O caráter instável e apaixonado, as amizades exclusivas, as atitudes ambíguas, a revolta perante os pais e o sonhar de olhos abertos constituem a essência psicológica da adolescência. Tudo isto consequência, afinal, das mudanças físicas e hormonais próprias da idade. Uma etapa obrigatória no percurso sinuoso que conduz à conquista de uma identidade pessoal, afetiva e social, por parte do adolescente.

 

Não se sabe ainda perfeitamente como começa a puberdade. Crê-se que existe no cérebro um mecanismo inibitório, que é desativado na puberdade. A parte do cérebro conhecida por hipotálamo liberta, então, uma hormona que dá início à puberdade. É assim que esta fase começa nas raparigas e nos rapazes.

MUDANÇAS FÍSICAS

As mudanças físicas que caracterizam a puberdade tornam os corpos masculino e feminino, ao mesmo tempo, férteis e atraentes para o sexo oposto. A puberdade começa, em geral, entre os 8 e os 14 anos nas raparigas e entre os 10 e os 15 anos nos rapazes. Para as meninas, o primeiro sinal é o crescimento dos seios; nos meninos, é o aumento do tamanho dos órgãos genitais. Em ambos os sexos, a estas mudanças segue-se o aparecimento de pelos na zona genital e nas axilas.

A puberdade é, com frequência, uma época de rápido crescimento físico. Após o aparecimento dos pelos púbicos, a hipófise, uma glândula que se encontra no cérebro, liberta uma hormona, a somatotropina, que vai estimular o crescimento ósseo e muscular.

Nas raparigas, esta fase de crescimento dá-se, em regra, mais cedo. Por volta dos 12 anos, são quase sempre mais altas do que os rapazes da mesma idade; mas aos 15 anos, já os rapazes são mais altos. Quando começam a ser menstruadas, as raparigas têm praticamente a altura definitiva.

A forma do corpo dos jovens também muda: as raparigas engordam e as ancas alargam. Para além do aumento dos seios e do crescimento dos pelos púbicos, também o útero aumenta de volume e os órgãos genitais externos ficam mais escuros e salientes. A vagina dilata, podendo verificar-se um ligeiro corrimento. O aumento dos níveis hormonais que acompanha a puberdade pode tornar a pele mais oleosa e com tendência para a obstrução dos poros, espinhas, pontos negros e acne.

Nos rapazes, a percentagem geral de gordura diminui e os ombros e o tórax tornam-se mais largos do que as ancas. As hormonas causam, também, a chamada “mudança de voz”, resultado do aumento da laringe e cordas vocais. Os testículos, o escroto e o pénis reagem à testosterona, aumentando de tamanho.

MENARCA E EJACULAÇÃO

O acontecimento mais importante da puberdade, para as raparigas, é a primeira menstruação – ou menarca. Esta ocorre, geralmente, entre os 9  e os 17 anos. Há várias causas identificadas para a menarca tardia, designadamente a falta de peso – devido a anorexia nervosa – ou o exercício físico em excesso.

Após a menarca e durante algum tempo, os períodos menstruais podem ser muito irregulares, visto que a jovem pode ovular nuns meses e noutros não. O ciclo menstrual pode levar um ou dois anos a regularizar.

O equivalente masculino do primeiro fluxo menstrual é a primeira ejaculação. Tem o nome de espermarca e acontece, geralmente, por volta dos 13 anos. Esta primeira ejaculação dá-se, quase sempre, à noite, durante o sono, e é conhecida por polução noturna ou “sonho molhado”.

A ejaculação na puberdade não é garantia de fertilidade: apenas indica que a produção de fluido seminal está a começar e que os testículos e a próstata estão a desempenhar adequadamente as suas funções secretoras.

EM BUSCA DA IDENTIDADE

À puberdade chegue-se a adolescência. E a adolescência é a idade das mudanças, um momento de rebeldia, em que, pela primeira vez, a criança toma consciência de si própria, assentando, deste modo, as bases da sua própria identidade pessoal: “quem sou eu?”, “o que quero?”, “qual é a minha missão neste mundo?”, “qual é o meu papel na sociedade?”.

Pode dizer-se que o início deste complexo processo se produz por volta dos 12-13 anos, sendo mais problemático fixar o seu final, já que existem pessoas adultas na idade, mas imaturas sob o ponto de vista psicológico. Porém, este período especial da vida pode descrever-se apenas em função dos fatores biológicos e psicológicos que o caracterizam. As grandes modificações morfológicas revestem-se de grande importância, não só pelo seu simples aparecimento, como também pelo significado ligado à sua presença.

O tornar-se alto pode converter-se em sinónimo de tornar-se maior, enquanto que o aumento de peso pode ser vivido como algo de embaraçoso; o aparecimento dos pelos – púbicos, axilares, torácicos –, a barba, a mudança de voz e o desenvolvimento do peito nas raparigas pode ser sentido, ao mesmo tempo, como perigo e como afirmação.

A primeira menstruação pode resultar numa descoberta inquietante ou marcar a feminilidade, enquanto que a ereção e a ejaculação podem ser acompanhadas por um certo sentimento de culpa, face às proibições sociais.

Às modificações morfológicas somam-se as instintivas, como o despertar dos impulsos: a sexualidade apresenta-se sob novas dimensões, já não como curiosidade ou excitação, mas sim como atração pelo sexo contrário e procura de um intercâmbio mais íntimo, que é o pressuposto fundamental da relação amorosa.

 

Leia o artigo completo na edição de outubro 2016 (nº 265)