Apesar das inúmeras campanhas de sensibilização e de esclarecimento sobre a diabetes, ainda existem muitas dúvidas em relação ao seu tratamento e, principalmente, em relação à alimentação. Vejamos a importância da consulta de Nutrição no controlo da diabetes.

Existem milhares de pessoas com diabetes em todo mundo; umas são insulinodependentes (geralmente, aparece em crianças e adultos jovens, sendo necessário injetarem-se com insulina) e outras não-insulinodependentes (surge nos adultos e, atualmente, já em crianças, devido ao excesso de peso, os quais necessitam de medicamentos chamados de antidiabéticos orais).

Apesar das inúmeras campanhas de sensibilização e de esclarecimento sobre a diabetes, ainda existem muitas dúvidas em relação ao seu tratamento e, principalmente, em relação à alimentação. É bastante comum pensar-se que o plano alimentar (dieta) do diabético se restringe à limitação dos açúcares ou que ainda existem planos alimentares radicais, que eliminam quase todos os hidratos de carbono da alimentação, nomeadamente o pão, o arroz, a massa, a batata, o grão-de-bico, o feijão, a ervilha, o milho, os doces, etc. Tudo isto não passa de um enorme erro.

Necessidade de consultar o nutricionista

Quando o açúcar aumenta no sangue, significa que o organismo não está a utilizar corretamente os alimentos e, desta forma, o organismo começa a ficar muito debilitado. Para que o diabético não erre, nem para mais nem para menos no consumo dos alimentos, é recomendável que este consulte um nutricionista, que é o profissional mais habilitado para elaborar um plano alimentar adequado a qualquer indivíduo com ou sem patologias associadas.

Atualmente, o plano alimentar é elaborado e fundamentado nas regras para uma alimentação saudável que considera todos os grupos de alimentos. A quantidade do alimento a ser consumido vai depender de cada situação e, por isso, o tratamento e a prescrição do plano alimentar é personalizado.

A primeira consulta com o nutricionista deve ocorrer logo após a consulta com o endocrinologista, o diabetologista ou o médico assistente, onde foi feito o diagnóstico da diabetes. Assim, toda a ansiedade em relação ao que se pode comer pode ser esclarecida, podendo melhorar-se mais rapidamente os valores da glicemia.

Plano alimentar

O plano alimentar é um dos componentes essenciais para o tratamento da diabetes e, associado à medicação, à atividade física e à educação continuada, é a “receita” para o sucesso de um bom controlo.

A consulta com o nutricionista tem como objetivo a elaboração de um plano alimentar acessível à realidade e às condições do diabético. Tendo sempre em consideração as necessidades energéticas (ou seja, o valor calórico total e diário), a quantidade de proteínas, de vitaminas e de sais minerais para a sua idade, altura, sexo, atividade profissional e atividade física, visando a melhoria do controlo metabólico.

Na consulta, o nutricionista efetua uma entrevista (anamnese) para obter informações sobre a doença atual e outros dados mais específicos para a construção do plano alimentar. Constam das perguntas: a existência de algumas doenças (obesidade, anorexia, bulimia, dislipidemias, hipertensão, etc.), alergias alimentares, alimentos da sua preferência e alimentos que não come, a ingestão de líquidos diários, a toma de fármacos, produtos naturais ou de suplementos alimentares, a alimentação atual, assim como informações sobre o funcionamento do tubo digestivo, como a mastigação, problemas no estômago, glândulas anexas e eliminações fisiológicas (fezes e urina).

A história alimentar é a informação mais importante na consulta de Nutrição, porque é a partir desses dados que se vai iniciar a prescrição do plano alimentar. Portanto, é necessário ter o conhecimento das técnicas corretas para recolher e avaliar estas informações, a fim de obter-se um retrato mais fiel do perfil alimentar do doente.

Uma das estratégias mais utilizadas é a anamnese alimentar das 24 horas anteriores à consulta ou, em alternativa, um exemplo do que come durante o dia a dia. Esta informação é importante para que o nutricionista tenha conhecimento dos horários habituais, dos locais e das quantidades de alimentos ingeridos em cada refeição do dia. Estes dados podem ser complementados com informações obtidas pelo questionário de frequência de consumo alimentar, que classifica os alimentos por grupos (leite e derivados, frutas, vegetais/hortaliças, carnes, ovos, gorduras, etc.). Com estes dados, o nutricionista obtém informações mais detalhadas sobre os alimentos mais consumidos e, desta forma, obtém uma perspetiva dos hábitos alimentares do diabético.

Uma recomendação para esta primeira consulta, principalmente no caso das crianças, é já levar anotado o que foi ingerido em cada refeição da última semana ou em 3 dias (dois durante a semana e um ao fim de semana).

A forma esquemática da toma dos medicamentos ou da administração da insulina (se forem esses os tratamentos) e os exames laboratoriais realizados previamente também são importantes para a avaliação do nutricionista e devem ser levados para a consulta.

Outro item relevante e que deve ser tido em conta é a prática habitual de exercício físico: o doente deve informar o nutricionista desta prática, assim como a frequência, o horário habitual, o tipo e a intensidade, uma vez que o plano alimentar poderá ser flexibilizado ou não, a partir desses dados.

Exame físico

A outra etapa da consulta é o exame físico, no qual se verificam as medidas antropométricas, designadamente o peso, a altura e a circunferência da cintura. Elas são importantes para determinar o peso ideal/aconselhável e para traçar uma estratégia do cálculo do plano alimentar (em relação às calorias), tendo sempre em conta outros fatores, nomeadamente o sexo, a prática de exercício físico, o hábito tabágico, etc.

Se o indivíduo estiver acima do peso ideal e tiver uma circunferência da cintura acima do normal, ele vai necessitar de uma restrição calórica mais relevante do que aquele que tem esses parâmetros dentro da normalidade. Estas medidas antropométricas fornecem pistas de maior ou menor resistência à insulina. Outras medidas, como as pregas cutâneas, a circunferência da anca e a bioimpedância (avaliação da composição corporal, em relação à massa magra, massa muscular, massa gorda, massa celular e água) podem ser feitas para complementar as medidas antropométricas.

Os dados antropométricos são avaliados de maneira diferente, de acordo com a idade do diabético. Crianças e adolescentes, por passarem por constantes mudanças, devido ao crescimento, são avaliados através de índices e gráficos – os chamados percentis. A massa corporal no adulto é comummente avaliada através dos valores IMC (índice de massa corporal) e da circunferência da cintura e comparados com os padrões de normalidade já pré-estabelecidos.

Após toda essa avaliação, o plano alimentar é calculado, correlacionando as necessidades nutricionais para a idade, o sexo, a altura e a atividade física, com o peso que foi previamente determinado pela avaliação antropométrica.

O nutricionista, através dos conhecimentos inerentes à sua profissão, transforma estes dados numéricos em medidas caseiras e/ou em gramas de alimentos, que vão ser distribuídas pelas refeições.

A distribuição dos alimentos tem sempre em consideração a anamnese alimentar (hábitos alimentares) e o esquema medicamentoso (a administração de insulina ou a toma de fármacos).

Relação diabético-nutricionista

A relação entre o nutricionista e o diabético deve-se ir estreitando com o decorrer da consulta, já que o nutricionista deve prescrever um plano alimentar adequado, viável e prazenteiro para o doente. As dúvidas com a alimentação e sobre os alimentos surgem na medida em que começa a haver um envolvimento com o plano alimentar e, desta forma, inicia-se o processo educativo, onde o profissional e o doente podem trocar informações que são essenciais para o sucesso do tratamento.

Ainda nesta primeira consulta, o nutricionista inicia a abordagem sobre a ação dos alimentos no organismo e de como os nutrientes (hidratos de carbono, proteínas e gorduras) atuam sobre a glicemia. Outros assuntos, como a hipoglicemia, a compra e a ingestão de alimentos dietéticos, lights, adoçantes, frutas, doces, etc., devem ser abordados de tal forma que o doente saia da consulta elucidado e com segurança de que possa realizar as suas refeições de forma tranquila e sem medos.

A educação alimentar continuada faz parte de todas as consultas e as dúvidas são explicadas juntamente com a construção do plano alimentar, assim como com as consultas seguintes.

No final da consulta, é fornecido um plano alimentar específico para as necessidades nutricionais do diabético, assim como uma folha com listas de alimentos para o doente poder consultar. Esta folha é essencial para que o diabético possa ter mais opções de escolha dos alimentos que pode comer, para que o plano alimentar não fique tão monótono e para que não possa ser modificado pela própria pessoa, respeitando sempre as orientações do nutricionista. Podem ainda ser disponibilizadas outras informações, como, por exemplo, panfletos, brochuras, etc.

Por último, o nutricionista disponibiliza um parecer nutricional para o médico assistente ou para os outros profissionais que fazem parte da equipa de tratamento. As consultas seguintes são igualmente importantes para que haja uma avaliação e uma possível modificação da conduta nutricional inicial e para dar continuidade ao processo educativo do diabético.

Alimentar o corpo é muito mais do que saciar a fome; se tiver diabetes, consulte um nutricionista!