A doença de Parkinson é uma doença neurológica frequente, que afeta habitualmente pessoas com mais de 55 anos. A queixa que mais frequentemente é associada à doença e leva as pessoas ao médico é o tremor. Contudo, não é obrigatório que os doentes de Parkinson apresentem tremor.
Artigo da responsabilidade do Prof. Joaquim Ferreira. Professor de Neurologia e Farmacologia Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Líder de Grupo do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes. Diretor Clínico do CNS – Campus Neurológico; e
Dra. Ana Castro Caldas. Neurologista do CNS. Coordenadora clínica do CNS – Campus Neurológico
As queixas que devem alertar para a possibilidade de alguém ter a doença de Parkinson são a presença de tremor numa mão ou numa perna, a lentidão de movimentos, uma alteração da escrita com a redução do tamanho da, a diminuição do balanceio de um braço ou o arrastar de uma perna.
A presença de uma destas queixas deve levar essa pessoa a procurar um médico. O diagnóstico da doença depende das queixas apresentadas pelo doente e da observação realizada pelo médico. Os exames complementares realizados servem principalmente para excluir outras causas para a doença.
Embora o nome Parkinson possa ser assustador, esta doença é tratável e existem múltiplos medicamentos disponíveis e outros tratamentos que melhoram bastante os sintomas da doença. É assim possível que, alguém com a doença, sendo bem tratado, consiga manter-se ativo, autónomo e com boa qualidade de vida durante muitos anos.
Os tratamentos
Ao fim de alguns anos, com a progressão da doença, algumas pessoas com doença de Parkinson sentem que a medicação perde efeito ao fim de umas horas, ou seja, notam reagravamento ou reaparecimento dos sintomas como o tremor, a lentidão e até da ansiedade ou tristeza. Chamamos a estas alterações, flutuações motoras e não motoras (alternância entre ON-OFF). Nesta fase, são necessários ajustes dos medicamentos e respetivos horários para atenuar estas flutuações. Nos doentes para os quais os tratamentos farmacológicos, ao fim de alguns anos, já não sejam suficientes para manter a mesma qualidade de vida, existem atualmente tratamentos mais invasivos que podem melhorar bastante os doentes nessas fases mais avançadas. Estes tratamentos incluem a cirurgia de estimulação cerebral profunda, o tratamento com levodopa em gel intestinal e um medicamento de administração subcutânea abdominal denominado apomorfina.
É importante também salientar que o tratamento da doença de Parkinson não passa apenas pelo uso de medicamentos. Assume hoje particular importância a realização de outros tratamentos como o exercício, fisioterapia, terapia da fala (para a voz e risco de engasgamento) e o apoio de outros profissionais de saúde nomeadamente nutricionistas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, entre outros. A melhor abordagem terapêutica para a doença deve ser multidisciplinar e passa pela intervenção de múltiplos profissionais de saúde.
Os melhores cuidados disponíveis
No Dia Mundial da Doença de Parkinson, devemos todos procurar alertar e contribuir para que todos os doentes possam aceder aos melhores cuidados disponíveis, o que implica garantir o acesso a esta abordagem terapêutica multidisciplinar. Apesar de em Portugal existirem centros clínicos de excelência que disponibilizam todos os melhores e mais inovadores tratamentos para a doença, nem todos os doentes conseguem aceder às melhores abordagens terapêuticas ou ter acesso aos tratamentos adequados num tempo razoável. São um exemplo de abordagens terapêuticas para as quais nem todos os doentes têm um acesso fácil, as sessões de reabilitação e os tratamentos com levodopa em gel intestinal e apomorfina.
Estão neste momento em curso, em vários centros em Portugal, ensaios clínicos com novos medicamentos experimentais para o tratamento de flutuações motoras e outros problemas associados à doença de Parkinson como a dor e as alterações do sono, e ainda para tentar atrasar a progressão da doença.
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