Doença infeciosa parasitária grave, transmitida pela picada do mosquito Anopheles, a malária provoca febres agudas e, nalguns casos, complicações que afetam os rins, o fígado, o cérebro e o sangue, podendo ser fatais.

 

A malária, mais conhecida em Portugal por paludismo, é prevalente nos trópicos e afeta, anualmente, cerca de 93 milhões de pessoas. É o mais importante risco de doença para quem se desloca aos climas quentes. E, num país como o nosso, há que lhe dar o devido relevo, face ao constante fluxo de pessoas oriundas dos países africanos de língua oficial portuguesa.

A Organização Mundial de Saúde tem vindo a aplicar um vasto programa de controlo da doença, mas o êxito conseguido, nos últimos 20 anos, tem sido moderado. Os mosquitos adquiriram resistência aos inseticidas e, em muitas regiões, os parasitas da malária tornaram-se resistentes aos medicamentos.

Crianças são das principais vítimas

Os parasitas responsáveis pela malária são organismos unicelulares – protozoários – denominados plasmódios. No homem, a doença pode ser provocada por quatro espécies diferentes: o Plasmodium Falciparum, o Plasmodium Vivax, o Plasmodium Ovale e o Plasmodium Malariae. Cada uma destas espécies passa parte do seu ciclo biológico como parasita do homem e parte como parasita do mosquito Anopheles.

A malária constitui um dos maiores problemas sanitários de grande parte das regiões tropicais. As crianças das zonas afetadas sofrem crises repetidas e muitas morrem.

Sintomas assustadores

O período que decorre entre a picada do mosquito e o aparecimento dos sintomas varia de uma a duas semanas, mas pode atingir um ano, se a pessoa estiver a tomar medicamentos antimaláricos – os quais reduzem, sem evitar completamente, o risco de contrair a doença.

Os sintomas, que incluem tremores, arrepios de frio e febre, só aparecem quando os glóbulos vermelhos do sangue, infetados pelos parasitas, se rompem e libertam mais parasitas na circulação sanguínea.

Porém, os sintomas principais da infeção são as clássicas sezões – acessos de febre intermitentes. À exceção da maioria das infeções por Plasmodium Falciparum, estas febres apresentam três fases: uma fase fria, com tremores incontroláveis; uma fase quente, em que a temperatura pode chegar aos 40,5º C; e, finalmente, uma fase de suores, que molham completamente as roupas e a cama, com diminuição da temperatura. A crise pode ser acompanhada por dores de cabeça, mal-estar geral e vómitos. No termo do acesso, o doente sente-se fraco e cansado e adormece.

O Plasmodium Falciparum infeta os glóbulos vermelhos em qualquer fase de maturação, ao passo que as outras variedades atacam apenas as células novas ou velhas. A malária por Falciparum afeta, assim, uma proporção maior de glóbulos sanguíneos e, por isso, é mais grave, podendo tornar-se fatal, apenas uns dias após o aparecimento dos primeiros sintomas. A febre é prolongada e irregular, mas os sintomas são, inicialmente, muito semelhantes aos da gripe; por esse motivo, a doença ou sua gravidade podem não ser imediatamente diagnosticadas. Os glóbulos vermelhos infetados pelos parasitas podem obstruir os vasos sanguíneos de órgãos vitais, especialmente os rins. O baço aumenta de volume e o cérebro pode ser afetado, originando coma e convulsões. A destruição dos glóbulos vermelhos provoca anemia hemolítica. Insuficiências renais e hepáticas são complicações comuns, com a malária por Falciparum.

Mesmo as pessoas que tomam medicamentos antimaláricos e que se precaveram contra as picadas de mosquitos podem contrair a doença. O aparecimento de febre e dores de cabeça, depois de uma viagem aos trópicos, deve ser comunicado ao médico, logo que possível. É importante que o médico seja informado acerca da viagem, para que possa pedir os exames necessários, para verificar ou excluir a existência da doença.

A malária é diagnosticada através da análise de amostras de sangue, colhidas a intervalos de 6 ou 12 horas; ao microscópio, vêem-se claramente os parasitas, nos seus vários estádios de desenvolvimento.

Tratamentos disponíveis

A malária, especialmente por Falciparum, é frequentemente uma emergência médica, que requer hospitalização. Administram-se ao doente medicamentos antimaláricos, sendo, por vezes, necessárias transfusões de sangue.

A cloroquina, que erradica os parasitas do sangue, é o tratamento usual para todos os tipos de malária. Contudo, a malária por Falciparum, resistente à cloroquina, alastrou a muitas regiões tropicais. Quando se suspeita de uma forma resistente à cloroquina ou quando o número de parasitas não diminui nas primeiras 24 horas, podem ser administrados outros fármacos, como o quinino ou uma combinação de pirimetamina e sulfadoxina.

Em muitos casos de malária não provocada por Falciparum, os doentes tomam, também, a primaquina, para destruir os parasitas do fígado. Porém, este fármaco pode causar anemia hemolítica, em pessoas com deficiência de glucose-6-fosfodesidrogenase.

Medidas preventivas

Em países onde a malária é prevalente, grande parte das pessoas vai adquirindo um certo grau de imunidade à doença. O mesmo, no entanto, não se aplica às pessoas, incluindo mulheres grávidas, que visitam os trópicos, as quais devem consultar o médico, para começarem a tomar antimaláricos, um ou dois dias antes de entrarem numa zona de malária e continuando o tratamento, sem interrupções, pelo menos até quatro semanas depois de a deixarem.

Antes de receitar um medicamento, o médico quererá saber quais os países a serem visitados. A cloroquina é, em geral, recomendada para regiões onde a malária não seja resistente; para utilização mais prolongada, pode ser preferido o proguanil, que tem menos efeitos secundários. Para as zonas de malária resistente à cloroquina, existem várias possibilidades, como uma combinação de cloroquina e proguanil ou de pirimetamina com sulfadoxina ou com dapsona.

 

Ciclo de disseminação da malária

  1. O mosquito não infetado pica uma pessoa infetada e torna-se infetado
  2. O mosquito infetado pica um ser humano.
  3. Os plasmódios na saliva do mosquito penetram na circulação sanguínea.
  4. Os plasmódios invadem o fígado e reproduzem-se.
  5. Os plasmódios invadem glóbulos vermelhos do sangue e reproduzem-se.
  6. Os glóbulos vermelhos rompem-se, libertando plasmódios.
  7. Alguns plasmódios invadem outros glóbulos vermelhos.
  8. Outros plasmódios evoluem para formas capazes de infetar mosquitos.