Muitas vezes, as pessoas não se apercebem o quão dependentes estão das redes sociais e só notam quando deixam frequentemente de cumprir compromissos por estarem conectadas à internet. Quando se chega a tal ponto, é muito importante investir numa “desintoxicação digital”.

Artigo da responsabilidade da Dra. Teresa Feijão. Psicóloga clínica

 

 

O aparecimento da internet e das redes sociais fez com que a forma como comunicamos se alterasse, tornando-a mais prática e mais rápida. A sua utilização tem muitas vantagens, como a facilidade de comunicação, criação de uma maior rede de contactos, maior projeção de negócios, aumento do conhecimento em várias áreas pela facilidade de pesquisa de informação e maior e mais rápida divulgação de notícias de atualidade.

CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS

Contudo, o tempo passado nas redes sociais é considerado um problema quando afeta a vida e o estado emocional da pessoa, uma vez que tem consequências negativas se esse uso for descontrolado e/ou abusivo: isolamento social, sedentarismo, diminuição do rendimento escolar, redução da rentabilidade do tempo no trabalho, dificuldades nos relacionamentos interpessoais e, em casos mais graves, o surgir de sintomatologia ansiosa e/ou depressiva, sendo afetado o sono, o sistema digestivo e cardiovascular, a autoestima e a motivação.

A ansiedade associada prende-se, em grande parte, com a tendência crescente de comparação com “vidas perfeitas”, “imagens perfeitas” e “corpos perfeitos”. As incessantes notícias negativas e comentários desagradáveis também podem criar ansiedade, pois o nosso cérebro é incapaz de digerir todas as informações recebidas diariamente.

MANIFESTAÇÕES VIRTUAIS

De salientar que grande parte da geração atual se guia, com frequência, pelo número de “likes” nas fotografias e publicações, pelo número de amigos ou seguidores nas suas redes sociais (muitos deles apenas amigos virtuais, uma vez que nem pessoalmente se conhecem) e por uma maior partilha de informação pessoal nas suas páginas. O foco elevado nestas manifestações virtuais também afeta a autoestima e leva a uma preocupação excessiva com a aprovação de terceiros e a consequente ansiedade.

Para além disso, este vício, esta dependência em estar conectado nas redes sociais, pode afetar os relacionamentos interpessoais em geral, mas, em particular, os afetivos. Os motivos são comuns: ciúmes, insegurança, insatisfação, afastamento, entre outros. Enquanto o casal passa grande parte do seu tempo individual a desfrutar da vida virtual, o seu relacionamento deixa de ser alimentado. Durante as refeições, momentos de lazer, antes de dormir e em tantas outras situações do dia a dia, vai deixando de existir diálogo. Desta forma, a distância entre o casal aumenta cada vez mais, podendo levar a ruturas irreversíveis.

VÍCIO COMPORTAMENTAL

O uso excessivo das redes sociais pode ser definido como um vício comportamental, ou seja, a pessoa altera as suas atividades diárias de modo a ficar conectada, comprometendo compromissos básicos do dia a dia, como o seu trabalho, estudos, vida social e até alimentação.

Mas como saber se há realmente um vício a este nível? Alguns dos sinais aparentes deste vício podem ser:

  • Falta de interesse em atividades fora da vida online;
  • Uso prolongado de computadores e smartphones;
  • Sensação de angústia sempre que a pessoa precisa ficar desconectada ou há falhas na internet;
  • Sensação de que determinada experiência não está “completa” enquanto não for postada nas redes sociais;
  • Deixar outras tarefas importantes para passar mais tempo na internet, com a consequente apresentação de sintomas de abstinência quando afastadas das redes.

OUTROS SINTOMAS

Além da mudança de comportamento e dificuldades em tomar decisões, também é válido citar outros sintomas causados pelo vício nas redes sociais. Entre os mais comuns, estão:

  • Ansiedade, como já referido;
  • Mal-estar;
  • Irritabilidade;
  • Angústia pela falta de internet;
  • Síndrome de pânico (tremores, tontura, falta de ar, aumento do ritmo cardíaco, quadro semelhante à abstinência de um toxicodependente);
  • Comportamentos obsessivo-compulsivos;
  • Distúrbios alimentares;
  • Isolamento e fobia social.

É importante mencionar ainda que a pessoa viciada nas redes sociais pode sofrer também com “sensações fantasmas”: sente ou ouve o telemóvel vibrar e/ou tocar quando, de facto, tal não acontece.

DESINTOXICAÇÃO DIGITAL

Muitas vezes, as pessoas não se apercebem o quão dependentes estão das redes sociais e só notam quando deixam frequentemente de cumprir compromissos por estarem conectadas à internet.

Por tudo isto, é muito importante, quando se chega a tal ponto, investir numa “desintoxicação digital” e, caso necessário, num apoio psicológico.

Leia o artigo completo na edição de julhos-agosto 2023 (nº 340)