Os jovens estão a salvo das doenças cardiovasculares? O risco é sempre mais baixo? A resposta é: não! Doenças genéticas, história familiar e vários outros fatores de risco obrigam à prevenção das doenças cardiovasculares, qualquer que seja a idade.

 

Artigo da responsabilidade da Profª. Ana Abreu. Serviço de Cardiologia, Hospital Universitário de Santa Maria/Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), Centro Académico de Medicina de Lisboa (CAML), Centro Cardiovascular da Universidade de Lisboa (CCUL), Instituto Medicina Preventiva e Saúde Pública (IMPSP), Instituto de Saúde Ambiental (ISAMB), Instituto de Medicina Nuclear (IMN), Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL)

 

O chamado risco cardiovascular não é mais que uma probabilidade de ocorrência de complicações cardíacas, como enfarte do miocárdio, arritmia ou morte. Esta probabilidade relaciona-se com vários aspetos, chamados fatores de risco CV (como diabetes, excesso de colesterol, hipertensão arterial, obesidade, tabagismo, sedentarismo), e aumenta com a idade, sendo superior no sexo masculino, até à idade da menopausa.

Ao contrário, são fatores de saúde CV um colesterol e um açúcar no sangue (glicemia) normais, uma pressão arterial e um peso normais, um perímetro abdominal normal, não fumar ou beber álcool, ter uma alimentação saudável, fazer exercício e interromper frequentemente períodos de inatividade física.

E nos mais jovens? O risco é sempre mais baixo?

Não. Existem doenças genéticas, presentes à nascença, como a diabetes juvenil (tipo 1) e a hipercolesterolemia familiar, consideradas de alto risco CV, e devido às quais é possível a ocorrência de enfarte ou morte em idades jovens.

Existe ainda a situação da chamada história familiar. Aqueles jovens cujos pais ou irmãos tiveram complicações cardíacas antes dos 65 anos têm um risco CV aumentado.

Doenças inflamatórias no intestino, como a doença de Crohn, nas articulações, como LED e artrite reumatoide, a doença renal grave, a depressão e algumas viroses, como a covid-19, podem associar-se a doença CV.

Também drogas, como cocaína, e alguns fármacos, podem associar-se a enfarte do miocárdio.

A obesidade central (aquela em que o perímetro abdominal traduz um tipo de gordura na zona da barriga à volta dos órgãos aí localizados) é a mais perigosa, muito relacionada não só com uma alimentação excessiva, rica em açucares e gorduras animais, acompanhada de ingestão de álcool, como também com grande inatividade física.

O que se deve fazer para evitar ou minimizar a DCV nos jovens?

Existindo alguma das doenças acima enumeradas, é necessário tratar essas doenças. Nestes casos e naqueles em que estas doenças não estão presentes, é fundamental controlar ou abolir os outros fatores de risco CV.

A alimentação desde a infância (e até antes do nascimento, a alimentação da mãe) deve ser saudável, com alimentos frescos, não processados, reduzindo gorduras animais e açúcares e aumentando a ingestão de vegetais, frutas, peixe, carnes magras, gorduras vegetais.

Assim como a atividade física, com exercício diário, cumprindo as normas preconizadas pela OMS: idealmente 300 minutos por semana de exercício aeróbio (caminhar, correr, nadar) e algum exercício de força, 3 vezes por semana (pode-se caminhar com pequenos pesos nas mãos fazendo exercício com os braços). A atividade física pode ser quantificada através de pedómetros e acelerómetros). Interromper o tempo de sedentarismo, para além do aumento de atividade física, é importante.

No computador ou em frente da televisão, é aconselhável de hora a hora, ou pelo menos de 2 em 2 horas, levantar e andar, desenvolvendo qualquer atividade durante alguns minutos (5-10 minutos).

Devem dormir bem e reduzir situações de stress. Não fumar, nem cigarros eletrónicos, evitar bebidas alcoólicas e não ingerir drogas ou anabolizantes (“suplementos para aumentar a massa muscular”). O café, um a dois por dia, não tem problema. Uma vida saudável tem de ser uma vida agradável, com períodos de lazer e convívio.

Programar o dia, de forma a não estar sempre a correr e atrasado para os compromissos é importante. Não trabalhar horas a mais de seguida.

É importante fornecer informação sobre o que é considerado normal, como o valor de colesterol, pressão arterial, açúcar no sangue (glicemia). Quanto mais cedo o indivíduo for avaliado para saber se tem fatores de risco, mais depressa os poderá controlar adequadamente para diminuir o risco. A escola, desde muito cedo, tem um papel fundamental, assim como os media.

O que é a prevenção CV?

A prevenção CV consiste exatamente neste conjunto de medidas que vai reduzir em muito o risco CV. Deve começar antes do nascimento e continuar até à morte. Nunca se é velho de mais para fazer prevenção CV: não apenas se evita enfarte e morte, mas também a incapacidade. A qualidade de vida passa por aqui também.

 

Medidas de boa prática para a Saúde Cardiovascular 

  • Comer em quantidade moderada, dividida em várias refeições
  • Beber água em vez de refrigerantes, sumos ou bebidas alcoólicas
  • Reduzir o sal
  • Reduzir gorduras animais e açúcares, e se possível fazer alimentação tipo Dieta Mediterrânica
  • Movimentar com frequência e com períodos de exercício mais prolongado, interrompendo com frequência os tempos de inatividade física
  • Dormir bem, cerca de 8 horas por noite
  • Não fumar nada
  • Controlar o peso
  • Ter conhecimento do que são fatores de Saúde CV
  • Autovigiar pressão arterial, pulso e análises
  • Tratar desde cedo qualquer doença
  • Aprender a evitar e a controlar o stress

Se cuidarmos bem do nosso coração, ele poderá continuar jovem por muito tempo! Informe-se em www.spc.pt ou www.dgs.pt.