As hemorroidas ainda hoje são um dos tabus da sociedade moderna, um dos assuntos que ninguém gosta de falar.
Artigo da responsabilidade do Dr. David Aparício. Cirurgião Geral. CUF Descobertas; Unidade Local Saúde Santa Maria. Assistente Cirurgia Faculdade de Medicina de Lisboa
Os sintomas da doença hemorroidária são muito comuns, nomeadamente: queixas de hemorragias de sangue vivo quando vão defecar; tumefacção/massa/ “bolinha” na região do ânus (dolorosa ou indolor); vontade de eliminar fezes, mas quando chegam à casa de banho não conseguem fazer nada; ou prurido (comichão) no ânus. Nestas situações, é importante recorrer a ajuda especializada — diga-se, médico especialista nesta patologia — que poderá ser um médico de família, um proctologista (médico de gastroenterologia ou cirurgião geral). Este terá de observar clinicamente o doente, dado o diagnóstico de hemorroidas ser clínico e baseado no exame objetivo.
Desta minha observação, depreende-se que a pessoa não consegue fazer o seu próprio diagnóstico. O mesmo é vital, porque sem o diagnóstico correto não se consegue fazer o tratamento adequado. Sem realizar o tratamento adequado, não se pode “culpar” os medicamentos por não terem sido eficazes. Quanto mais tempo demorar a fazer-se o diagnóstico e a realizar o tratamento adequado, mais grave poderá tornar-se a situação.
Infelizmente, e apesar destas afirmações parecerem triviais e impossíveis de acontecer, é extremamente frequente o seu acontecimento. O melhor conselho que posso dar é: se tem algum destes sintomas, não espere — procure ajuda!
Não desprezando o tratamento, a estratégia mais eficaz está na prevenção. Ter hábitos de vida adequados e saudáveis, com consumo de água suficiente, alimentação rica em fibras, legumes e frutas, prática de exercício regular e, acima de tudo, ir à sanita apenas quando se tem vontade, fazer e sair rapidamente. Nas grávidas, um dos principais fatores de risco documentados é a mulher passar mais de 15 minutos sentada na sanita. Dessa forma, é proibitiva a presença de revistas, tablets, computadores, etc., na casa de banho.
Não obstante a prevenção, em certas situações é necessário realizar tratamentos instrumentais (no consultório) e/ou cirúrgicos. Dentro destes, existem dezenas, pelo que o médico procurará o melhor tratamento para si. Não tenha medo deles — mesmo que o médico lhe diga que podem ser dolorosos e, existem alguns, cujo pós-tratamento é incómodo e aborrecido. Se o médico lhe recomenda os mesmos, é porque acredita que são o melhor para si e, desta forma, a médio/longo prazo estará a aumentar a sua qualidade de vida.
Infelizmente, doentes que fogem “com o rabo ao tratamento e não à seringa” estão a piorar a sua qualidade de vida e, como disse anteriormente, provavelmente a agravar a sua situação.
Finalmente, uma nota: se é mulher, teve hemorroidas durante a gravidez e pensa ter um novo filho, faça um rastreio especializado antes de engravidar. É do senso comum fazer, antes de nova gravidez, um rastreio aos dentes para resolver os problemas existentes. Na doença hemorroidária, acontece o mesmo — deveriam ser resolvidos os problemas antes de nova gravidez, dado que, durante esta, existe um risco elevado de agravamento e menos possibilidades de tratamento quando a mulher está, felizmente, grávida.
Em jeito de mensagem final: se tem dúvidas, procure a ajuda certa — não tenha medo, receio ou vergonha. Nenhum médico julga. Afinal, estamos aqui para ajudar e, apesar de o seu problema ser extremamente importante para si, para o seu médico, é apenas mais um doente com uma doença comum.
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