Um atleta, seja ele amador, federado ou profissional, necessita que os seus hábitos e decisões se coadunem de forma harmoniosa, para que os objetivos sejam alcançados com sucesso. A Medicina Desportiva, mais do que diagnosticar e tratar lesões, deverá ser a gestora do acompanhamento do atleta.
Artigo da responsabilidade do Dr. Gonçalo Barradas. Médico especialista em Medicina Desportiva. GB Clinic – Sports Medicine
Segundo a Organização Mundial de Saúde, o conceito de saúde é muito mais que a ausência de doença, mas o bem-estar físico, psíquico e social, para além de uma integração do indivíduo ao meio em que está inserido. Não sendo um conceito estático, o “ter saúde” é resultado da gestão de uma série de decisões e/ou circunstâncias da vida diária.
Serão os atletas os indivíduos com mais saúde na sociedade em que estão inseridos? Eu voto no “depende”. Depende de inúmeros fatores, nomeadamente o impacto do desporto praticado nas características específicas do indivíduo, do ambiente envolvido e das suas demais escolhas e traços de caráter emocional, físico e social.
MEDICINA DESPORTIVA, PARA QUÊ?
Em que momentos considera pertinente o acompanhamento em Medicina Desportiva? Que circunstância o levaria a agendar uma consulta desta especialidade médica?
Enquanto médico especializado em Medicina Desportiva, o meu compromisso é garantir o acompanhamento que um atleta necessita para que a sua prestação desportiva seja potenciada, mas garantindo a preservação da saúde do mesmo. Esta missão a que me proponho implica negociação, dedicação e envolvimento de ambas as partes.
A minha aposta assenta na sensibilização para a prevenção e na consideração dos fatores preditivos associados, sendo que o Exame Médico Desportivo (EMD) tem uma importância preponderante.
Um atleta, mesmo que amador, que não conheça o impresso com destacável que é preenchido pelo próprio e pelo médico assistente, está a falhar na prevenção e na salvaguarda da sua saúde.
O ATLETA COMO UM TODO
O EMD serve para que o médico possa fazer despistes de vários foros, nomeadamente cardíaco. Este exame permite ao médico considerar o atleta apto, ou não apto, à prática desportiva. Todos os atletas federados são avaliados anualmente, no início da época ou, idealmente, por altura do seu aniversário, uma vez que o EMD é de carácter obrigatório nestes casos.
Porém, um diagnóstico baseado numa avaliação holística e uma intervenção com a mesma perspetiva vê o atleta como um todo na sua função e não só e apenas um joelho, um ombro ou qualquer outra das suas partes.
Um atleta, seja ele amador, federado ou profissional, necessita que os seus hábitos e decisões se coadunem de forma harmoniosa, para que os objetivos sejam alcançados com sucesso. A Medicina Desportiva, mais ainda do que diagnosticar e tratar lesões, deverá ser a gestora do acompanhamento do atleta e garantir que cada um seja munido dos recursos que necessita, à sua medida.
ACOMPANHAMENTO MULTIDISCIPLINAR
A construção de um desportista envolve várias áreas complementares, pelo que sou apologista de um acompanhamento multidisciplinar, em que todos os profissionais de saúde envolvidos usufruam de uma fácil comunicação entre si e que estejam alinhados nas respetivas intervenções.
O processo inicia-se na motivação, persistência, resiliência e gestão da frustração. A componente psicológica tem um peso tremendo na prestação de qualquer atleta. Uma mente sã e equilibrada tem a capacidade de nos levar mais longe e de gerir momentos mais delicados, como o momento em que ocorre uma lesão.
Em recuperações mais longas ou difíceis, experiencia-se o desânimo ou até a revolta. É determinante que esse processo não impacte de forma prolongada, uma vez que poderá manifestar-se sob a forma de um decréscimo bastante significativo da performance e até numa lentificação substancial da recuperação.
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