O envelhecimento populacional é um desafio global comum e está prestes a tornar-se na grande transformação social do século XXI, com implicações transversais a todos os setores da sociedade: no mercado laboral, na procura de bens e serviços como a saúde ou a habitação, na proteção social, nas estruturas familiares e laços interrelacionais.

Artigo da responsabilidade da Dra. Ana Margarida Azevedo, secretária-geral da Fundação Ageas

 

 

 

Atualmente, 22% da população portuguesa tem 65 ou mais anos. Prevê-se que, em 2060, esta percentagem atinja os 36%, o que representa quase quatro milhões de portugueses, ou seja, em menos de 40 anos, quase duplicará o número de idosos no nosso país.

Face a esta nova estrutura demográfica e aos problemas sociais que dela advêm, a Fundação Ageas tem vindo a apoiar diversos projetos no domínio do combate à solidão e promoção de envelhecimento ativo, bem como na melhoria da rede de apoio ao cuidador.

Alguns desses projetos são de base local e possuem intervenções de proximidade junto da comunidade, enquanto outros possuem já modelos de replicabilidade e escalabilidade, levando a que a própria Fundação tenha inovado a sua abordagem à filantropia para melhor as apoiar. Ilustro essa atuação com projetos que têm tido maior visibilidade como o “Pedalar Sem Idade”, cuja intervenção já abrange quatro cidades, os “Palhaços d’Opital” que levam sorrisos e alegria aos seniores que se encontram em ambiente hospitalar; ou o projeto “55+” com vista à dinamização ativa de pessoas com um capital de experiência enorme e que desejam permanecer ativas e criar laços com a comunidade.

APRENDER COM OS SENIORES

Um dos principais desafios da terceira idade é o isolamento e abandono a que muitas vezes está sujeita. E não falamos apenas de seniores que não têm família direta; falamos também de quem, apesar de ter família próxima, não tem uma visita, um telefonema, um programa lúdico com aqueles de quem mais gosta. Seja porque “não há tempo”, ou simplesmente porque é precisa paciência, empatia e carinho, e muitas são as famílias que se esquecem que é um privilégio poder conviver com pessoas mais velhas e experientes.

É uma convivência que traz benefícios para todos, sejam familiares, amigos ou vizinhos. Partilhar vivências, histórias, demonstrar interesse, fazer perguntas, são pequenos gestos que enriquecem os mais novos e ajudam os mais idosos a sentirem-se úteis e com interesse. Cria também vínculos sociais, tão importantes no contexto da sociedade individualista em que se vive atualmente.

COMO COMBATER O ISOLAMENTO SOCIAL

Há pequenos gestos que podem ajudar a melhorar a vida dos mais velhos e a fazer com que estes se sintam parte ativa da sociedade, sobretudo, evitando o seu isolamento social.

  • Atividades de grupo: dar uma voltinha pela vizinhança frequentar um parque, café, ou uma universidade sénior ou centro de dia, pode manter as relações de amizade e proximidade que fazem companhia e reduzem o tempo em que se está sozinho.
  • Atividade desportiva: respeitando a condição física de cada um e, de preferência, acompanhado por um profissional de saúde, a atividade física moderada ajuda a manter o corpo mais forte e são, promovendo, ao mesmo tempo, o convívio social. Caminhadas ao ar livre, a hidroginástica ou o mesmo pilates são algumas das atividades mais aconselhadas para a terceira idade.
  • Tecnologia: pode ser benéfica – evita o isolamento social, pois permite a comunicação mais fácil com amigos e familiares; possibilita que se mantenham a par da atualidade; estimulam, a partir de jogos, atividades cerebrais, prevenindo lapsos de memória e o avanço de algumas doenças neurológicas associadas a uma idade mais avançada.
  • Hobbies: a oferta é cada vez mais variada e deve ser incentivada – seja aprender uma língua nova, estudar história universal ou fazer um curso de teatro, culinária ou mesmo música. Aprender algo novo é sinónimo de ginástica cerebral em qualquer idade e é extremamente importante para os seniores.

Olhar para o envelhecimento como uma evolução natural e um momento privilegiado da vida é essencial para combater o preconceito da velhice. Os idosos não devem ser vistos como pessoas frágeis, com tratamento infantilizado, e pouco úteis, mas, ao invés, como um ativo importante da sociedade, uma parte essencial da nossa população e um riquíssimo reservatório de conhecimento e sabedoria. Cada um de nós tem uma história particular e intransferível que deve ser respeitada e valorizada.

Envelhecer é natural, e felizmente os cuidados de saúde aumentam a nossa esperança de vida, então é importante que saibamos envelhecer bem.