É importante dizer que os linfomas, apesar de serem os cancros hematológicos mais frequentes, têm um bom prognóstico. Os avanços ao nível do diagnóstico e dos tratamentos têm permitido encarar esta doença com uma perspetiva animadora.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. José Mário Mariz, onco-hematologista no Hospital CUF Porto

 

Há muitos tipos de linfomas, que são tumores malignos do sistema linfático. Em termos gerais podem ser classificados como sendo do tipo não Hodgkin – os mais frequentes em Portugal e  mais prevalentes em pessoas de idade mais avançada – e do tipo de Hodgkin – que são mais raros e mais frequentes nos adultos jovens.

Não existem sintomas específicos do linfoma, uma vez que são comuns a outras doenças e muito variados. O mais frequente é o aparecimento de um tumor de tamanho variável nos locais onde existem gânglios (pescoço, axilas, virilha, etc). Estes tumores podem aparecer de forma isolada ou estarem acompanhados por diversos sintomas, nomeadamente a febre, os suores noturnos, com transpiração muito intensa durante a noite, a perda de apetite, o emagrecimento, a fadiga, o prurido ou comichão, as dores, a tosse, entre outros.

É por isso importante procurar avaliação clínica, para que o médico, em caso de suspeita, possa aconselhar a realização de exames de diagnóstico mais indicados a cada situação e que podem incluir, biópsia, tomografia computadorizada ou PET, um exame de imagem. Em alguns casos será necessário fazer também uma biópsia da medula óssea a nível do osso ilíaco, para avaliar se o linfoma também a envolve, o que pode acontecer com alguma frequência.

Ao contrário da maioria dos outros tumores, onde a cirurgia tem um papel relevante no tratamento, nos linfomas o seu papel é muito limitado ao diagnóstico. O tratamento curativo dos linfomas depende de quimioterapia, em combinação com imunoterapia e, nas formas mais localizadas, o tratamento combinado com radioterapia. Estes tratamentos são realizados em hospital de dia, sem necessidade de internamento e o número de ciclos pode variar consoante o estadiamento.

Os linfomas são os tumores com maior probabilidade de cura, embora essa probabilidade dependa do tipo e do estado em que se encontra a doença. As formas mais localizadas têm maior probabilidade de cura.

Há cerca de 20 anos houve um avanço muito significativo no tratamento dos linfomas com a introdução da imunoterapia – ou seja, a utilização de anticorpos monoclonais que estimulam o nosso sistema imunitário – que passou a ser conjugada com a quimioterapia clássica. Hoje, a maioria dos linfoma não Hodgkin são tratados com esquemas que combinam a imunoterapia com a quimioterapia. Esta combinação permitiu aumentar o número de doentes curados.

Mais recentemente foi introduzida a terapia celular com células T geneticamente modificadas (as chamadas células CAR T), como uma nova opção para os casos em que a imunoquimioterapia não foi suficiente para erradicar a doença. Esta terapia celular constitui um dos avanços mais significativos na oncologia, consistindo na utilização dos linfócitos T dos doentes que, após uma colheita, são modificados geneticamente em laboratório para melhorarem a capacidade de reconhecer e destruir as células malignas. Após esta modificação são reintroduzidos no doente onde vão reconhecer e destruir as células malignas, aumentando a probabilidade de cura. Esta terapia não pode ser utilizada em todos os casos, mas é uma esperança para muitos doentes com linfoma não Hodgkin.

Convém realçar que, na presença de sintomas ou de alterações no exame físico, por exemplo o aparecimento de um tumor numa determinada região do corpo, a consulta atempada de um médico para confirmar estas alterações e desencadear o estudo subsequente pode fazer a diferença. O mais importante para um bom prognóstico da doença é o seu diagnóstico precoce.