Os doentes com artrite reumatoide apresentam elevado risco de doenças cardiovasculares, como enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral. Saiba porquê.

Artigo da responsabilidade do Dr. Pedro Rio. Cardiologista no Hospital CUF Descobertas

 

A artrite reumatoide é uma doença reumática crónica e sistémica, que se caracteriza pela inflamação e lesão da cartilagem, provocando a destruição e a deformação das articulações. Apresenta uma prevalência de 0,5 a 1% da população mundial, atingindo cerca de 70 mil portugueses, e é 2 a 4 vezes mais comum em mulheres do que em homens. O pico de incidência é entre os 30 e os 50 anos, mas pessoas de todas as idades podem desenvolver a doença. Trata-se de uma doença autoimune, o que significa que as defesas do organismo atacam os seus próprios tecidos. A causa da artrite reumatoide ainda é desconhecida, no entanto, os estudos têm demonstrado uma predisposição genética associada a fatores ambientais.

AUMENTO DO RISCO CARDIOVASCULAR

O quadro clínico típico da artrite reumatoide inclui dor, edema (retenção de líquidos) e rigidez articular predominantemente matinal, de longa duração, que melhora com a atividade física. A doença tem, por isso, um grave impacto na funcionalidade e na qualidade de vida dos doentes.

Os doentes com artrite reumatoide apresentam elevado risco de doenças cardiovasculares, como enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Este aumento do risco cardiovascular pode ser explicado quer pela própria doença, devido à inflamação sistémica e desregulação do sistema imune, que contribuem para o desenvolvimento de aterosclerose, mais precocemente e com maior gravidade; quer pelos medicamentos utilizados no seu tratamento. O estado de inflamação vascular crónico, com o aumento de substâncias inflamatórias em circulação e a presença de anticorpos, pode promover a instabilidade da placa aterosclerótica, aumentando o risco de rutura e de consequentes doenças cardiovasculares.

PRINCIPAL CAUSA DE MORTE

Nos doentes com artrite reumatoide existe, ainda, um maior risco de insuficiência cardíaca, que, à semelhança do que acontece nos casos de aterosclerose, pode manifestar-se de uma forma mais grave, em comparação com a população geral.

As doenças cardiovasculares constituem, assim, a principal causa de morte destes doentes. A taxa de mortalidade associada a estas patologias, nas pessoas com artrite reumatoide, é superior à da população geral, ao passo que a sua esperança média de vida é cerca de 3 a 10 anos mais baixa.

Para além do maior risco cardíaco global, os fatores de risco cardiovasculares clássicos, como a hipertensão arterial, a obesidade, alterações dos níveis de colesterol, o tabagismo, o sedentarismo e a diabetes, são também mais prevalentes nos doentes que sofrem de artrite reumatoide.

Contudo, há alguns paradoxos: por exemplo, nota-se que quanto maior, mais grave e mais duradoura é a inflamação provocada pela doença, menor tenderá a ser o peso do doente e menor será o colesterol “mau” (colesterol LDL). Ainda assim, mesmo nestes casos, o risco de sofrer um enfarte agudo do miocárdio não diminui, pelo que a avaliação do risco cardiovascular é sempre fundamental.

Leia o artigo completo na edição de setembro 2023 (nº 341)