a alimentação não for adequada, pois os danos vão-se fazendo sentir, a médio e longo prazo.
O exercício físico deve ser regular e de intensidade moderada. Há especificidades, obviamente, de acordo com os objetivos que se pretendem. Modelar o corpo de um homem é muito fácil. Já na mulher, requer mais trabalho. Os homens não têm celulite, problema que aflige tantas mulheres, pois têm uma “hormona maravilha” que todos os homens e mulheres deveriam suplementar com a idade: a testosterona.
Suplementação alimentar
Este tipo de suplementação deve ser mínimo, cabendo aos alimentos fornecer a maioria dos nutrientes de que necessitamos. No entanto, alguns são, de facto, necessários, dada a sua escassez alimentar.
Assistimos atualmente ao consumo desmedido de suplementos ditos alimentares, constituindo um negócio de muitos biliões. Consequentemente, a oferta é imensa, tal como grande é o desconhecimento da população.
Os suplementos alimentares não são sujeitos a prescrição médica e o utente, muitas vezes, pensa que não lhe podem causar dano, o que não é, infelizmente, sempre verdade.
Há que pensar que são substâncias metabolizadas no fígado e que podem provocar efeitos adversos, se combinados ou não com outras substâncias.
Costumo dizer que, se tivesse a necessidade de prescrever um único suplemento, escolheria indiscutivelmente o ómega 3. No entanto, é preciso saber que o ómega 3 deve ser sempre coadjuvado com a vitamina E, para prevenir a formação de radicais livres.
Como em tudo na vida, há que pensar sempre nos “prós” e nos “contras” e pesar o que é mais favorável, em cada situação, para cada paciente.
Suplementação hormonal
A quebra hormonal inicia-se por volta dos 30 anos, com perdas de 1 a 3% ao ano. Aos 40 anos de idade, começamos a sentir já alguma diferença relativamente às décadas anteriores.
Com efeito, a partir dos 40 anos, verifica-se gradualmente:
- Diminuição da energia, da força muscular e da massa óssea;
- Diminuição das funções cognitivas, motoras, sensoriais e pulmonares (marcadores da idade);
- Perda da elasticidade e aumento da flacidez da pele, aumento da relação massa adiposa/massa muscular;
- Diminuição da libido e aparecimento de disfunções sexuais;
Diminuição da HGH, a chamada hormona do crescimento humano, que desempenha um papel fundamental.
Compreende-se, pois, que o objetivo da suplementação seja o de repor os níveis que apresentávamos quando tínhamos menos de 30 anos. A modulação hormonal faz-se em pequenas quantidades, para que não se cause “inibição” da glândula, mas apenas se ajude e “tranquilize” a sua função.
A tiroide desempenha um papel central na regulação metabólica. Níveis baixos levam a aumento de peso, depressão e fadiga. Muito consumo de ansiolíticos e antidepressivos era evitado se o equilíbrio hormonal fosse restabelecido.
A testosterona, os estrogénios e a progesterona têm, igualmente, papéis fundamentais.
Porém, faço aqui duas ressalvas. Primeira: só devemos suplementar quem realmente necessita. A maior contraindicação de qualquer hormona é a ausência da necessidade dela! Segundo: só utilizo hormonas bioidênticas, ou seja, química e estruturalmente iguais às nossas, o que apresenta inúmeras vantagens.
Mais uma vez, pouco adianta a reposição hormonal se não dermos atenção aos outros fatores. Imprescindíveis: estilo vida saudável, exercício físico, dieta hipoglucídica (pobre em hidratos de carbono) e eventual suplementação alimentar e/ou hormonal.
Em resumo
A Medicina é uma arte, onde o conhecimento, o bom senso, a empatia com o paciente, a experiência clínica e a capacidade de combinar tudo isto geram excelentes resultados.
A Medicina Antienvelhecimento ensina-nos a prevenir as patologias associadas ao envelhecimento, como as doenças degenerativas, e a melhorar a nossa saúde geral.
Podemos não aumentar significativamente a longevidade, mas prevenimos, sem dúvida, a morbilidade e a morte prematuras, promovendo uma muito melhor qualidade de vida.
Artigo publicado na Edição de Jul/Ago 2014 (nº 241)
You must be logged in to post a comment.