A importância dos métodos contracetivos ultrapassa a possibilidade de planear as gravidezes. Muitos dos métodos, senão todos, têm benefícios associados, tão ou mais importantes do que a contraceção. É fundamental mais e melhor informação, para que cada vez mais mulheres saibam o que têm ao seu dispor.

 

Artigo da responsabilidade da Dra. Diana Martins, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia. Assistente Hospitalar do Hospital Beatriz Ângelo – Loures

 

Quando pensamos em saúde no feminino, a relação com a Ginecologia-Obstetrícia é quase imediata. Aliás, não raras vezes, as consultas de planeamento familiar e de vigilância materno-fetal agrupam-se em serviços de “saúde da mulher” ou termos análogos.

Ao invés de ser redutora, esta associação é reveladora da importância que o planeamento familiar, contraceção e gestão de menstruações têm na vida da mulher, da família e, conseguimos reconhecê-lo, da sociedade.

Dos problemas do subdesenvolvimento…

Os países mais pobres e menos desenvolvidos são, paralelamente, os que apresentam maiores taxas de natalidade, o que infelizmente, em vez de ser positivo, traduz um conjunto de problema específicos das famílias e gerais da sociedade: famílias com escassez de recursos veem as suas necessidades multiplicadas pelo número de filhos; mulheres com condições de saúde subótimas veem os seus corpos sobreconsumidos por gravidezes sem espaçamento adequado entre elas e partos pouco seguros que as colocam em risco de vida.

…à diversidade de métodos

Em Portugal, estamos felizmente num país que proporciona todos os métodos contracetivos que a mulher ou o casal deseje. De distribuição gratuita nos centros de saúde, desde os mais conhecidos, como a pílula e o preservativo, até métodos de longa duração, como o implante subcutâneo, o SIU (sistema intrauterino hormonal) ou o DIU (dispositivo intrauterino de cobre), passando por métodos definitivos, como a laqueação de trompas, existe uma diversidade de métodos para a diversidade de mulheres que deles precisam.

Infelizmente, mesmo em condições teóricas de saúde gratuita e universal, o acesso aos métodos não é igual em todos os grupos sociais do nosso país e a maior barreira é, muitas vezes, o desconhecimento. É urgente e mandatório ensinar, informar e divulgar, para que cada vez mais mulheres saibam o que têm ao seu dispor e onde.

Benefícios associados

A importância dos métodos contracetivos ultrapassa a possibilidade de planear as gravidezes. Muitos dos métodos, senão todos, têm benefícios associados, tão ou mais importantes do que a contraceção, sendo por vezes o benefício “secundário” que nos leva a prescrevê-los. Por exemplo:

  • As clássicas “dores menstruais” (dismenorreia), durante tanto tempo consideradas normais, começam agora a enfrentar mulheres que não consideram nada normal terem dores incapacitantes, todos os meses e durante a maior parte da sua vida fértil, e que, por isso, estão dispostas a enfrentá-las. A pílula ou, em casos específicos, os SIU, que permitem não ter menstruação, podem ser a solução para um problema que, de outra forma, conduziria a sofrimento e absentismo laboral;
  • A típica “anemia porque menstrua muito” é outro problema grave que pode ser tratado por medicação contracetiva.
  • Problemas de pele – não apenas o “cabelo mais oleoso” ou três simples borbulhas, mas o acne grave com risco infeccioso – podem encontrar um adjuvante de tratamento no uso de uma pílula em associação a terapêutica mais potente. Ou permitir o uso de terapêuticas teratogénicas, sem o risco de uma gravidez indevida.

Espaço para evoluir

Toda esta conversa serve para mostrar que a contraceção, apesar de ser um problema ancestral, é um assunto atual; que os métodos disponíveis são vários e podem adaptar-se a diferentes necessidades; e que a sua utilidade vai além da contraceção da mulher.

Ainda há muito espaço para evoluir. Há, por exemplo, um grupo crescente de mulheres que procura métodos não hormonais de contraceção, não havendo nesse capítulo muita oferta, nem sequer adaptável a grande parte de quem a pretende – apenas o preservativo,  o DIU de cobre ou a laqueação tubária. No entanto, os métodos hormonais disponíveis são maioritariamente seguros e muito eficazes, tendo cada vez menos contraindicações absolutas, ou seja, deixando de fora cada vez menos mulheres para quem não tínhamos outra solução além de métodos cirúrgicos definitivos.

Leia o artigo completo na edição de maio 2021 (nº 316)