Os tumores digestivos são dos mais frequentes, mas a evolução científica nas várias áreas tem melhorado significativamente o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz.

Artigo da responsabilidade da Prof.ª Dra Marília Cravo. Gastrenterologista. Presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG)

 

Os tumores malignos do aparelho digestivo são dos tumores com maior incidência e maior mortalidade: esófago, estômago, fígado, pâncreas e cólon.

ESÓFAGO E ESTÔMAGO

O tumor do esófago é dos tumores cuja incidência mais tem aumentado, muito relacionado com o refluxo gastroesofágico crónico, cada vez mais prevalentes nas sociedades modernas em que o excesso de peso é um problema muito prevalente.

Em relação ao cancro do estômago, Portugal é dos países da Europa Ocidental com incidências mais elevadas, muito em relação com a infeção pelo Helicobacter pylori, bactéria que infeta o estômago em cerca de 70% dos portugueses, estando associado a gastrite crónica que, numa pequena percentagem de casos, pode evoluir para cancro.

Por esta razão, todos os doentes diagnosticados com gastrite a Helicobacter pylori devem tentar erradicar esta bactéria com a toma de antibióticos prescritos pelo seu médico, a não ser que exista alguma contraindicação para tal.

FÍGADO E PÂNCREAS

O cancro do fígado ocorre, na maioria das vezes, em doentes com cirrose hepática. Se anteriormente a causa mais frequente era o consumo crónico de álcool, hoje a causa mais frequente é a esteatose hepática ou fígado gordo.

Sendo uma doença frequente nas sociedades modernas, devido à elevada prevalência de excesso de peso, pode também haver uma influência de ambos os fatores – excesso de peso e álcool, bem como outros fatores, nomeadamente as hepatites B e C, outrora mais frequentes antes de haver vacinação e tratamento eficazes.

Contudo, é obrigatório, pelo menos, uma vez na vida, estas serologias serem pedidas pelo seu médico assistente.

O cancro do pâncreas tem vindo a aumentar e estima-se que, em 2030, seja a principal causa de morte por cancro digestivo no mundo ocidental. Novamente, está associado a excesso de peso, diabetes mal controlada e consumo crónico de álcool e tabaco.

CÓLON

Finalmente, temos o cancro do cólon que é o tumor com maior incidência, se considerarmos ambos os géneros em conjunto – homens e mulheres. Por esta razão, foi considerado uma prioridade pela Direção Geral de Saúde e foram instituídos programas de rastreio, com pesquisa de sangue oculto nas fezes de 2 em 2 anos e, no caso de ser positiva, deveria ser seguida de colonoscopia.

Contudo, este programa dito oportunístico – por ficar ao critério do médico de Família pedir ou não o teste – não tem tido o resultado esperado no sentido de reduzir a incidência deste cancro, muito provavelmente pela pouca adesão dos doentes ao teste das fezes ou à realização de colonoscopia.

Este é um problema que deve ser desmitificado: 30 a 40% das pessoas com mais de 50 anos vão ter pólipos do cólon, os quais, se não forem removidos, podem evoluir para cancro. Com esta estratégia – fazer colonoscopia e remover os pólipos encontrados – podemos reduzir em 80% a incidência do cancro do colon.

Por outro lado, se o indivíduo rastreado não tiver pólipos só necessita de repetir o exame passados 10 anos. É, pois, lamentável que, criadas as condições para extinguir o cancro que mais mata em Portugal, não o façamos.

PREVENÇÃO E ATENÇÃO AOS SINTOMAS

Pelo exposto acima, fica claro que o tratamento mais eficaz para os tumores digestivos é evitar que apareçam: controlar o excesso de peso, ter uma alimentação saudável, evitar o consumo de tabaco e álcool.

Igualmente importante é estarmos atentos a sintomas precoces: perda de apetite ou perda de peso involuntária, dificuldade em engolir – sobretudo alimentos sólidos –, alteração dos hábitos intestinais – diarreia ou obstipação de novo e persistentes –, dores abdominais – sobretudo se persistentes e acordarem durante o sono – ou perdas de sangue nas fezes. Em qualquer destes casos, deve procurar o seu médico e transmitir-lhe o que se passa.

Porém, apesar da incidência destes tumores estar a aumentar, também existem boas notícias no que diz respeito aos resultados obtidos com os tratamentos hoje disponíveis.

Leia o artigo completo na edição de setembro 2025 (nº 363)