Sabe até que ponto o seu desejo de atingir a perfeição corporal interfere na sua vida sexual?
A perfeição corporal nem sempre foi o elemento fulcral nas relações entre homens e mulheres. Na época medieval, o objeto amoroso era algo mais espiritual e inatingível: a mulher era vista quase como uma deusa, cujo poder ofuscava de uma maneira tal que tornava impossível qualquer tipo de aproximação física. O Romantismo foi marcado pela sobrevalorização das emoções pessoais, em que o único interesse era o interior humano, o subjetivismo.
Mas, à medida que a busca dos valores pessoais se intensificou, assim aumentou o culto da imagem e, por conseguinte, a banalização do sexo. Certos psicólogos defendem que vivemos numa época de prontidão afetiva: no tempo do amor romântico, as pessoas sacrificavam a própria vida por amor; hoje, ninguém sacrifica a sua beleza e a sua liberdade sexual.
COMPARAÇÃO DESLEAL
Na rua, na televisão, nas revistas, para qualquer lado que olhemos, somos invadidos por publicidade onde a sensualidade é representada por mulheres altas, elegantes, perfeitas, ou homens esculturalmente musculados, como se dissessem que “quem não tem um aspeto semelhante não consegue vingar neste mundo”. Para muitos, é agradável ao olhar e favorável às fantasias observar, demoradamente, essas divas e esses semi-deuses. Mas para muitos outros, não é bem assim: esta comparação, constante e incisiva, é a grande causadora da insegurança da maioria das pessoas, no que diz respeito à sua vida sexual.
A imagem que temos do nosso corpo é uma mera representação daquilo que sentimos em relação a nós. Tanto pela nossa relação connosco próprios, como pela relação com os que nos rodeiam. A imagem corporal relaciona-se com as relações intra e interpessoais, com as emoções e sentimentos do indivíduo consigo, com os outros e com o seu ambiente.
A luta constante pelo corpo perfeito faz com que, principalmente, as mulheres quedem angustiadas, inseguras, com medo dos olhares de censura e, consequentemente, com receio de se entregarem ao parceiro a cem por cento.
As pessoas querem amar, mas não conseguem, pois são infelizes com a sua imagem corporal. Não é que elas não saibam amar ou sejam afetivamente pobres; o problema é que elas acreditam que estão fora do padrão de beleza da cultura da sensação. Resultado: epidemia de depressões!
CONSTRUÇÃO DA IMAGEM CORPORAL
Uma das razões que explica a influência da imagem que temos do nosso corpo na vida sexual é o funcionamento da nossa libido narcisista. Segundo o neurologista Paul Schilder – autor de diversos estudos sobre a temática –, essa libido narcisista entra em contacto com as diferentes partes do corpo. Ou seja, quando sentimos um desejo crescente sentimo-lo em determinado ponto do corpo (zona erógena particular que pertence ao suposto desejo).
As mudanças a que estamos constantemente sujeitos são influenciadas pelos fatores sociais, libidinais e fisiológicos. À medida que somos tocados pelos mais variados tipos de experiências, assim muda a perceção que temos da nossa imagem corporal. Schilder afirma que é muito importante “o reflexo do mundo e da vida no corpo do indivíduo. Em toda ação, agimos não apenas como personalidades, mas também com os nossos corpos. O nosso corpo e, com ele, a nossa imagem corporal fazem parte de qualquer experiência vital”.
Antes de olhar para o seu corpo e fazer uma avaliação, tenha em conta o quanto as suas emoções e ligações com o mundo moldam a imagem que retira do espelho.
Leia o artigo completo na edição de junho 2019 (nº 295)