A 8.ª edição do Saúde que Conta quis perceber qual o nível de “Literacia em Saúde e Qualidade de Vida dos Cuidadores Informais – a realidade portuguesa” e concluiu que 58,6% tem um nível de literacia em saúde “inadequado ou problemático” e 48,1% classifica o seu acesso à informação sobre ser cuidador informal no nível “muito mau ou mau”.

Esta foi uma iniciativa da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP-NOVA), com o apoio da Lilly Portugal.

Dos cuidadores informais inquiridos pelo Saúde que Conta (n=790), 85,7% não usufrui do estatuto de cuidador informal, apesar de 78,9% cuidar de pelo menos uma pessoa, 47% ter essa responsabilidade há mais de um ano e 37,6% reportar que presta cuidados até seis horas por dia. Mesmo com este cenário, 51,1% respondeu que não tem qualquer tipo de apoio enquanto cuidador informal e, mesmo sendo um trabalho a tempo inteiro, 93,5% nunca usufruiu do serviço de descanso do cuidador.

Além de procurar conhecer melhor a realidade portuguesa nesta área, nesta edição, o Saúde que Conta avaliou ainda a qualidade de vida dos cuidadores informais. Para tal, começou por solicitar que indicassem o seu grau de concordância com a frase “Deixo de cuidar de mim e/ou da minha saúde para cuidar da pessoa cuidada” e 79,6% concordou ou concordou totalmente com a afirmação  (37,4% concordou e 42,2% concordou totalmente). Quis ainda saber qual a perceção que os cuidadores informais tinham sobre a sua saúde: 56,9% indicaram que está no nível razoável e 51,3% assumiam o mesmo nível (razoável) para classificar o seu estado de saúde mental. Apenas 2,7% no caso da perceção de saúde geral e 4,7% na de saúde mental reportou um nível muito bom.

A segunda parte do estudo analisou a associação entre o nível de literacia em saúde dos cuidadores informais portugueses e a sobrecarga dos cuidados, bem como a sua qualidade de vida. Percebeu-se que a literacia em saúde desta população está diretamente relacionada com a sua qualidade vida, sendo esta correlação estatisticamente significativa, ou seja, quanto maior o nível de literacia em saúde, melhor a qualidade de vida. Conclui ainda que a literacia em saúde está inversamente relacionada com a sobrecarga do cuidador informal: quanto maior o nível de literacia em saúde, menor a sobrecarga do cuidador.

Outra conclusão a destacar, e que foi também uma tendência em edições anteriores do Saúde que Conta, tem a ver com as vulnerabilidades sociais e com o facto da literacia em saúde dos cuidadores informais ser maior nos indivíduos com níveis mais elevados de escolaridade. Cenário idêntico foi identificado junto das pessoas detentoras de um rendimento superior.

Os cuidadores que têm níveis mais elevados de literacia em saúde são também os que assumem ter um melhor estado de saúde. Paralelamente, e tendo em conta o grau de apoio que recebem para as funções que desempenham como cuidadores informais, os indivíduos que indicam ter menos apoio, são os que apresentam um menor nível de literacia em saúde.

Em relação ao acesso a cuidados de saúde e a informação sobre a função de cuidador informal, os dados apurados mostram que quem afirma ter acesso aos cuidados de saúde e à informação ao nível de “Bom/Excelente” e “Intermédio” são os detentores de uma maior qualidade de vida quando comparados aos que classificam o mesmo como “Muito mau/Mau”. Por outro lado, a sobrecarga dos cuidadores informais que declaram ter um acesso à informação de “Bom/Excelente” e “Intermédio” é menor, quando comparada com quem classifica este acesso como “Intermédio” e Muito mau/ Mau.

«Pela análise dos dados conseguimos perceber que quanto maior é o acesso do cuidador informal à informação e melhor é o seu nível de literacia em saúde melhor, melhor é a sua qualidade de vida, refletindo-se também numa diminuição da sobrecarga nos cuidados da pessoa cuidada. A sobrecarga e a diminuição da qualidade de vida do cuidador podem comprometer a continuidade e qualidade dos cuidados prestados, o que faz aumentar a preocupação com o acompanhamento e com o apoio prestado aos (e pelos) cuidadores informais. Como podemos constatar pela análise dos dados, existe uma subutilização das respostas criadas para apoio a esta população e um grande número de necessidades não satisfeitas. Este foi o mote para que, nesta 8ª edição do Saúde que Conta, seja promovido um debate aprofundado sobre a importância da literacia em saúde dos cuidadores informais em Portugal», afirma Ana Rita Pedro, investigadora da ENSP-NOVA e coordenadora do estudo.

No estudo são ainda evidenciadas recomendações de estratégias de atuação para melhorar a literacia em saúde dos cuidadores informais, com vista à melhoria da sua qualidade de vida e diminuição da sobrecarga, bem como promover um melhor acesso à informação.

 

Nota metodológica

Os dados foram recolhidos por questionário online entre novembro de 2022 e fevereiro de 2023. A amostra do estudo é constituída por 790 respostas válidas (92,5% do género feminino e 7,5% do género masculino), com uma abrangência nacional. Só foram incluídos no estudo indivíduos que cuidem de forma regular/frequente e/ou apoiem alguém nas suas atividades diárias devido a doença física ou mental, incapacidade/invalidez ou idade avançada e que não recebam qualquer tipo de remuneração pelos cuidados prestados (excetuando o apoio monetário do estatuto de cuidador informal).

Este estudo conta com a Coordenação da Profª. Dra. Ana Escoval e da Dra. Ana Rita Pedro, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa.