Ao longo da jornada do cancro da mama há lugar para todo o tipo de reações emocionais. O apoio psicológico especializado constitui, sem dúvida, uma grande ajuda.

Artigo da responsabilidade da Dra. Eloísa Fernandes. Psicóloga Clínica e da Saúde do programa ONCOMOVE® da Associação de Investigação de Cuidados de Suporte em Oncologia (AICSO)

 

 

 

O cancro de mama é, na maioria dos casos, uma doença tratável e curável, sendo inclusive possível viver com doença avançada durante vários anos. No entanto, a maioria das pacientes, quando recebe o diagnóstico, interpreta-o como uma ameaça. Salvo raras exceções, aquando da comunicação do diagnóstico, a mulher sente-se incapaz de processar mais informação, não só pelo choque provocado pela notícia, mas também pela dificuldade em projetar a sua vida no futuro.

TODO O TIPO DE REAÇÕES EMOCIONAIS

Ao longo desta jornada há lugar para todo o tipo de reações emocionais, porque a mulher é colocada perante uma doença que afeta um órgão representativo da feminilidade, associada à perda, ao desfiguramento e à realização de tratamentos dolorosos e invasivos, com importantes repercurssões na sua qualidade de vida.

Ansiedade e depressão são os quadros mais prevalentes ao longo deste percurso, sendo que a intensidade destas respostas emocionais varia de acordo com vários fatores: fase da doença, tipo de tratamentos a realizar e respetivos efeitos secundários. Adicionalmente, características da própria mulher, como: a fase do ciclo de vida familiar e profissional, perdas anteriores, tipo de personalidade e de adaptação em situações de crise, crenças sobre a doença, entre outros, contribuem para que a vivência deste processo seja distinta de mulher para mulher.

EVITAR A EVOLUÇÃO PARA QUADROS PSIQUIÁTRICOS

É importante valorizar a componente emocional, não relativizando o sofrimento como sendo uma reação expectável desta condição. A externalização das preocupações e receios deve ser incentivada, suporte informativo fidedigno assegurado, assim como o esclarecimento de dúvidas. É importante que os diferentes elementos da equipa multidisciplinar valorizem esta dimensão, referenciando os pacientes para Psico-oncologia sempre que necessário, de forma a evitar a evolução para quadros psiquiátricos.

NOVOS DESAFIOS

Esta jornada vai muito além do término dos tratamentos e a transição para a sobrevivência traz consigo novos desafios, por vezes, inesperados.

Se, até então, o principal objetivo era ultrapassar a doença, agora surgem sentimentos de insegurança associados à diminuição do apoio por parte da equipa médica e medo da recidiva. Gerir efeitos secundários e sequelas permanentes (como fadiga, alterações físicas e funcionais, menopausa prematura, funcionamento sexual, compromisso cognitivo, entre muitos outros), dificuldades em retomar a rotina e o trabalho e afastamento do suporte de familiares e amigos que, por vezes, erradamente, pensam que a doença já é coisa do passado. É justamente nesta fase que a maioria das mulheres solicita acompanhamento emocional.

AJUDA PSICOLÓGICA ESPECIALIZADA

E por que outros motivos a mulher com cancro de mama pode beneficiar do apoio da Psico-oncologia? São variados: para que a sua adaptação a esta exigente jornada seja facilitada, porque querem ver as suas dúvidas esclarecidas, porque querem ajuda para lidar com os filhos, principalmente quando este são menores (“como lhe vou contar que estou com cancro?”), e respetivos parceiros/as, para auxiliar na aceitação e/ou integração da nova imagem corporal e reinventar a forma de se relacionar na intimidade, para auxiliar no processo de reconstrução mamária. E ainda para preparar o regresso à vida ativa ou na readaptação da atividade profissional, fomentar o autoinvestimento e promover hábitos de vida saudáveis (como a prática regular de exercício fisico).

Então, é fundamental que a intervenção seja personalizada de acordo com as necessidades específicas de cada doente. Importa salientar que a mulher pode, a qualquer momento, beneficiar de ajuda psicológica especializada. Assim que esta necessidade de apoio é identificada, não deve hesitar em procurá-la!

Leia o artigo completo na edição de outubro 2023 (nº 342)