Sabia que existem vantagens de os bebés seguirem uma alimentação “plant-based”? Porém, esta opção de alimentação na infância ainda suscita muitas dúvidas nos pais e nos profissionais que acompanham as crianças.
Artigo da responsabilidade da Dra. Raquel de Morais Carvalho Neto. Nutricionista. Holmes Place Cascais
A American Dietetic Association (2016) reconhece a alimentação vegetariana adequada a todas as fases da vida, incluído para bebés. Os cuidados alimentares e as adequações nutricionais deverão ser sempre realizadas, como para qualquer outro tipo de dieta alimentar.
Diversificação alimentar
A diversificação alimentar ou alimentação complementar (complementar, porque o principal alimento continua a ser o leite, até o bebé aprender a comer) deverá ocorrer aos 6 meses. Nem sempre assim acontece, devido a diferentes fatores; e, por vezes, a introdução da alimentação ocorre mais cedo.
Esta introdução é recomendada pela maioria dos pediatras e tem início com purés de vegetais: mais inócuos e menos ricos em fibra. Batata, cenoura e alface são dos mais comuns, purés simples de um único vegetal ou conjugados. A alface, apesar de ter um valor nutricional pouco relevante, é rica em letucina, um calmante natural que ajuda os bebés a descansar.
Normalmente, 10 a 15 dias após a introdução dos vegetais, introduz-se a banana, a pera e a maçã. Até aqui, a diversificação alimentar do bebé “plant-based” não difere da tradicional.
Ao fim de três semanas a um mês, a diversificação tradicional inclui a primeira proteína animal, moída na sopa. Neste momento, é importante para os pais que decidam oferecer o padrão alimentar “plant-based” ao bebé estarem informados e, acima de tudo, acompanhados, não só por um pediatra, mas também por um nutricionista com especialização nesta alimentação.
A introdução de proteínas vegetais tem associada um maior aporte de fibra, o que, ao dia de hoje, se sabe não ser prejudicial ao bebé. No entanto, tal como qualquer outro alimento em qualquer tipo de diversificação alimentar, os pais/cuidadores deverão estar atentos a sintomas de alergia alimentar (erupção cutânea/falta de ar) ou intolerância alimentar (alteração do trato intestinal).
Quais são as vantagens?
A diversificação alimentar “plant-based” pode ser vantajosa para a saúde do bebé. Existe uma menor probabilidade de vir a ser uma criança com excesso de peso ou obesa, menor presença de colesterol, menor ingestão de gordura saturada e maior aporte de frutas e legumes.
Relativamente à vitamina B12, esta não é uma preocupação, visto o leite materno ou a fórmula fornecerem esta vitamina. No caso de a criança continuar a ser amamentada, a mãe deverá ter o cuidado de manter a sua suplementação de vitamina B12.
Os estudos que existem relativos a crianças vegetarianas apontam para um aporte de ferro superior em dietas vegetarianas na infância, comparativamente com dietas omnívoras tradicionais. É mandatório reduzir os fatores antinutricionais, para maximizar a biodisponibilidade do ferro de fontes vegetais. Além disso, há que conjugar as fontes de ferro vegetal com fontes de vitamina C nas refeições dos bebés (pimentos, papaia, citrinos, kiwi), para potenciar a sua absorção.
Proteínas naturais
Relativamente à introdução alimentar, existem diferentes opiniões clínicas. Por um lado, pediatras e nutricionistas que preferem introduzir os alimentos segundo uma ordem específica. Por outro, profissionais de saúde que salientam os benefícios da exposição a um alimento potencialmente alergénio o mais cedo possível. Seja qual for a forma privilegiada, deverá ter em conta o historial familiar dos pais do bebé e, claro, o acompanhamento adequado.
A proteína é sempre uma preocupação, no entanto, se a alimentação for cuidada, o bebé irá ter sempre um aporte equilibrado, como em qualquer outra dieta alimentar. Proteínas vegetais integradas numa primeira fase da diversificação alimentar? Feijão, grão, lentilhas e ervilhas. Proteínas naturais, evitando, assim nesta fase, os processados, como tofu, seitan e tempeh.
Métodos
Existem três métodos de diversificação alimentar: tradicional (omnívora, vegetariana, plant-based), Baby Led Weaning (BLW) e Participativo.
O BLW permite ao bebé definir a quantidade de comida que quer ingerir e os alimentos devem ser oferecidos nos horários de refeição da família, devendo sempre respeitar o apetite do bebé. A grande diferença é a forma como o alimento é apresentado: em vez de purés, os alimentos são oferecidos em tiras, forma de croquete ou muffins, de maneira a que o bebé consiga manuseá-los. Os benefícios apresentados são a aprendizagem dos sabores individualizados e o manusear dos alimentos e dos talheres mais cedo. Os bebés são mais harmoniosos na hora da refeição, são menos seletivos e conseguem perceber a sua saciedade mais facilmente.
O método Participativo tem os mesmos objetivos e vantagens do BLW, respeitando a saciedade do bebé e a sua autonomia. Os alimentos são oferecidos tanto inteiros como em refeições preparadas, em que o bebé aprende a usar a colher.
Composição do prato
Como se faz, então, o prato “plant-based” dos 6-12 meses? Vai depender de bebé para bebé. Deve ter em conta o dia a dia familiar, a capacidade do bebé para se sentar direito e a demonstração de vontade para iniciar a alimentação, mas acima de tudo, deverá ser um prato completo com:
- 1/3 legumes e verduras cozidos: abóbora, couves, cenoura, brócolos;
- 1/3 de leguminosas: grão-de-bico, feijão vermelho, feijão preto, ervilhas, lentilhas, feijão azuki;
- 1/3 de cereais e tubérculos: arroz integral, quinoa, batata branca ou doce.
A alimentação “plant-based” assegura todas as necessidades nutricionais durante a infância, é completa e ótima para o bom desenvolvimento do bebé. Importante é estar bem informado e acompanhado pelos profissionais de saúde certos.
Artigo publicado na edição de junho 2021 (nº 317)
Referências bibliográficas:
(2019) Baroni. L, e tal. Vegan Nutrition for Mothers and Children: practical tools for healthcare providers.
Sociedade Vegetariana Brasileira – PDF alimentação 6 meses-2 anos.