Não há gravidezes isentas de risco, mas há uns anos, certas doenças maternas tornavam quase impossível o êxito da gestação. Hoje, graças aos avanços da medicina, a grande maioria das chamadas gestações de risco tem um final feliz.
Doenças maternas – como asma, diabetes, hipertensão ou cardiopatias –, gravidez gemelar, idade avançada, complicações em gestações anteriores, etc., são circunstâncias que, salvo nos casos extremos, já não colocam a gravidez em risco, desde que se minimizem os seus efeitos no decurso da gestação. Atualmente, graças aos avanços da Medicina, é possível ser mãe apesar dessas perturbações, contando que a vigilância seja rigorosa e se inicie o mais cedo possível. Muito especialmente no caso das doenças crónicas, o aconselhamento médico deve começar logo que o casal decide embarcar nesta aventura.
GRAVIDEZ GEMELAR
Se espera gémeos, notará mais cedo os sintomas da gravidez: as náuseas, os enjoos e as idas frequentes à casa de banho, características dos primeiros meses, são ainda mais intensos, devido ao facto de circular no sangue uma maior quantidade da hormona gonadotropina coriónica.
Nos meses seguintes, deverá ter alguns cuidados extras: aumenta a probabilidade de se produzirem contrações no 5º ou 6º mês, pelo que deverá baixar o ritmo de vida e descansar mais. A dieta é uma parte importante desses cuidados. Uma grávida de gémeos necessita de ingerir diariamente mais 300 calorias do que antes da gravidez.
As probabilidades de surgirem complicações são maiores, quando se espera mais do que um bebé. Por esta razão, a sua gravidez classificar-se-á como “de risco” e os controlos serão mais exaustivos. Por exemplo: a consultas serão mais frequentes – de 15 em 15 dias, em vez de uma vez por mês –, sobretudo a partir do 6º mês; e quando completar a 32ª semana, irá semanalmente, para efetuar um registo cardiotocográfico.
Lembre-se que, embora esteja longe de acontecer sempre, os riscos de aborto, de atraso no crescimento fetal e de parto prematuro são mais frequentes do que nas gravidezes comuns. Porém, todos estes riscos são fáceis de detetar e de tratar, com um controlo adequado.
O terceiro trimestre, difícil em qualquer gravidez, vai ser especialmente fatigante. O médico recomendar-lhe-á que repouse uma a duas horas depois das refeições, deitada sobre o lado esquerdo: deste modo, previne-se a aparição de edemas, problemas circulatórios e contrações demasiado precoces.
É muito importante que permaneça tranquila, pois o objetivo é tentar que o parto tenha lugar o mais próximo possível da 40ª semana. Embora numa percentagem elevada de casos, seja preciso realizar uma cesariana, é possível que os bebés nasçam por via vaginal. O período de expulsão será um pouco mais longo, mas não mais difícil: como cada um pesará menos, não será tão difícil atravessar o canal de parto.
DIABETES
A gravidez é uma situação crítica relativamente à utilização da glucose: as exigências energéticas elevam-se, para conseguir atender às necessidades do feto e manter o aumento de peso. A prolactina, os estrogénios, a progesterona e outras hormonas segregadas em maior quantidade, durante estes meses, são diabetogenas, isto é, permitem, através de diversos mecanismos, que haja mais glucose a circular no sangue materno, como fim de que exista sempre uma quantidade suficiente para ser utilizada pelo feto, cujas necessidades são muito elevadas. Para que os níveis de glucose no sangue não disparem, o organismo necessita de segregar maior quantidade de insulina, a hormona encarregue de manter essa glucose controlada. Nem todas as grávidas conseguem compensar esta situação de forma adequada: se a secreção de insulina for insuficiente, a glicemia dispara, com o consequente risco de complicações.
Se a mulher já era diabética antes da gravidez, o controlo da glicemia deverá ser muito rigoroso, mas contrariamente ao que sucedia há uns anos, na maioria dos casos, tudo decorrerá com normalidade.
A incidência da diabetes gestacional situa-se, atualmente, segundo diversos trabalhos, à volta dos 10 a 16% das gravidezes e, entre os principais fatores de risco, destacam-se, por esta ordem, a idade superior a 35 anos, o excesso de peso e os antecedentes familiares de diabetes.
A diabetes mal controlada durante a gravidez conduz a um maior risco de hipertensão arterial, excesso de líquido amniótico, infeções maternas – sobretudo as que afetam o trato urinário –, aborto, sofrimento fetal ou crescimento excessivo deste, bem como a uma maior frequência de complicações a longo prazo, tanto na mulher – que terá maiores probabilidades de ser diabética no futuro – como na criança.
Para evitar estas complicações, o seguimento por parte do obstetra será mais frequente e totalmente individualizado. O especialista estabelecerá uma dieta especial, que a grávida deverá seguir à letra, e recomendará a prática moderada de exercício físico – que facilita a utilização da glucose –, evitando sempre o cansaço.
Se estas medidas não forem suficientes para controlar a glicemia, recorre-se à insulina.
Uma vez que a grávida estará vigiada, o parto será imediatamente induzido assim que se detete o mínimo sofrimento fetal. O bebé permanecerá em observação após o nascimento, pois é necessário ter a certeza de que se encontra em perfeito estado de saúde.
Leia o artigo completo na edição de novembro 2016 (nº 266)