Hoje, temos múltiplas alternativas de abordagem cirúrgica com variados níveis de condicionalismo restritivo e adaptadas às características de cada indivíduo, para resultados ambiciosos e prolongados no tempo. Quando efetuadas em centros experientes, são cirurgias com um perfil de segurança muito elevado.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. Eduardo Lima da Costa  Assistente Hospitalar Graduado de Cirurgia Geral. Diretor do CRI de Obesidade do Centro Hospitalar Universitário São João

 

 

 

A obesidade, como doença crónica e problema de saúde pública de reconhecida importância, responsável por perda de qualidade de vida e potencial impacto major na esperança de vida dos portugueses, encontra-se numa encruzilhada perigosa. A sua elevada prevalência (com estudos recentes a apontar para um terço da nossa população afetada) condiciona-nos na sua desvalorização ao normalizar excessos ponderais que deveriam ser precocemente sinalizados e resolvidos. Encaramos com alguma passividade o problema instalado na nossa população, mesmo entre os mais jovens, com uma resignação que em nada ajuda à resolução do problema.

ESTIGMA ASSOCIADO

Por outro lado, o fortíssimo estigma frequentemente associado à obesidade mais extrema surge entre nós como a última forma de discriminação social ainda genericamente aceite na nossa Sociedade tão modernizada.

Atribuímos aos obesos mórbidos a responsabilidade última pelo seu desequilíbrio, como se esse não tivesse tido uma evolução que fomos frequentemente ignorando. Da mesma forma, esquecemos a origem multifatorial do problema, muitas vezes de difícil controlo pelo indivíduo visado e que passa por aspetos tão díspares como a publicidade agressiva de maus alimentos ou a arquitetura das nossas cidades, pouco amiga do exercício físico.

Passamos do 8 ao 80, não entendendo este flagelo que nos atinge e que, pela primeira vez em décadas, ameaça o aumento da longevidade das nossas populações.

MUITOS RISCOS

A obesidade, nas suas várias formas e etiologias mais ou menos complexas, instala-se entre nós de forma insidiosa, sendo responsável pelo aumento do risco cardiovascular, da diabetes tipo 2, da apneia do sono e do risco de múltiplos cancros.

Afeta o nosso amor-próprio e a capacidade de afirmação social e profissional, favorece mazelas, como incontinência urinária de esforço ou cefaleias, e condiciona a fertilidade. Tudo isto numa era de informação e conhecimento científico que nos proporciona um número crescente de armas eficazes para um adequado e sustentado controlo do peso.

ARMAS EFICAZES

Nunca antes o poder central influiu tanto no teor de açúcares e gordura dos alimentos ou se soube tanto sobre o efeito de técnicas de condicionamento psíquico, de dietas estruturadas e cientificamente pensadas, do poder mobilizador do músculo após o adequado exercício físico.

Também no apoio farmacológico se têm aberto novas e interessantes perspetivas (nomeadamente com os novos agonistas do GLP-1), reposicionando o seu alcance no tratamento da obesidade e pré-obesidade.

Para as formas mais importantes de excesso de peso ou, simplesmente, para quem tem obesidade resiliente a tratamentos conservadores com consequências psíquicas ou metabólicas, nunca foram disponibilizadas técnicas cirúrgicas tão completas, equilibradas, seguras e discretas como hoje. Depois da velhinha e há muito abandonada banda gástrica, de eficácia limitada e transitória entre doentes motivados e capazes de sacrifícios, processou-se uma verdadeira revolução.

Leia o artigo completo na edição de abril 2022 (nº 326)