Desde sempre, o ser humano tem procurado encontrar uma fórmula mágica que mantenha ou aumente o seu desejo sexual.

Antes de mais, o que é um afrodisíaco? A definição maioritariamente aceite é a que se trata de uma substância com a propriedade de estimular o desejo sexual. De acordo com esta teoria, qualquer fator que provoque um aumento da líbido pode ser considerado como um afrodisíaco: desde um ambiente propício, passando pela desinibição provocada pelo álcool ou uma recordação agradável, até uma substância química ou um fármaco tomados com a expetativa da sua eficácia.

Deste modo, a expressão “afrodisíaco” tem gerado muita confusão num grande número de pessoas. Muitos supõem que tudo aquilo que se considera afrodisíaco melhora infalivelmente a conduta erótica. E não é bem assim!

Há numerosos motivos pelos quais uma substância faz efeito, independentemente da sua indicação. Se se acredita nela, a motivação psicológica pode conduzir à excitação fisiológica. No entanto, a resposta sexual é muito complexa e, como tal, pretender que as ostras ou o ginseng resolvam, por si só, as dificuldades ou os sonhos sexuais de uma pessoa é algo de bastante improvável.

SUBSTÂNCIAS EROTIZANTES

Na opinião de muitos médicos, os afrodisíacos são um mito. Não existem fármacos ou substâncias afrodisíacas propriamente ditas. Uma bebida, um alimento ou certos fármacos podem, de facto, produzir esse efeito secundário, desde que se dê uma coincidência de fatores: a predisposição, a sensibilidade da pessoa e o próprio ambiente. Neste caso, em vez de afrodisíacos, essas substâncias deveriam ser chamadas erotizantes.

Normalmente, as ostras – famosas pela sua capacidade afrodisíaca – não se comem num ambiente deprimente; por outro lado, devem ser acompanhadas com champanhe. Se não fossem estas circunstâncias, dificilmente chegariam a ser consideradas afrodisíacas. É certo que o álcool desinibe, enquanto as ostras fornecem um elevado conteúdo energético; mas sem o poder da imaginação jamais se conseguiria o efeito desejado.

Mas esta não é a única substância de reconhecido poder erotizante. Além dos afrodisíacos herdados da crença popular, como o corno de rinoceronte, os testículos de porco, os tubérculos de orquídea e tantos mais, existem outros, como a planta tropical Acanthea virilis, utilizada em tratamentos para aumentar o desejo sexual.

MÉTODOS ARRISCADOS

Também se utiliza como afrodisíaco uma substância designada cantaridina, obtida a partir da asa da mosca Hispânica, por ser um estimulante da uretra, que provoca a sensação da presença do órgão e recorda, consequentemente, a experiência sexual. No entanto, em doses exageradas, pode provocar a morte. Dentro da mesma linha de risco, situa-se a estricnina, substância que supostamente facilita a fase do orgasmo, mas que é um veneno muito perigoso, desaconselhado mesmo quando tomadas as máximas precauções.

Já num âmbito de muito menor risco, o ginseng – uma raiz de origem coreana – é um revigorante das funções vitais, a que se atribuem propriedades afrodisíacas, ainda que a sua capacidade resida, fundamentalmente, num aumento da resistência ao stress. Contudo, é necessário algum cuidado na seleção da espécie adequada, pois algumas são extremamente perigosas, quando tomadas em doses excessivas.

Menos conhecidas são as plantas Richeria grandis e o Gingko biloba, potentes vasodilatadores de utilização local, sob a forma de injeções ou de pomadas, e com bons resultados do ponto de vista mecânico.

Finalmente, alguns especialistas consideram que todos os produtos que conseguem melhorar a resposta sexual ou eliminar perturbações sexuais constituem, em certa medida, substâncias afrodisíacas, dado que uma melhoria na excitação costuma acompanhar o desejo e vice-versa.

DROGAS: O GRANDE EQUÍVOCO

Drogas como o ecstasy ou a cocaína têm sido motivo de polémica, pelo profundo equívoco de serem considerados potentes afrodisíacos.

De facto, muitas drogas apresentam uma breve ação desinibitória; mas, com a habituação ou em doses superiores, dão origem a um efeito contrário ao pretendido. E não só inibem como – por exemplo, no caso da cocaína – a sua utilização continuada deriva em disfunção sexual.

O mesmo se poderia dizer do álcool, já que, em doses pequenas, desinibe, mas, em excesso, atua como depressor do sistema nervoso central. Quando ingerido na quantidade certa e num ambiente agradável, o álcool aumenta a euforia; no entanto, em doses agressivas, conduz ao fracasso da atividade sexual. Há que ter em conta que a diminuição da capacidade sexual e do prazer são proporcionais à quantidade de álcool no sangue.

A SOLUÇÃO ESTÁ EM CADA UM DE NÓS

Apesar da experiência secular, ainda não se conseguiu demonstrar cientificamente a eficácia da maioria das plantas, alimentos, condimentos ou fármacos comercializados com a finalidade de aumentar o desejo sexual.

Os ditos afrodisíacos vivem das expetativas de quem os procura, como mecanismo de sedução. É um mundo de substâncias químicas e espirituais, às quais se recorre com o objetivo de potenciar a imaginação e de obter experiências ímpares… O homem procura, desta forma, desligar-se do quotidiano, para se transportar a um mundo para além da normalidade.

Consequência destes comportamentos é a minimização da sexualidade ao simples desempenho, isto é, uma ação concreta na qual se dá e se recebe um orgasmo.

Os especialistas em Sexologia recomendam que as pessoas deixem de pensar que o afrodisíaco é a sua salvação: o homem deve ouvir os seus próprios sentimentos e desejos, em vez de comprar soluções. Afinal, a solução está em cada um de nós. Pode-se recorrer ao afrodisíaco como se recorre a um livro erótico, nada mais.

Leia o artigo completo na edição de julho-agosto 2022 (nº 329)