Apesar de a obesidade ser uma doença multifatorial, os hábitos alimentares inadequados são das principais causas evitáveis. Neste plano, a doença pode ser reduzida com uma forte intervenção nutricional.

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Ana Catarina Correia  Nutricionista e Nutricoach

 

Agora que todos estamos familiarizados com a palavra pandemia, está na altura de olharmos para uma não menos importante e com um elevado impacto no que diz respeito à morbilidade e mortalidade: a obesidade, uma doença global!

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade é definida como um acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal que pode atingir graus capazes de afetar a saúde. A obesidade é considerada uma doença crónica e de origem multifatorial.

Nos últimos 50 anos, a prevalência de obesidade aumentou em todo o mundo.

Em Portugal, de acordo com o Inquérito Nacional de Alimentação e Atividade Física, a prevalência nacional de obesidade é de 22,3% (superior no sexo feminino) e pré-obesidade é de 34,8%. De salientar que aumenta proporcionalmente com a idade e inversamente com o nível socioeconómico.

DOENÇA CRÓNICA E MULTIFATORIAL

A obesidade é uma das doenças mais prevalentes, assim como das mais subvalorizadas e menos tratadas da atualidade. Perante este cenário e sendo um problema de saúde pública, por um lado, é necessário apostar na prevenção através da promoção de hábitos alimentares e de atividade física saudáveis. Por outro lado, dado o elevado número de indivíduos que já se encontram com esta doença, é importante também assegurar uma terapêutica e acompanhamento para estas situações.

A crescente prevalência do excesso de peso e obesidade e a sua associação ao risco acrescido de múltiplas comorbilidades representam um potencial prejuízo da condição clínica de indivíduos e populações, com enorme impacto nos sistemas de saúde, potencialmente traduzido em mortalidade precoce.

Para além do impacto na morbilidade física, a obesidade tem um impacto relevante no funcionamento psicológico e no bem-estar individual.

A obesidade é doença crónica e multifatorial, que prejudica a saúde de várias maneiras. Desde logo, importa chamar a atenção para o facto de esta doença aumentar o risco de desenvolvimento de outras doenças, como a diabetes, as doenças cardiovasculares e as osteoarticulares, a doença renal e alguns tipos de cancro, ao mesmo tempo que reduz a qualidade e a esperança média de vida.

HÁBITOS ALIMENTARES INADEQUADOS

Sabemos que a alimentação inadequada é uma das principais causas evitáveis. Aliás, os hábitos alimentares inadequados estão entre os cinco fatores de risco que mais contribuem para a perda de anos de vida saudável e, consequentemente, para a mortalidade.

Desta forma, é determinante a implementação de medidas que promovam uma alimentação saudável, nomeadamente de medidas direcionadas para a criação de ambientes alimentares saudáveis, devendo igualmente conduzir a uma redução das desigualdades socioeconómicas relacionadas com a alimentação.

Em Portugal, tem havido algum investimento no que concerne à prevenção, como a regulação da publicidade dirigida a crianças, a taxação e a reformulação de algumas categorias de alimentos, a alteração da oferta alimentar nas escolas. Estas e outras iniciativas devem fazer parte de esforços conjuntos de organizações governamentais, dos mais variados setores, ao sistema alimentar, como a indústria, a distribuição e a restauração, e toda a comunidade.

ACONSELHAMENTO NUTRICIONAL

A obesidade é uma doença que pode ser reduzida com uma forte intervenção nutricional. Daí resultaria uma enorme diminuição dos custos relacionados e do peso de doenças a ela associadas.

Na avaliação da obesidade, é mais habitual o recurso à avaliação antropométrica e, particularmente, a fórmulas que combinam o peso, a altura e/ou os perímetros corporais.

Tratando-se de uma doença crónica de etiologia multifatorial, a abordagem da obesidade exige um ambiente e postura terapêutica centrados no utente. Convidando o utente a falar sobre a sua condição clínica, o nutricionista tem oportunidade de identificar fatores etiológicos e de manutenção da doença (idade de instalação da doença, história familiar de obesidade, etc.), tentativas anteriores e os seus resultados, entre outros.

O aconselhamento relativo à modelação dos consumos alimentares deve sustentar-se na satisfação das necessidades nutricionais; objetivos terapêuticos (redução de peso, controlo metabólico, etc.) e adequação às rotinas e constrangimentos individuais (rotinas laborais, valores religiosos, limitações económicas, etc.).

Neste sentido, o aconselhamento pode ir desde a definição de um plano alimentar estruturado, até à recomendação de uma única estratégia comportamental.

Leia o artigo completo na edição de abril 2022 (nº 326)