O delirium é a complicação mais frequentemente observada em doentes hospitalizados, afetando sobretudo pessoas de idade avançada e com demência. Esta síndroma está associada a um prognóstico adverso, com aumento da duração do internamento, da morbilidade e da mortalidade intra-hospitalar, agravando a longo prazo as taxas de deterioração cognitiva e funcional e de mortalidade.

0-fotodr-joaquimcerejeiraArtigo da responsabilidade do Dr. Joaquim Cerejeira, psiquiatra e presidente da Cérebro & Mente – Associação para o Desenvolvimento em Investigação em Saúde Mental

 O delirium (ou estado confusional agudo) carateriza-se clinicamente pela instalação súbita (horas ou dias) de alterações do estado de consciência (capacidade reduzida de focar, manter ou alternar a atenção), défices cognitivos (défice de memória, desorientação, dificuldade de expressão) e alterações de comportamento (por exemplo, agitação, apatia, insónia).

Esta perturbação neuropsiquiátrica afeta até 30% das pessoas mais velhas com doença médica aguda durante o internamento hospitalar. A idade avançada e a existência de défices cognitivos prévios (designadamente, demência) conferem um maior risco para delirium. As causas mais comuns de delirium são doenças agudas (por exemplo, infeções), alterações metabólicas, cirurgias urgentes (por exemplo, fratura da anca), traumatismos, dor intensa e fármacos.

PROGNÓSTICO AGRAVADO

Está bem estabelecido que, durante o internamento hospitalar, um episódio de delirium agrava o prognóstico do doente e, a longo prazo, acarreta um risco aumentado de demência, aceleração de demência pré-existente, institucionalização permanente e morte.

Por isso, o reconhecimento precoce de um episódio de delirium é fundamental, pois permite a identificação das causas orgânicas subjacentes e corrigi-las logo que possível. Para esse efeito, é essencial proceder-se a uma avaliação clínica e laboratorial, bem como rever a medicação, suspendendo todos os fármacos não absolutamente necessários, nomeadamente os que apresentem potencial anticolinérgico.

PROBLEMA SUB-DIAGNOSTICADO

No entanto, muitos casos de delirium não são devidamente diagnosticados. Isto ocorre, sobretudo, em doentes com demência prévia, já que os sintomas de delirium são erradamente atribuídos aos défices pré-existentes. Por isso, recomenda-se que os doentes com maior risco de delirium (idade igual ou superior a 65 anos, demência, fratura da anca ou doença médica grave) devem ser submetidos a avaliações clínicas mais regulares.

Cerca de 30% dos casos de delirium podem ser prevenidos com intervenções individualizadas e multidisciplinares, que abordam fatores como défices cognitivos/desorientação, desidratação, dor, nutrição, privação sensorial e alterações do sono.

As intervenções não farmacológicas devem também ser oferecidas a doentes com delirium e incluem mobilização precoce, manutenção de um ambiente calmo e sem ruídos, correção dos défices sensoriais e minimização de intervenções desconfortáveis.

Leia o artigo completo na edição de outubro 2016 (nº 265)