Irreversível e progressiva, a doença pulmonar obstrutiva crónica é uma das principais causas de morte em Portugal. Entre outras sequelas, esta doença respiratória reduz o calibre das vias aéreas e provoca a destruição do tecido pulmonar, causando danos graves e permanentes. A maioria dos casos de DPOC tem origem no consumo de tabaco.

 

Artigo da responsabilidade do Prof. José Alves. Médico pneumologista. Presidente da Fundação Portuguesa do Pulmão

 

Os dados são claros. Noventa por cento dos casos de DPOC são provocados pelo fumo do tabaco. Se não forem tomadas medidas, como a cessação tabágica, a doença evolui para insuficiência respiratória com necessidade permanente de oxigénio suplementar.

A DPOC é bastante mais prevalente entre os que fumam e, dentro desse grupo, entre os que o fazem com mais frequência. Vinte por cento de quem fuma um maço por dia desenvolve DPOC. Se fumar dois maços, a percentagem duplica.

Sabe-se também que, além do número de cigarros fumados, também a idade do início de consumo pode estimular o aparecimento da DPOC. Quanto mais cedo se começa a fumar, mais provável será desenvolver a doença.

Para além do tabaco, existem casos resultantes da inalação frequente de alguns tipos de poeiras ou da suscetibilidade hereditária aos efeitos das agressões inaladas.

SINTOMAS E EVOLUÇÃO

Entre os sintomas mais comuns da DPOC está a tosse, expetoração e dificuldade em respirar. A maior parte dos sintomas devem-se aos efeitos sobre os brônquios, mas nas fases mais avançadas, a DPOC também afeta os vasos sanguíneos dos pulmões e pode sobrecarregar o coração. Provoca, igualmente, efeitos negativos sobre a massa muscular, particularmente nos membros inferiores e superiores.

A maior parte dos diagnósticos de DPOC chegam tarde, pois os doentes atribuem os sintomas ao consumo de tabaco: “Tenho falta de ar porque fumo”. Consideram os sintomas naturais e, por isso, só chegam aos hospitais em fases graves.

Apesar de serem irreversíveis, a lesões nos pulmões podem ser controladas, retardando a evolução da doença. A cessação tabágica pode prevenir a perda acelerada da função respiratória observada nos fumadores, pelo que, por esta ou por tantas outras razões relacionadas com patologias graves, se torna imperativa.

COMO DIAGNOSTICAR A DPOC?

O diagnóstico de DPOC surge, normalmente, com base na combinação entre os sintomas do doente e a existência de consumo tabágico. Para confirmar este diagnóstico, é necessária a realização de uma espirometria (prova de função respiratória que mede a quantidade e rapidez com que os pulmões concluem a expiração), procedimento que vai mostrar obstrução permanente nas vias aéreas.

QUE TRATAMENTOS EXISTEM?

Sendo uma doença irreversível, os tratamentos para a DPOC focam-se no controlo da progressão da doença. A estratégia escolhida para cada paciente vai depender dos sintomas e da gravidade da doença.

Grande parte dos doentes não necessita de tratamento crónico: fazem-no apenas durante os períodos de exacerbação da DPOC. Quem apresenta sintomas regulares deve recorrer a inaladores, dispositivos médicos que reduzem o estreitamento das vias aéreas.

Para os casos em que há obstrução grave das vias aéreas e exacerbações frequentes, há indicação para que se faça a inalação de corticosteroides, de modo a reduzir a frequência das exacerbações, ou mesmo, optar por corticosteroides orais, sempre que se justificar. Em situações ainda mais graves pode ser necessário o recurso a oxigénio.

EXERCÍCIO FÍSICO E REABILITAÇÃO

Apesar das dificuldades respiratórias, e respeitando as limitações de cada um, é muito importante que o paciente com DPOC aposte na prática regular de exercício físico. Para além de manter a condição física, o exercício contribui para a redução da sua incapacidade. Os benefícios são tanto melhores quanto maior for sua integração num programa de reabilitação respiratória.

A reabilitação respiratória é uma ferramenta fundamental no tratamento da DPOC, pois aumenta a qualidade e esperança de vida. Melhora a função respiratória dos doentes e reforça a sua capacidade para realizar as tarefas do quotidiano, ajudando-o a (com)viver com a doença. Através da reabilitação respiratória, que agrega um conjunto de exercícios leves a realizar sob supervisão, os doentes conseguem recuperar alguma da sua condição física.

Quando realizadas em grupo, estas sessões de reabilitação permitem o contacto entre doentes e a partilha de experiências e troca de informação, que os vão ajudar a compreender e a viver com a doença. Podem ser realizadas no hospital ou em comunidade. São, normalmente, complementadas por uma ou mais sessões ao domicílio.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2022 (nº 332)