Dra. Filipa Santos

As Clínicas IVI, especialistas em Medicina Reprodutiva, acabam de lançar um Guia Prático para Famílias Monoparentais para “apoiar as mulheres que têm o sonho de serem mães, esclarecer algumas das suas maiores inquietações e para lhes dar a segurança e o suporte de que necessitam para seguir em frente”, revela a Dra. Filipa Santos, psicóloga da IVI Lisboa.

 

Descarregue AQUI o Guia Prático para as Famílias Monoparentais

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Embora exista hoje uma maior diversidade de famílias, as mulheres ainda sentem algum estigma em relação à maternidade independente. “Continuam a ser comuns sentimentos de culpa ou egoísmo, alguns medos associados à decisão de ter um filho sem pai. Para algumas mulheres esta decisão implica renunciar a um modelo de família idealizado no passado. É importante que partilhem esta decisão com as pessoas que lhes estão mais próximas e que tenham algum suporte”, explica a Dra. Filipa Santos.

O lançamento do Guia Prático é um dos complementos da consulta de psicologia, onde é explorada e apoiada a tomada de decisão da maternidade independente, para que a gravidez possa ser vivida de forma serena, confiante e segura. “Apesar de chegarem até nós com a decisão tomada e de terem toda uma equipa de suporte para esclarecer todas as dúvidas e receios, sentimos que era necessário ir mais além. Daí a ideia de criar um guia”, afirma a psicóloga.

Decidir ter um filho no contexto de um projeto de maternidade independente é uma decisão que implica liberdade, coragem, mas muitas vezes, esta decisão também pode estar associada a alguns medos. “A diferença é que estas mulheres que se sentem livres para escolher, também têm medos, mas escolhem desafiá-los”, sublinha.

Em Portugal, a alteração à lei da Procriação Medicamente Assistida, em 2017, permitiu o acesso de mulheres sem companheiro aos tratamentos de reprodução. A partir dessa altura, começaram a surgir em Portugal famílias monoparentais desde a sua origem. É possível ser mãe recorrendo a uma inseminação artificial ou fecundação in vitro (FIV) com sémen de dadores, mas também se podem utilizar os óvulos de uma dadora se for necessário, ou recorrer à doação de embriões. Todas estas opções ajudam a mulher a conseguir realizar o sonho de ter um filho.

De acordo com a Dra. Filipa Santos, as mulheres que optam pelos tratamentos de procriação medicamente assistida, em vez da adoção, por exemplo, “fundamentam a sua decisão sobretudo pelo desejo de viver o lado biológico da maternidade, isto é, a gravidez, o parto e a parentalidade desde o primeiro momento”. Acrescenta que os estudos publicados a respeito referem que no processo de tomada de decisão influem vários fatores como a estabilidade laboral e a estabilidade financeira, um desejo prévio de maternidade cuja satisfação se tenha adiado, a não existência de um companheiro com quem partilhar a maternidade e a consciência de existir uma idade limite para ser mãe.

Ultrapassar comentários desagradáveis

Um dos maiores receios das mulheres que optam pela maternidade independente está relacionado com a comunicação da decisão   à família. “Aconselhamos que a comunicação seja feita de uma forma explicita e aberta. Estas pessoas fazem parte da esfera mais íntima e os comentários que poderão fazer, à partida não serão mal-intencionados, por vezes os outros também têm o seu caminho a fazer”, refere a Dra. Filipa Santos.

Outro momento que causa inquietação prende-se com a forma e o momento de falar com a criança. “É natural questionar-se quando e como é que se deve começar a falar sobre o assunto. O momento é escolhido por cada mãe. Há mães que desde a gravidez ou quando trocam fraldas aos seus bebés lhes começam a contar a forma como vieram ao mundo. O como, é bem fácil: sempre a partir do amor, do carinho e da ternura que um filho desperta numa mãe”. Para a psicóloga, a melhor solução “é lidar com o tema com normalidade e transmitir desde o princípio que o desejo sempre foi que ele estivesse na vida da mãe”.

A história de Neuza: Sorrisos superam ansiedades e cansaço

Neuza Soares tem 41 anos e é uma das muitas mulheres que optou pela maternidade independente. A filha tem hoje 14 meses e é fruto de um sonho tornado realidade. “Tinha algum receio de como a família iria reagir, mas estiveram comigo a 100% desde o início e são o meu pilar. Por mais que consigamos dar conta de criar o nosso filho sozinhas por vezes precisamos do apoio de alguém”, revela esta mãe.

Embora admita que nem sempre é fácil encontrar tempo para tudo, apesar do apoio familiar, encontra forças para vencer o cansaço “em cada sorriso e em cada passo que dá, em cada nova conquista”. Conta ainda que mesmo as pessoas mais velhas a quem vai revelando como a sua família foi criada têm reagido de forma muito positiva.

“O caminho pode ser difícil, com obstáculos e a ansiedade por vezes toma conta de nós, mas quando vemos o nosso sonho realizado é um sentimento inexplicável. Não há no mundo amor como aquele que sentimos pelo nosso filho. Não desistam do vosso sonho”, remata Neuza Soares.