O tratamento das agudizações da dermatite atópica é um desafio terapêutico, uma vez que requer um controlo eficiente dos sintomas agudos a curto prazo, sem comprometer o plano terapêutico para a estabilização a longo prazo.

Artigo da responsabilidade da Dra. Susana Machado. Assistente Hospitalar Graduada de Dermatologia, responsável pela Consulta de Dermatologia Pediátrica do Centro Hospitalar e Universitário de Santo António – Porto. Dermatologista no Hospital CUF Porto. Dermatologista na Clínica Best Medical Concept – Porto

 

 

A dermatite atópica afeta cerca de 20% das crianças em todo o mundo e até 10% dos jovens adultos, sendo uma das doenças de pele mais comuns em idade pediátrica. Trata-se de uma doença inflamatória crónica caracterizada por lesões cutâneas eritematosas e descamativas, muito puriginosas. Estas manifestações dermatológicas podem preceder ou estar associadas a outras doenças, como a asma e a rinite (tríade atópica).

O ECZEMA MAIS FREQUENTE DA INFÂNCIA

O impacto na vida destes doentes ultrapassa o atingimento da pele, sobretudo na doença moderada a grave. À dermatite atópica associa-se a depressão, a ansiedade, a diminuição da autoestima e a afetação nas atividades da vida diária. No bebé pequeno, as alterações do sono e o mal-estar geral que o eczema atópico provoca afetam o normal crescimento e desenvolvimento, bem como o seu dia a dia e o de toda a família.

Este é o eczema mais frequente da infância. Em 85% dos casos, a doença manifesta-se antes dos 5 anos de idade e, em 60%, no primeiro ano de vida, tendo havido um aumento da prevalência desta patologia nas últimas décadas.

Mesmo sendo uma doença muito frequente, é importante lembrar que nem sempre pele xerótica (seca), pruriginosa (com comichão) ou eritematosa (vermelha) significa dermatite atópica, impondo-se conhecer outras patologias importantes da criança, que fazem diagnóstico diferencial com esta doença.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

O diagnóstico é essencialmente clínico, sendo o prurido o sintoma principal. Na fase aguda da doença, as lesões são pápulas ou placas eritematosas, muitas vezes exsudativas, ou seja, que libertam um conteúdo líquido, levando ao aparecimento de crostas; nas fases subaguda e crónica, as lesões são mais descamativas, liquenificadas, tornando a pele mais espessa, mais escura e fissurada. As escoriações provocadas pelo ato de coçar podem estar presentes em qualquer fase da doença.

De uma forma genérica, a localização das lesões varia com a idade, sendo que até os 2 anos há um predomínio na região malar (poupando o maciço centro-facial) e/ou superfície extensora dos membros e tronco, sendo poupada a área da fralda. Após os 2 anos, as lesões envolvem maioritariamente as zonas flexoras, especialmente as pregas antecubital (dobra do cotovelo) e poplítea (atrás do joelho), face flexora dos punhos, tornozelos e pescoço, e frequentemente as pálpebras.

É importante realçar que qualquer área do corpo pode estar envolvida nos casos mais graves, independentemente da idade, apesar da presença em localizações mais atípicas necessitar da consideração de outros diagnósticos diferenciais, como a psoríase, dermatite de contacto, dermatite seborreica, imunodeficiência, linfoma cutâneo, entre outros.

Leia o artigo completo na edição de maio  2023 (nº 338)