No outono e inverno, os doentes com alergias ficam expostos a mais fatores de agravamento. No entanto, um alérgico prevenido e controlado pode passar este período com menos sintomas do que uma pessoa supostamente saudável.
Em Portugal, quase um terço da população sofre de doenças alérgicas, sendo mais frequentes a rinite alérgica, que afeta mais de 2 milhões de pessoas, e a asma brônquica, referida por cerca de 1 milhão, embora as queixas na pele, como o eczema atópico e a urticária, em várias formas agudas ou crónicas, sejam também muito frequentes. Alergia alimentar e medicamentosa estão também cada vez mais presentes, tal como os quadros de anafilaxia, a alergia mais grave, que podem pôr a vida em risco em todos os grupos etários.
Pelas suas características climatéricas, são os meses do outono e inverno muito propiciadores da ocorrência e agravamentos dos sintomas alérgicos, pelo que o estabelecimento de um tratamento preventivo deve, idealmente, começar antes do início dos mesmos; caso contrário, as queixas repetem-se ano após ano, por vezes, década após década.
Por outro lado, no contexto da pandemia que atravessamos, é importante evitar ao máximo as manifestações alérgicas, que em alguns casos podem ser confundidas com sintomas de COVID-19, gerando preocupações desnecessárias.
Fatores de agravamento
Nos meses mais frios, os doentes com alergias, que frequentemente se manifestam durante todo o ano, como acontece com os alérgicos aos ácaros, aos animais domésticos e a alguns fungos, ficam expostos a mais fatores de agravamento: infeções respiratórias, mudanças de temperatura, atividades efetuadas no interior dos edifícios ricos em substâncias alergénicas, como é o caso dos ácaros, contribuem para que os quadros clínicos possam piorar. A asma brônquica e a rinite alérgica são das situações que mais se podem complicar neste período, em todas as faixas etárias, desde as crianças pequenas aos adultos seniores.
A inalação de ar frio, especialmente quando a respiração se faz pela boca, é um importante fator de agressão das vias aéreas, provocando queixas nasais e brônquicas. É importante que a inspiração se faça pelo nariz, o que frequentemente não é possível se um quadro de rinite não estiver bem controlado.
Nesta época do ano, a tosse é um sintoma muito escutado. Na rua, na escola, no local de trabalho e, claro está, nos centros de saúde. É um sintoma central em algumas doenças alérgicas, de que é exemplo a asma.
“Será que esta tosse, que me afeta todos os anos, é uma situação alérgica? Otites e sinusites, que as crianças têm todos os anos e que não diminuem com o crescimento, poderão ser devidas a alergia?” Efetivamente, pode ser o caso! Informe-se e procure ajuda.
Importância do diagnóstico
No entanto, é também a tosse uma manifestação e sinal de aviso do comprometimento das vias aéreas, altas e baixas, por agentes infecciosos, ocorrendo tanto em alérgicos como na população acometida de outras doenças, entre elas, a COVID-19.
Importa salientar que a tosse corresponde a um reflexo de proteção, tentando o organismo eliminar o agressor, permitindo remover secreções, etc.. Cuidado, pois, com as tentativas de “calar” a tosse. Se a expetoração não é expelida, penetrará cada vez mais profundamente nas vias aéreas, até originar uma infeção nos pulmões.
Se a situação dura há vários dias, acompanhada de febre e dores no corpo, é fundamental ser observado pelo médico – ou, no panorama atual, contactar o serviço SNS 24 (808 24 24 24), a fim de obter orientações com vista ao estabelecimento de um diagnóstico diferencial.
O tratamento da tosse ou de qualquer manifestação de alergia passa por um diagnóstico das causas e da sua relação com os efeitos. Tentar ocultar os sintomas de um modo inespecífico pode ser muito perigoso, quer em tempo de pandemia quer fora dele.
Sintomas sob controlo
Quem é afetado pelas alergias nesta época do ano deve estar sensível à importância de controlar os sintomas, reduzindo a exposição a alergénios, ventilando, colocando capas antiácaros, prevenindo tanto quanto possível as constipações e as gripes. Dieta equilibrada, ingestão de fruta, prática regular de exercício físico, limpeza e ventilação do domicílio, para além do inevitável uso de máscara nos espaços públicos fechados, bem como nos espaços exteriores com elevada densidade de pessoas, podem ser ações importantes.
O uso de vacinas injetáveis e de medicamentos imunomoduladores anti-infecciosos tomados por via oral, em vários esquemas terapêuticos, mas que se prolongam durante os meses mais críticos, são opções disponíveis, extremamente válidas e eficazes, que os alergologistas aconselham. Reduz-se, assim, quer o número de episódios infecciosos, quer o consumo de antibióticos, melhora-se a qualidade de vida e, ao mesmo tempo, reduzem-se os custos.
Em muitos casos, é necessário seguir algumas das indicações prescritas pelo médico assistente, iniciando ou mantendo um tratamento de controlo, desencadeando a toma de medicação de crise, que é diferente no doente asmático, com rinoconjuntivite ou com queixas da pele.
Existem tratamentos tópicos, sistémicos, antialérgicos, anti-inflamatórios, vacinas antialérgicas; isto é, existem as ferramentas necessárias e suficientes para alcançar um excelente controlo das doenças alérgicas também nestas estações.
Leia o artigo completo na edição de novembro 2020 (nº 310)