A prevenção da calvície é difícil, dado que não se pode saber, com toda a certeza, se uma pessoa vai sofrer de queda do cabelo; no entanto, pode impedir-se ou atrasar-se o seu desenvolvimento, através de um tratamento eficaz. Além disso, os progressos na cirurgia possibilitaram que a calvície seja um problema cada vez mais fácil de solucionar.

 

A alopecia – ou calvície, como se designa popularmente – é uma denominação que deriva da palavra grega “alopex”, que significa “raposo”. O seu uso na linguagem médica tem origem na comparação com uma dermatose que provoca a perda do pelo daquele animal. A partir daqui, definiu-se a alopecia como a perda parcial ou total de pelo ou cabelo, nas zonas que habitualmente são pilosas.

Queda do cabelo

A queda do cabelo pode ser resultado de distintos fatores e as diferentes formas em que se desenvolve classificam-se em função da possibilidade ou não de recuperar o cabelo: não-cicatricial e cicatricial, respetivamente.

No caso da alopecia cicatricial, não existe nenhuma possibilidade de recuperação do cabelo, porque houve uma destruição irreversível do folículo piloso. As causas mais frequentes são as queimaduras, as radiações e infeções agudas, entre outras. O tratamento cirúrgico, quando a elasticidade do couro cabeludo assim o permite, é a única solução para este tipo de alopecia.

Contudo, a alopecia não-cicatricial é a que mais consultas origina. Esta perturbação é transitória, porque o folículo não foi destruído e, portanto, é possível o crescimento espontâneo ou por tratamento médico. Entre as diferentes causas da alopecia não-cicatricial estão a falta de ferro, frequente nas mulheres – associada à menstruação ou por uma má alimentação –, ingestão de determinados medicamentos ou regimes hipocalóricos. Nestes casos, o cabelo nasce de novo, quando se repõem as reservas de ferro, se substitui o medicamento ou se restabelece uma dieta equilibrada.

A mais conhecida é a alopecia androgénica ou calvície comum, porque afeta 60% dos homens e cerca de 25% das mulheres, embora estudos recentes apontem mesmo para uma percentagem de mulheres afetadas próxima dos 50 por cento.

Questão genética

Para que se produza uma alopecia androgénica, tem de existir uma predisposição genética e um fator hormonal. Mas é possível que não se manifeste, se não ocorrerem outros fatores desencadeantes, como a própria constituição e psiquismo da pessoa ou situações de stress ansioso-depressivas.

O caráter hormonal explica a maior percentagem de homens calvos, relativamente à percentagem de mulheres. Os androgénios – hormonas masculinas –, concretamente a testosterona, são os responsáveis por uma série de secreções no folículo piloso, as quais impedem o desenvolvimento normal do pelo. Mas este fenómeno biológico não é suficiente para que se inicie o processo alopécico, se não existir uma predisposição genética. No caso da mulher, a queda de cabelo é indício de um desequilíbrio hormonal, a favor dos determinantes masculinos.

A evolução da calvície comum no homem começa, normalmente, com o desaparecimento da linha de implantação do cabelo na zona fronto-temporal – pequenas entradas –, que evolui, progressivamente, perdendo-se cabelo na parte superior da cabeça, até formar uma área totalmente desprovida, desde a testa até quase à nuca, já no estádio adiantado da alopecia.

Na mulher, pelo contrário, a calvície começa a desenvolver-se na parte superior do couro cabeludo, de forma difusa, conservando-se sempre a linha de implantação anterior. Por isso, uma boa ação de cabeleireiro consegue melhores resultados estéticos do que no homem, onde as entradas tornam evidente a perda de cabelo.

A idade média para o início da alopecia situa-se entre os 20 e os 30 anos. Quanto mais precoce for, pior prognóstico tem, se não se modificar a tendência, com o tratamento adequado.

Alopecia areata

Embora só afete 1% da população, a alopecia areata, além de ser a mais evidente esteticamente, é a mais traumática do ponto de vista psicológico, uma vez que a queda do cabelo se desenvolve de um modo brusco e numa área mais ou menos extensa: pode afetar uma pequena zona do couro cabeludo, uma sobrancelha, a barba, etc. – alopecia em placas –, ou todo o couro cabeludo e todo o corpo – alopecia universal.

Inicialmente, pensava-se que esta queda tão exagerada de cabelo tinha a sua origem em perturbações de tipo infeccioso, localizadas na garganta, no nariz, nos ouvidos e na boca. Posteriormente, especulou-se que a respetiva causa era um problema de tipo psicológico, consequência de traumas psíquicos, stress, ansiedade ou depressão. Hoje, as investigações demonstraram que a sua causa é uma alteração do sistema imunológico, na qual o organismo não reconhece como seus os folículos pilosos e desenvolve anticorpos, expulsando-os e fazendo com que o cabelo caia. Mas uma vez regulado o sistema imunológico, de forma espontânea ou por tratamento médico, o folículo pode criar pelo novo.

Atualmente, utilizam-se imunomoduladores – substâncias que regulam o sistema imunológico. Não obstante, deve frisar-se que o repovoamento na alopecia areata pode ser espontâneo, embora muitas pessoas atribuam o êxito da aparição do cabelo a cremes sem nenhuma base científica, quando a verdadeira razão foi a reversão do transtorno imunitário. Além disso, a alopecia areata não se desenvolve devido a um problema psicológico, embora este possa ser um fator desencadeante.

Cuidados alimentares

Um fator muito especial é a alimentação. Existe uma série de substâncias, como os oligoelementos e as vitaminas do grupo B, que são necessárias para o desenvolvimento biológico e, especialmente, para a formação e crescimento do cabelo.

O escasso consumo de alimentos imprescindíveis, não só para o desenvolvimento do cabelo, como para a saúde em geral, tais como a aveia, a cevada ou o trigo integral, favorecem a queda. Tal como o que ocorre com o stress, o tabaco e o álcool são desencadeantes de uma perda de oligoelementos que, se não são substituídos com a alimentação, produzem enfraquecimento do cabelo.

Muita gente desconhece que algo tão simples como uma higiene capilar correta é fundamental para retardar a calvície ou, pelo menos, para fazer com que a sua evolução seja mais lenta. É, pois, suficiente a lavagem diária com um champô adequado, suave e de uso frequente, combinado com tratamento, duas ou três vezes por semana, já que a calvície é, normalmente, acompanhada por um excesso de seborreia ou de caspa.

É um erro pensar que a lavagem diária do cabelo acelera a sua queda. Afinal, o cabelo que cai em quantidade, durante a lavagem e a escovagem, já está desprovido de vida e a respetiva manipulação apenas faz com que ele se desprenda mais cedo. Por outro lado, a lavagem diária tem uma eficácia terapêutica, quando é seguida de tratamento local, ao ajudar a retirar totalmente os restos do produto, para que não dificulte a absorção da aplicação seguinte.

Medicamentos úteis

O tratamento medicamentoso é outra das alternativas que ajudam a deter o problema da alopecia. No caso da calvície comum feminina, existe a possibilidade de administrar, por via oral, fármacos antiandrogénicos, desde que não sejam contraindicados.

Como tratamento complementar, podem utilizar-se complexos de aminoácidos, de oligoelementos indispensáveis para a formação da queratina do pelo – substância que lhe dá força.

Frequentemente, o tratamento específico da calvície é acompanhado por um tratamento psicológico, pois produz ansiedade e, como já foi dito, esta pode provocar a queda do cabelo.

Tratamentos cirúrgicos

Se a calvície não responde ao tratamento médico ou está muito avançada, recorre-se a transplantes cirúrgicos, que se podem efetuar de diferentes formas.

O autoenxerto cilíndrico – ou “punch” – realiza-se com um instrumento metálico cilíndrico, do mesmo nome, de três ou quatro milímetros de diâmetro, que recolhe uma unidade de transplante de 10 a 16 pelos, os quais são transladados da zona da nuca para a zona calva. Esta técnica utiliza-se pouco, pois o efeito estético é desagradável, uma vez que os pelos abrem-se na superfície e unem-se na base, obtendo-se um efeito de “cabelo de boneca”.

Uma variante é o denominado minienxerto, muito utilizado, mas que seleciona um diâmetro inferior – milímetro e meio; esteticamente, é tanto mais evidente quanto mais grosso e negro é o cabelo.

Outra variante é o microenxerto, a qual, conservando a mesma técnica, apenas transplanta uma unidade de 0,35 milímetros – um ou dois pelos – e produz um crescimento que é totalmente natural. O inconveniente é que, tratando-se de unidades de transplante muito pequenas, o tratamento requer um maior número de sessões.

Em qualquer dos três casos, o transplante é feito com anestesia local e permite um regresso imediato à atividade laboral.

Leia o artigo completo na edição de outubro 2020 (nº 309)