No Dia Mundial do Coração (29 de setembro), nada melhor que recordar a importância e a gravidade da insuficiência cardíaca, uma verdadeira epidemia do nosso século, ainda tão subvalorizada.

Artigo da responsabilidade do Dr. António Valentim Gonçalves. Cardiologista, especialista em insuficiência cardíaca, no Hospital CUF Descobertas

 

O impacto social e económico da insuficiência cardíaca em Portugal e no Mundo resume-se rapidamente. Em Portugal, há mais de 400.000 pessoas afetadas, 64 milhões em todo o Mundo, e com a evolução demográfica prevista para os próximos anos, estima-se que, em 2035, estes valores aumentem em 30%, sendo atualmente a principal causa de internamento hospitalar em pessoas com mais de 65 anos.

Infelizmente, ainda existe uma grande falta de informação sobre insuficiência cardíaca em Portugal. Isso mesmo fica patente num inquérito recentemente promovido pela Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, no qual dois em cada três dos inquiridos revelaram que no momento do diagnóstico “não sabiam nada sobre a doença nem sobre o seu prognóstico”.

Uma analogia interessante é comparar a perceção existente entre o diagnóstico de insuficiência cardíaca e o diagnóstico de doença neoplásica (cancro). Atualmente, qualquer pessoa em Portugal com cancro tem a noção de que esta doença pode levar à morte e que deve rapidamente procurar apoio para obter a melhor terapêutica disponível. No entanto, poucos sabem que o prognóstico relacionado com a insuficiência cardíaca é comparável com algumas das neoplasias mais agressivas e/ou em fase avançada de progressão. Uma demonstração disto é a sobrevida média esperada de apenas 1 ano em casos de insuficiência cardíaca avançada.

É igualmente desconhecido que existem presentemente terapêuticas (farmacológicas e não farmacológicas) para tratar a grande maioria das pessoas com insuficiência cardíaca, fazendo estes doentes viverem mais tempo, com mais qualidade de vida e com menos tempo de internamento hospitalar. Neste contexto, conhecermos um pouco mais sobre esta doença pode fazer toda a diferença.

Como em qualquer doença, a primeira pergunta é como podemos prevenir que ela se desenvolva. Na maioria dos casos, um estilo de vida saudável com controlo dos tradicionais fatores de risco cardiovasculares contribui decisivamente para reduzir o risco de desenvolver insuficiência cardíaca.

Sinais de alerta

Seguidamente, é preciso saber como é que esta doença se manifesta. O cansaço para esforços progressivamente menores é o principal sintoma. Em fases mais avançadas, a sensação de falta de ar a caminhar ou quando nos deitamos, o edema (inchaço) dos pés e das pernas, a perda de apetite ou mesmo alguma confusão (em idades mais avançadas) ocorrem frequentemente. Infelizmente, a morte súbita pode também ser a forma de apresentação clínica desta patologia.

Diagnóstico

O diagnóstico realiza-se conjugando a sintomatologia anterior a sinais de disfunção cardíaca, quer em análises sanguíneas, quer em exames específicos, como o ecocardiograma, para avaliar a função do coração. Tal como noutras doenças, quanto mais precoce for realizado o diagnóstico, mais eficiente é o tratamento, proporcionando a estas pessoas uma melhoria na sua qualidade de vida.

Tratamento

O tratamento baseia-se no controlo das doenças que levaram ao aparecimento da insuficiência cardíaca, associado ao tratamento farmacológico que, felizmente, tem tido enormes avanços nos últimos anos, com novos fármacos capazes de prolongar a sua vida. O exercício físico regular é também parte integrante do processo de recuperação cardíaca.

Em casos mais avançados, poderá estar indicada a colocação de dispositivos cardíacos elétricos capazes de ressincronizar o coração e de reduzir o risco de morte súbita cardíaca. Em casos resistentes a todas as terapêuticas disponíveis, surgem como hipóteses o transplante cardíaco ou a implantação de “assistência ventricular mecânica”, substituindo a função do coração doente.

Se tem algum destes sinais ou sintomas ou se conhece alguém que os tem, pode ser insuficiência cardíaca. Procure a nossa ajuda!