POR SER TÃO FREQUENTE, A CÓLICA MENSTRUAL É MUITAS VEZES DESVALORIZADA. NO ENTANTO, É IMPORTANTE VALORIZAR OS SINTOMAS E PERCEBER SE ESTAMOS PERANTE ALGO NORMAL OU ALGO MAIS GRAVE.

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Cláudia Bernardo. Médica de Medicina Geral e Familiar. Diretora Médica da BIOJAM

 

 

Com maior incidência entre jovens em idade escolar, devido à imaturidade do útero, a dismenorreia – mais conhecida por cólica menstrual – manifesta-se através de uma dor pélvica ou abdominal inferior, cíclica ou recorrente, que atinge cerca de 75% das mulheres em idade reprodutiva, chegando mesmo a provocar dores incapacitantes, as quais, muitas vezes, estão na origem de faltas e quebra de rendimento laboral e escolar.

Trata-se de um tipo de cólica muito forte que acompanha os ciclos ovulatórios. Por norma, aparece horas antes ou no início do fluxo menstrual e é mais intensa nos primeiros dois a três dias.

UM TERMO INVULGAR, UMA SITUAÇÃO COMUM

A maioria das mulheres pode não estar familiarizada com o termo “dismenorreia”, mas conhece bem os seus sintomas, que muitas vezes antecedem ou coincidem com o início de cada período menstrual. Para muitas mulheres, estas dores são apenas desconfortáveis e passageiras, mas para outras são tão intensas que interferem no seu dia a dia.

Na grande maioria dos casos, as dores menstruais não apresentam uma causa patológica identificável, pelo que, por ser tão frequente, a dismenorreia é muitas vezes desvalorizada, sendo encarada como algo natural. Apesar de constituir uma das situações mais comuns na adolescência, ela pode começar desde a primeira menstruação e continuar ou diminuir ao longo da vida ou surgir na idade adulta.

POR DETRÁS DAS DORES

Na maioria dos casos, o desconforto está relacionado com a comum dismenorreia primária. Sabe-se que cerca de 80% das mulheres que sofrem deste problema iniciaram dores até 4-5 anos após a primeira menstruação. Sabe-se que tem origem na flutuação hormonal característica das jovens e na natural libertação de prostaglandinas pelo útero, durante a menstruação. A libertação destes compostos (prostaglandinas) gera contrações uterinas que se manifestam através de uma dor na região inferior do abdómen. Apesar de constituir um processo normal, a libertação de prostaglandinas pode gerar um mal-estar geral, que é muitas vezes acompanhado de outros sintomas, como náuseas, vómitos, dor de cabeça, dor nas pernas, diarreia e cansaço.

Por ser tão frequente, a dismenorreia é muitas vezes desvalorizada. No entanto, é importante valorizar sintomas que interfiram fortemente no dia a dia e perceber se estamos perante algo normal ou algo mais grave.

DISMENORREIA SECUNDÁRIA

E se a dismenorreia primária ocorre na ausência de doença pélvica, com os normais ciclos ovulatório após a primeira menstruação, a dismenorreia secundária pressupõe a existência de patologia pélvica e tem um início mais tardio, geralmente após os 35 anos.

Quando originada por uma doença existente no aparelho reprodutor, como endometriose, quistos, miomas ou infeções, poderemos estar perante uma situação de dismenorreia secundária. Neste caso, há que avaliar aspetos relacionados com o surgimento e intensidade das dores menstruais, como seja o início das dores menstruais muitos anos após a primeira menstruação ou depois dos 25 anos, a irregularidade de ciclos menstruais e a ausência de mal-estar, fadiga, enjoos, dor de cabeça, tonturas e dores nas costas ou o agravamento dos sintomas ao longo do tempo.

A dismenorreia secundária pode aparecer após um longo período de ausência de dor, pelo que o seu diagnóstico deve exigir a realização de exames ginecológicos, a sim de despistar possíveis problemas, nomeadamente:

ENDOMETRIOSE – Trata-se de uma patologia que atinge muitas mulheres e pode manifestar-se apenas pela dismenorreia. Na maior parte das vezes, a endometriose não se manifesta apenas durante a menstruação, podendo ser altamente incapacitante, ao ponto de e limitar a realização de simples rotinas do dia a dia.

ADENOMIOSE – É uma doença relacionada com a endometriose, mas confinada ao útero. Regra geral, esta doença manifesta-se depois dos 35 anos.

FIBROMAS, MIOMAS OU LEIOMIOMAS UTERINOS – São tumores benignos que se formam na zona uterina e que podem, em algumas situações, causar dores menstruais e/ou causar irregularidades menstruais. Os miomas, normalmente, não são causa de dores em mulheres muito jovens.

DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA – É uma doença infeciosa do sistema reprodutivo feminino, que também pode estar na origem de dores menstruais.

NECESSIDADE DE DIAGNÓSTICO

O diagnóstico das dores menstruais é fundamentalmente clínico, sendo baseado na presença de cólica no baixo-ventre durante a menstruação. O objetivo de uma avaliação clínica prende-se, sobretudo, com a necessidade de perceber se se trata de uma dor menstrual primária ou secundária, o que se confirma por meio de uma avaliação do historial de ocorrências, de um exame físico geral e exames complementares.

Na avaliação a realizar, é fundamental ter em consideração a idade da mulher, uma vez que as adolescentes têm um quadro mais doloroso do que a mulher adulta. Deve-se ainda ter atenção ao início da sintomatologia e a duração das cólicas.

A dismenorreia pode gerar um desconforto, passageiro ou permanente. Pode manifestar-se com uma pontada breve ou lancinante. Pode ser uma cólica que surge de forma inesperada. Pode ser uma dor suportável, mas também pode ser uma dor incapacitante. Certo é que é uma condição que faz parte de todas as mulheres em idade reprodutiva.

Leia o artigo completo na edição de dezembro 2021 (nº 322)