Alimentação intuitiva é o contrário daquilo que se espera da palavra dieta: não coloca regras, não diz o que e quando comer. Em vez disso, ensina-a a comer de forma natural e a tornar-se especialista em ouvir a sua fome biológica.

 

Artigo da responsabilidade da Profª Joanne Amaral, Coach de Saúde e Alimentação Intuitiva e Personal Trainer para mulheres. Fundadora do projecto FitJoanne

 

A busca para sermos mais magras é cada vez mais comum. O ato de comer, especialmente se forem comidas com o rótulo de “asneira”, é punido pela sentença de culpa. A comida passa a ser boa ou má, como se tivesse valor moral. Quase que nos sentimos na obrigação de dizer “vou começar uma dieta em breve”. Por todo o lado, todos nos dizem o que comer, quando e em que quantidades. A isto chama-se “viver em mentalidade de dieta”.

Alimentação intuitiva é o contrário daquilo que se espera da palavra dieta: não lhe coloca regras, não diz o que e quando comer. Em vez disso, ensina-a a respeitar e honrar o seu apetite, dando noções do que é realmente a fome biológica, e a comer até se  sentir saciada e fisicamente confortável. Ensina-a a ser a versão mais saudável de si mesma, à sua maneira.

O que é comer intuitivamente?

Comer intuitivamente (ou Intuitive Eating) é um método que a ensina a comer de forma natural e a torna especialista em ouvir a sua fome biológica. Ensina-a a desfrutar da comida que adora sem culpa e a aperceber-se quando já está satisfeita, sem precisar de comer demais ou comer a menos.

Parece utopia, mas não é. Regras e restrições servem para serem quebradas e isso faz com que os resultados sejam perdidos. Histórias de pessoas que fazem dieta e depois recuperam o peso perdido são muito comuns. Ou então os resultados são mantidos, mas a pessoa sente-se privada e stressada quando não consegue controlar a sua alimentação, vivendo secretamente em dieta.

Se já tentou de tudo ou está farta de tentar (e de passar fome),  se procura liberdade e saúde, comer intuitivamente é para si.

O básico

Comer intuitivamente promove uma relação saudável com o seu corpo e com a sua comida, através do autoconhecimento e consciência. “Estou realmente com fome? Porque continuo a comer mesmo depois de já estar satisfeita? Porque não me controlo?”. Estas são algumas das muitas aprendizagens feitas com o processo de comer intuitivamente.

Comer quando tem fome e parar de comer quando está satisfeita deveria ser um processo intuitivo. Contudo, o caso não se verifica com muitas pessoas.

Seguir um plano alimentar impede-a de comer pela intuição e de se reconetares com o seu corpo e a sua fome. Cada dieta tentada e falhada afasta-a cada vez mais da sua fome biológica e da sensação de verdadeira saciedade.

Para comer de forma intuitiva, tem de reaprender a conetar-se com o seu corpo e a confiar nele, em vez de olhar para o plano alimentar ou quantas calorias lhe sobram nesse dia para decidir o que comer.

Há muitas aprendizagens que devem ser feitas para isto, mas uma das mais importantes são: rejeitar a mentalidade de dieta, dar-se permissão para comer e distinguir a fome física (necessidade de energia e de nutrientes) da fome emocional (comer para não ter de lidar com o stress, tristeza, solidão, etc).

De onde veio este conceito?

Embora só agora se comece a falar sobre isto em Portugal, este conceito já existe desde os anos 70 e, em 1995, Evelyn Tribole e Elyse Resch escreveram um livro – com o título “Intuitive Eating” –, dando as bases para esta metodologia, que nos ensina a lidar com a comida e o corpo, em que perder peso é uma consequência de uma vida mais equilibrada e não o foco de toda a nossa existência! O livro não está traduzido para Português.

Quais os 10 princípios?

Existem 10 princípios que devem ser seguidos durante a (re)aprendizagem para comer de forma intuitiva. São eles:

  1. Rejeitar a mentalidade de dieta – Ignore tudo o que lhe ofereça esperanças falsas de perder peso de forma rápida, fácil e de forma permanente.
  2. Honre o seu apetite – Mantenha o seu corpo nutrido com quantidades de energia adequadas de todas as fontes alimentares.
  3. Faça as pazes com a comida – Dê-se permissão para comer. Se disser “não posso” ou “não devo” pode estar a fomentar sentimentos de privação intensos que levam, na maioria das vezes, a compulsão.
  4. Desafia a sua “polícia da comida” – Todas as vozes negativas e destrutivas que vivem bem fundo no seu subconsciente têm de ser combatidas. Esta “polícia” tem de ser eliminada.
  5. Sinta a tua saciedade – Aprenda a ouvir os seus sinais biológicos de saciedade, a compreender quando já não tem fome e quando a comida já nem lhe está a saber tão bem como deveria. Mais vale parar e voltar a comer quando a fome realmente voltar a aparecer!
  6. Descubra o fator da satisfação – Redescubra o prazer e a satisfação que podem ser encontrados no ato de comer. Quando se permitir sentir-se assim de forma sistemática, vai compreender que, na realidade, precisa de menos comida do que pensava para se saciar. Descontrolos alimentares serão coisa do passado!
  7. Lide com as suas emoções sem recurso à comida – Descubra maneiras de se confortar, distrair e curar questões do foro emocional sem usar a comida.
  8. Respeite o seu corpo – Aprenda a respeitar o seu corpo, tal como ele é, para viver mais confortável.
  9. Mova-se e sinta a diferença – Em vez de ver o exercício como uma maneira de queimar calorias, sinta o exercício e as vantagens que é ter um corpo mais capaz de viver.
  10. Honre a sua saúde com leves conhecimentos de nutrição – Aprenda que não tem de ter uma alimentação perfeita para ser verdadeiramente saudável.

Ao seguir os 10 princípios de comer intuitivamente, vai regularizar a sua relação com a comida e passar a ter uma alimentação intuitiva. Cada caso é um caso e os princípios, embora enumerados, não têm de ser seguidos por ordem.

Todos nascemos com esta intuição perante a nossa fome, é algo biológico e uma necessidade básica, mas desde cedo começamos a deturpar todos os sinais e recetores da fome e saciedade.

Comer intuitivamente é o início de uma revolução pessoal que vai acabar com os dramas da alimentação e da imagem corporal!