Quando o volume e a intensidade do treino excedem a capacidade fisiológica e psicológica de recuperação, instala-se a condição de overtraining. O presente artigo pretende explicar os mecanismos envolvidos, alertar para os sinais e sintomas e propor estratégias de prevenção.

Artigo da responsabilidade da Profª Ana Ricardo. Mestre em Exercício e Saúde FMH. Personal Trainer e Group Trainer do Holmes Place Tejo

Com a colaboração especial da Dra Tayrine Filgueira. Personal Trainer com doutoramento em Biologia Aplicada à Saúde

O treino físico sistemático desempenha um papel central na otimização do desempenho atlético, na promoção da saúde física e mental e no aprimoramento do bem-estar geral da população em todas as idades.

Contudo, quando o volume e a intensidade do treino excedem a capacidade fisiológica e psicológica de recuperação, instala-se a condição de overtraining. Este fenómeno caracteriza-se por um descompasso entre os estímulos induzidos pelo treino e o descanso necessário para a regeneração completa dos sistemas orgânicos e neurológicos.

A exposição contínua a uma carga excessiva de treino (frequência, volume e intensidade), sem períodos de recuperação adequados, resulta numa redução do desempenho atlético, ao mesmo tempo que surgem vários sintomas adversos, tanto físicos como mentais, comprometendo a saúde e a longevidade desportiva do atleta.

O presente artigo tem como objetivo elucidar sobre os mecanismos envolvidos no overtraining, delinear os principais sinais e sintomas associados a esta condição, e propor estratégias de prevenção e manejo baseadas em evidências, para garantir uma prática de treino eficiente, segura e sustentável.

QUAIS OS SINTOMAS DO OVERTRAINING?

Os sintomas associados ao overtraining manifestam-se de maneira ampla, comprometendo tanto o estado físico quanto o psicológico do atleta e afetam a homeostase fisiológica.

Nos aspetos físicos, a condição é marcada por fadiga persistente, redução no desempenho, dores musculares e articulares prolongadas, distúrbios do sono e alterações no peso corporal e apetite.

Psicologicamente, observa-se uma tendência à instabilidade emocional, manifestada por irritabilidade, ansiedade e apatia, somadas à desmotivação e à diminuição da capacidade cognitiva, incluindo dificuldades de concentração e memória, que frequentemente progridem para estados depressivos.

Do ponto de vista fisiológico, o overtraining é caracterizado pelo aumento da frequência cardíaca em repouso, disfunções hormonais, como a redução de testosterona e elevação de cortisol, e imunossupressão, ou seja, enfraquecimento ou redução da atividade do sistema imunológico, tornando o organismo mais suscetível a infeções e outras doenças, para além de uma recuperação mais lenta após lesões.

Este conjunto de sintomas aponta para uma incapacidade crónica do organismo para restaurar o equilíbrio, o que evidencia a urgência de intervenções focadas na recuperação e na restauração de uma relação saudável entre carga de treinamento e descanso.

O QUE FAZER EM CASO DE OVERTRAINING?

Perante sintomas de overtraining, é importante adotar medidas de recuperação para evitar danos maiores à saúde. Algumas estratégias incluem:

  • Reduzir temporariamente a intensidade e o volume dos treinos;
  • Priorizar o descanso e o sono adequado, para promover a recuperação;
  • Manter uma alimentação equilibrada, rica em nutrientes que auxiliem na recuperação muscular;
  • Consultar um personal trainer para ajustar o plano de treino;
  • Implementar a periodização no treino, alternando ciclos de alta e de baixa intensidade;
  • Monitorar constantemente a frequência cardíaca e o humor.

EM CONCLUSÃO

O overtraining é uma síndrome complexa e multifacetada, que emerge da interação entre fatores associados a um treino excessivo e a falta de recuperação adequada. A compreensão aprofundada dessa condição é imperativa para a promoção de práticas de treino seguras, evitando, assim, repercussões adversas na saúde física e mental dos atletas.

A identificação precoce dos sintomas, o monitoramento rigoroso da carga de treino e a implementação de estratégias eficazes de recuperação constituem componentes essenciais para a prevenção dessa patologia.

Adicionalmente, a supervisão por parte de profissionais do exercício físico desempenha um papel crítico no alcance de objetivos atléticos, de forma segura e sustentável, garantindo a longevidade desportiva e o bem-estar geral do atleta.

Se está em overtraining ou simplesmente a precisar de abrandar o seu ritmo, tome nota dos conselhos da professora Luísa Sargento, que nos apresenta alguns exercícios para descontrair e relaxar o corpo. Pode realizar todos numa mesma sessão ou escolher e realizar alguns deles de forma isolada.

Leia o artigo completo na edição de dezembro 2024 (nº 355)