As doenças reumáticas e musculoesqueléticas não podem ser ignoradas e muito menos os seus doentes, sob pena de hipotecarmos a saúde das pessoas, das empresas, do sns e da segurança social.

Artigo da responsabilidade do Dr. Luís Cunha Miranda, Presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia

 

Existem mais de 150 doenças reumáticas e musculoesqueléticas (DRM), sendo que podem ser tão diferentes quanto o lúpus eritematoso sistémico e a osteoporose ou a artrite reumatoide e a comum dor nas costas. O que têm em comum é atingirem o sistema musculoesquelético e, eventualmente, outros órgãos e sistemas, como o rim, a pele, o coração ou pulmão, entre outros. De comum, também, a dor articular ou muscular e a incapacidade que determinam.

MAIS DE METADE DOS PORTUGUESES AFETADOS

No estudo EpiReumaPt da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, determinou-se que existe uma prevalência de doenças reumáticas de 53%, em Portugal. Ou seja, mais de metade dos portugueses sofrem de uma doença reumática.

O absentismo nas doenças reumáticas é, em média, de 9 horas semanais. A dor, a rigidez e a dificuldade na locomoção levam a que muitos trabalhadores se vejam forçados a ficar vários dias de baixa e, em situações limite, a pedir a reforma antecipada. Assim, o absentismo por doenças reumáticas e musculoesqueléticas custa ao Estado Português aproximadamente 204 milhões de euros por ano. As reformas antecipadas custam 910 milhões de euros por ano, o que eleva os custos destas doenças a mais de mil milhões de euros, só em custos laborais e de Segurança Social.

RETIRAR DO OBSCURANTISMO

E o que podemos fazer para que estas doenças possam ter menos impacto na sociedade? Em primeiro lugar, há que retirá-las do obscurantismo onde estão colocadas. Em Portugal, as dores articulares têm sempre a desculpa da idade e dos esforços, de qualquer coisa que não se valoriza e de que não se procura causa. E, no entanto, nas doenças reumáticas e musculoesqueléticas, o diagnóstico precoce e o envio atempado a uma consulta de Reumatologia fazem a diferença entre uma vida com capacidade apesar da doença ou uma incapacidade que destrói a pessoa e a família.

É inexplicável que mais de 50% dos hospitais do SNS não tenham Reumatologia, apesar de haver especialistas disponíveis para ir para esses locais. Somos dos países com menor taxa de cobertura do SNS por parte da Reumatologia. Gastamos tempos infindáveis a falar de envelhecimento da população portuguesa, do aumento das doenças crónicas, mas como sempre não fazemos nada. Não planeamos, não antecipamos, apenas reagimos e mal às crises agudas de um sistema em falência por falta de visão a mais que 4 anos ou de eleição em eleição.

Mas se imaginarmos que, para além das doenças reumáticas, existem centenas de doenças crónicas, neurológicas, endocrinológicas, pulmonares, entre outras, temos de exigir estratégias a vários anos, consistentes e com imaginação, que permita que um SNS com recursos escassos possa aplicar o dinheiro de todos de forma mais inteligente e sem pressões externas.

SINAIS E SINTOMAS

As doenças reumáticas são, sem dúvida, muito importantes para os doentes e para as suas famílias e devemos todos estar atentos aos sinais e sintomas que podem ajudar a um diagnóstico precoce, o qual pode fazer toda a diferença, a longo prazo, na evolução da doença.

Dores que persistem no tempo, que se associam a alterações nas articulações, com inchaço, vermelhidão e limitação na função das articulações, são sinais de alerta para procurar o médico de família, no sentido de orientar o paciente para a Reumatologia.

Queixas associadas a uma rigidez matinal prolongada ou dores na coluna que persiste mais de 3 meses, entre outros sintomas, devem motivar qualquer pessoa a procurar orientação médica.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2019 (nº 299)