É crucial falarmos não apenas do tumor hepático mais comum, mas também daqueles que, sendo mais raros, são igualmente agressivos e desafiantes.
Artigo da responsabilidade da Dra. Joana Marinho. Oncologista. Presidente da Associação de Investigação de Cuidados de Suporte em Oncologia (AICSO)
Globalmente, o cancro do fígado está entre as principais causas de morte por cancro. Dados do GLOBOCAN estimam que tenham sido diagnosticados mais de 900.000 novos casos em todo o mundo, em 2022.
Em Portugal, são diagnosticados anualmente cerca de 2000 novos casos, maioritariamente hepatocarcinomas. O colangiocarcinoma é mais raro (10-15% dos casos), mas a sua incidência tem aumentado de forma preocupante.
FATORES DE RISCO, RASTREIO E SINAIS DE ALERTA
O hepatocarcinoma está frequentemente ligado a doenças hepáticas crónicas. Os principais fatores de risco incluem hepatites B e C, consumo excessivo de álcool e doença hepática gordurosa não alcoólica, associada à obesidade e diabetes. As pessoas com doenças hepáticas crónicas devem ser integradas num programa de rastreio regular, sob orientação médica.
Para o colangiocarcinoma, os fatores de risco incluem cirrose biliar primária, cálculos nas vias biliares ou malformações congénitas.
O grande desafio é o seu silêncio. Nos estádios iniciais, frequentemente não há sintomas. Quando aparecem, são vagos: cansaço inexplicável, perda de peso, icterícia, dor abdominal ou comichão. Esta falta de sinais específicos dificulta o diagnóstico precoce.
DESAFIOS NO DIAGNÓSTICO E A REVOLUÇÃO DOS NOVOS TRATAMENTOS
Quando os sintomas se manifestam, a doença pode já estar avançada. No passado, as opções de tratamento eram limitadas. Hoje, a imunoterapia e as terapias dirigidas mudaram o paradigma.
Ao contrário da quimioterapia tradicional, as terapias dirigidas atuam como “mísseis de precisão” contra alterações específicas das células tumorais. A imunoterapia “remove os travões” do sistema imunitário, permitindo que as nossas defesas destruam o cancro. Por serem mais precisos, estes tratamentos tendem a ter menos efeitos secundários.
CAMINHO A SEGUIR: CONSCIENCIALIZAÇÃO E APOIO
Para travar esta batalha, precisamos de um esforço conjunto. É crucial informar a população sobre fatores de risco e a importância de um estilo de vida saudável. A adoção de uma dieta mediterrânica equilibrada, pobre em gorduras e açúcares, associada à prática de exercício físico regular, é fundamental na prevenção. A obesidade, diabetes e sedentarismo potenciam doenças hepáticas ao conduzirem à acumulação de gordura no fígado.
Paralelamente, os profissionais de saúde devem estar alerta para sinais vagos, especialmente em doentes com doenças hepáticas conhecidas. Um diagnóstico atempado salva vidas.
Para quem recebe este diagnóstico, o caminho é árduo. O conselho é: não caminhem sozinhos. Procurem uma equipa médica multidisciplinar especializada, informem-se através de fontes fidedignas e não subestimem o poder do apoio psicológico e da partilha de experiências em grupos de apoio.
Assim, usemos a nossa voz para iluminar estes cancros silenciosos. Com mais investigação e consciencialização, podemos oferecer mais esperança a quem enfrenta este desafio.















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