A fisioterapia pélvica é o processo que pode ser dirigido à mulher ou ao homem, que se faz com o acompanhamento de uma fisioterapeuta especializada em disfunção do pavimento pélvico. Neste artigo, irei focar-me na fisioterapia pélvica dirigida à mulher.

Artigo da responsabilidade de Inês Cancela de Abreu, fisioterapeuta na Power Clinic

 

Quando falamos de saúde pélvica, falamos de tudo o que está relacionado com a bexiga (uretra, micção…), a vagina/útero (relações sexuais/prazer, pré-conceção, gravidez, parto, pós-parto, menstruação, menopausa…) e o intestino (evacuação, gases…).

Falamos também da força, mobilidade e coordenação dos músculos do pavimento pélvico e de todos os músculos que trabalham com eles para que haja continência de urina, fezes e gases. Não esquecendo ainda a dinâmica abdominal, lombar e respiratória, bem como a componente musculoesquelética associada.

Na fisioterapia pélvica, que é feita através de tratamentos em gabinete, podem ser usados vários recursos, durante a sessão e como “trabalhos para casa”, para que a mulher desenvolva a sua saúde pélvica e íntima.

ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO

Durante as sessões, sempre em acordo com a mulher que acompanhamos, recorremos a estratégias como:

  • Aumento da consciência do corpo e das suas capacidades;
  • Educação acerca de como o corpo funciona e que comportamentos seriam mais benéficos para a bexiga, vagina/útero, intestino e pavimento pélvico;
  • Ajuda na mudança de hábitos, pois o que realizamos diariamente de forma regular é o que mais impacto vai ter na situação;
  • Técnicas de respiração e relaxamento;
  • Terapia manual com toque interno e terapia manual externa, que utiliza técnicas miofasciais, mobilização tecidular, neural, ligamentar e articular;
  • Ativação e treino do pavimento pélvico;
  • Utilização de aparatologia eletrónica, como complemento às outras técnicas;
  • Gestão da pressão intra-abdominal e movimento/exercício supervisionado;
  • Trabalho multidisciplinar.

Na avaliação inicial, averiguamos quais os fatores que estão a provocar/condicionar a disfunção e é com base nessa avaliação que se define o plano de intervenção.

O objetivo final é conseguir saltar, correr, fazer exercício e tossir ou espirrar sem perdas de urina, viver sem dor, ter prazer e usufruir do corpo e zona pélvica e abdominal sem sintomas.

QUAIS OS MOMENTOS EM QUE É MAIS COMUM RECORRER À FISIOTERAPIA PÉLVICA?

Tipicamente na gravidez, após o primeiro trimestre, depois da ecografia das 12 semanas. Quer seja para empoderamento e autoconhecimento, quer porque existem sintomas ou queixas.

Muitas mulheres recorrem à fisioterapia pélvica no pós-parto, 4 a 6 semanas após parto vaginal e 6 a 8 semanas após parto por cesariana. Neste momento, a logística familiar é bastante intensa e é comum que a prioridade se concentre no novo bebé. É fundamental que a mulher venha ao tratamento quando se sentir realmente preparada para isso. O tratamento deve ser um elemento estabilizador e não uma fonte adicional de stress na rotina familiar. Por outro lado, dedicar tempo para cuidar de si, aliviando possíveis dores ou outros sintomas, certamente contribuirá para um maior equilíbrio de toda a família.

A fisioterapia tem também um papel significativo no climatério e na menopausa, tanto na gestão de sintomas já existentes, como na prevenção e na melhoria da qualidade de vida em geral. É uma fase de grandes mudanças fisiológicas com impacto na saúde pélvica. A perda de urina ao fazer esforço (incontinência urinária de esforço), a vontade imperiosa em urinar (urgência urinária), os sintomas que advêm do prolapso de órgãos como a bexiga, o útero ou o reto, a dor na relação sexual, a incontinência fecal ou a obstipação fazem parte da sintomatologia mais comum, para a qual a fisioterapia pélvica tem uma resposta.

Na verdade, qualquer altura é boa para começar! A fisioterapia pélvica permite aumentar o conhecimento de si própria e terá sempre algo a acrescentar, ensinar ou ajudar, com ou sem sintomas.

Leia o artigo completo na edição de dezembro 2024 (nº 355)