O prazer sexual é uma experiência complexa que vai além do orgasmo e a confiança e a segurança são essenciais para uma boa vivência sexual. A idade e a duração dos relacionamentos não são fatores relevantes, ou seja, ser mais ou menos jovem ou ter um relacionamento mais ou menos duradouro não estão associados ao prazer sexual sentido. A insatisfação com a imagem corporal, contudo, tem impacto na vivência prazerosa da vida sexual dos mais jovens, uma tendência que parece estar menos presente noutras idades. Estas são algumas das principais conclusões do estudo sobre o prazer sexual, cujos resultados preliminares foram divulgados no passado dia 8 de março, no evento de encerramento da exposição Amor Veneris – Viagem ao Prazer Sexual Feminino, que esteve patente no Palácio Anjos, em Algés (Oeiras) desde junho de 2022.
Os resultados referem-se a dados recolhidos até 23 de fevereiro e, até então, responderam ao questionário completo 1.624 pessoas entre os 17 e os 83 anos, sendo a idade média de quem participou de 40 anos. A maioria identifica-se como mulher (63%) e como heterossexual (78%) e cerca de 63% estão em relações monogâmicas, apesar de haver quem assuma relações extraconjugais e relacionamento não monogâmicos consensuais.
“A amostra deste estudo é constituída por pessoas que sentem muito prazer com a sua sexualidade e, por isso, é essencial que se interpretem estes dados à luz deste dado”, sublinha Patrícia M. Pascoal, investigadora principal da investigação e diretora do mestrado Transdisciplinar de Sexologia da Universidade Lusófona.
Entre as pessoas que participaram, 17% diz sentir que tem um problema sexual. Destas, 56% refere não ter acompanhamento clínico, mas que gostaria de ter. Questões financeiras, atribuição do problema a outra pessoa e falta de fé na eficácia destas intervenções são alguns dos motivos apontados para não procurarem acompanhamento.
No que toca à atividade sexual, a maioria das pessoas diz masturbar-se (65%) e 48% refere ter atividade sexual semanalmente, mas globalmente a masturbação é considerada uma fonte de prazer menos intensa do que a atividade sexual com outros/as. Um aspeto relativamente à masturbação indicado por quem participou é o papel importante que este ato tem enquanto indutor de relaxamento. No entanto, algumas pessoas vivem a masturbação como um momento de frustração e tristeza, seja porque simboliza a insatisfação na vida sexual, seja porque necessitam de recorrer à imaginação ou à pornografia, algo que fazem com culpabilidade.
Quanto aos comportamentos sexuais, cerca de 90% das pessoas tenta novas posições sexuais com alguma regularidade e à volta de 80% disse que assista a pornografia a sós com alguma regularidade. Cerca de 65% revelou usar um brinquedo sexual com alguma regularidade e a mesma percentagem adiantou fazer sexting com consentimento. Ronda os 25% o número de pessoas que faz sexo sado-maso ou fetichista com alguma regularidade e à volta de 21% pratica cibersexo.
Para as pessoas que responderam ao inquérito, o prazer sexual está muito associado à proximidade sentida com outro/a e à satisfação com a relação. A comunicação explícita acerca do que se gosta ou não sexualmente, o nível de proximidade, a iniciativa e a prática de sexo oral também estão relacionados ao prazer sexual.
A duração do relacionamento, contudo, não está relacionada com o prazer sexual, ou seja, não é a longevidade ou a novidade da relação que está associada ao prazer sexual, mas sim a qualidade relacional e a proximidade que se sente.
Apesar de a maioria das pessoas dizer que está satisfeita com o seu corpo, nas camadas mais jovens (até aos 34 anos) há uma maior associação entre a falta de prazer sexual e a insatisfação com imagem corporal do que parece haver noutras faixas etárias. Estes resultados, de acordo com os investigadores, podem estar associados quer à idade em si, uma vez que em diferentes fases do percurso de vida a imagem pode pesar menos na apreciação e estima globais, quer ao contexto cultural, já que as pessoas mais velhas estiveram menos expostas à divulgação e apreciação massiva e regular da sua imagem em diferentes plataformas.
Esta investigação, que foi desenvolvida por Patrícia M. Pascoal, diretora do mestrado Transdisciplinar de Sexologia da Universidade Lusófona, com a colaboração de Marta Crawford, fundadora do MUSEX – Museu Pedagógico do Sexo, e de Tiago Sigorelho, presidente da Associação Gerador, resulta de uma parceria do MUSEX com o mestrado Transdisciplinar de Sexologia da Universidade Lusófona, a Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (SPSC) e a Associação Gerador.