A enurese é mais comum do que se imagina, só em Portugal 10% das crianças entre os quatro e os sete anos sofrem com este problema1, ou seja, molham a cama regularmente de forma involuntária. De forma a aumentar o conhecimento da população para esta disfunção, assinalou-se a 31 de maio o Dia Mundial da Enurese.
Molhar a cama é considerado um “mal menor” erradamente, visto que, segundo referem os especialistas, está relacionado com situações de ansiedade crónica, problemas de autoestima e impacto na esfera social. A enurese, disfunção que envolve a perda involuntária de urina durante a noite, em crianças com mais de 5 anos de idade, afeta o dia-a-dia dos mais pequenos, uma vez que estes evitam participar em atividades da sua idade, como ir a acampamentos, excursões e dormir na casa da família ou amigos, com o intuito de esconderem este problema. Além disso, causa perturbações no sono, que se traduzem numa diminuição da atenção na escola e, portanto, numa taxa mais elevada de insuficiência escolar. Sabe-se que esta disfunção continua, apesar de numa percentagem menor, na adolescência continuando também, por vezes, até à idade adulta com consequências mais traumáticas.
Muitas famílias consideram que este problema se resolve ao longo do tempo e, embora se estime que em aproximadamente 15% dos casos há uma resolução de forma natural2-3.
Por vezes, são os próprios pediatras que se atrasam no diagnóstico, como se verifica num inquérito realizado junto da comunidade médica de pediatria e publicado na revista Acta Pediátrica Portuguesa, segundo o qual «apenas 6% dos pediatras acreditam ter diagnosticado mais de 75% dos casos, enquanto quase metade (49%) pensa, pelo contrário, que tem diagnosticado menos de 25% dos casos»4. A verdade é que, embora a prevalência diminua com a idade, a frequência e a gravidade dos episódios de enurese aumentam e, se persistirem ao fim de nove anos, dificilmente serão resolvidos sem tratamento, daí a importância do diagnóstico e intervenção precoce.
De acordo com os critérios do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5ª edição, e da International Children’s Continence Society (ICCS), a enurese é causada por uma falha no mecanismo que causa o despertar – a criança com enurese não acorda quando a bexiga está cheia – bem como pela alteração do ciclo circadiano da hormona antidiurética (vasopressina) e instabilidade da bexiga, com contrações involuntárias do músculo detrusor, entre outras.4
Em 2015, a ICCS, a Sociedade Europeia de Urologia Pediátrica (ESPU), a Associação Ásia-Pacífico de Urologia Pediátrica (APAPU), a Associação Internacional de Nefrologia Pediátrica (IPNA), a Sociedade Europeia de Nefrologia Pediátrica (ESPN), a Sociedade Ibero-Americana de Urologia Pediátrica (SIUP), as Sociedades de Urologia Pediátrica da América do Norte, ERIC (Associação de Caridade do Colo e Bexiga Infantil) e Bexiga & Bowel UK, com o objetivo de sensibilizar a sociedade para o problema, propôs a celebração do Dia Mundial da Enurese, na última terça-feira de cada maio.
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Referências
Ref. 1. Morais J, Soares S et al. Determinats of bedwetting trajectories between 4 and 7 years – A birth cohort analysis. Journal of Pediatric Urologya, 2021. 17, 647.e1-647.e10.
Ref. 2. Harari MD, Moulden A. Nocturnal enuresis: what is happening? J Paediatr Child Health 2000; 36(1):78-81.
Ref. 3. Caldwell PH, Edgar D, Hodson E, Craig JC. 4. Bedwetting and toileting problems in children. Med J Aust 2005; 182(4):190-5.
Ref. 4 V. Martínez, M.I. Lostal, M.J. Sastre, A. Sánchez, J. Quintero, C. Ferreira, P. Matos, J.C. Ruiz de la Roja, en nombre del Grupo de Trabajo Ibérico de Enuresis (OBGETIBE). Enuresis nocturna: una propuesta para optimizar su manejo (I y II). Acta Pediatr Esp. 2020; 78(3-4): 33-38 (Parte I, Parte II)