Mais de 67% da população portuguesa tem pré-obesidade ou obesidade, sendo que 28,7% são já obesos, o que representa um custo direto anual de 1,2 mil milhões de euros. Estes são números que fazem com que todos tenhamos de agir.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. António Albuquerque  Cirurgião e vice-presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade

 

A obesidade é uma doença complexa e multifatorial, reconhecida no nosso país como patologia desde 2004 e constitui um grave problema de saúde pública, atingindo cada vez mais pessoas em Portugal e no mundo.

Apesar de ser considerada uma doença crónica, diversas barreiras impedem o controlo das taxas crescentes de prevalência da obesidade e uma intervenção de sucesso pelos serviços de saúde pública.

Não obstante os sucessivos programas e iniciativas públicas ao longo dos anos, a prevalência da doença continua a aumentar e, de acordo com as primeiras conclusões do estudo “Custo e carga do excesso de peso e da obesidade em Portugal”, 67,6% da população portuguesa tem pré-obesidade ou obesidade (ou seja, têm um índice de massa corporal – IMC – acima de 25 kg/m2), sendo que a prevalência de obesidade – IMC acima de 30 kg/m2 – é de 28,7 por cento.

A obesidade e a pré-obesidade representam um custo direto anual de 1,2 mil milhões de euros no País, ou seja, 0,6% do PIB e 6% das despesas de saúde.

2,4 MILHÕES DE DOENTES EM 2025

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) coloca Portugal como terceiro país europeu com maior prevalência da doença, atrás da Hungria e da Turquia, o que leva a Federação Mundial da Obesidade a prever que, em 2025, deverão existir 2,4 milhões de doentes com obesidade no nosso país.

Estes são números que fazem com que todos tenhamos de agir, precisamente o lema da campanha lançada pela Federação Mundial da Obesidade este ano. Neste sentido, a Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), em conjunto com a Associação de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO) e a Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM), lançaram há um ano uma “call to action”  designada “Recalibrar a Balança”.

RECOMENDAÇÕES E ESTRATÉGIAS

Este documento apresenta um conjunto de recomendações e estratégias e aponta cinco prioridades para melhorar a forma como a obesidade é gerida em Portugal e que passam por:

  1. Promover uma abordagem holística e digna no tratamento da obesidade – do ónus individual é urgente passar para uma visão partilhada de saúde pública, no qual todos têm um papel a desempenhar;
  2. Mobilizar recursos para garantir a formação especializada dos profissionais de saúde;
  3. Criar um programa de consultas de obesidade nos cuidados de saúde primários;
  4. Viabilizar a comparticipação do tratamento farmacológico da obesidade, garantido equidade
  5. Criar mecanismos de combate ao estigma e descriminação associados a esta doença.

Depois de apresentadas aos diferentes grupos parlamentares, estas prioridades foram traduzidas na publicação, em Diário da República, de uma recomendação da Assembleia da República ao Governo para que sejam implementadas 13 medidas para a prevenção e o tratamento da obesidade.

FATOR DE RISCO PARA A COVID-19

Não podemos ignorar que a pandemia da covid-19 tornou ainda mais evidente a necessidade de prevenir e tratar a obesidade: vários estudos relacionam a obesidade com casos mais graves de infeção pelo coronavírus, maior necessidade de internamento hospitalar e tratamento mais intensivo.

Uma análise de dados publicada o ano passado na revista Obesity Reviews concluiu que os doentes com obesidade têm um risco 46% mais elevado de contraírem o vírus SARS-CoV-2 e que o risco de virem a necessitar de tratamento hospitalar é 113% superior. É também 74% mais provável que estas pessoas precisem de internamento nos cuidados intensivos, com uma maior probabilidade (48%) de morte. Por outro lado, o confinamento social contribuiu para que 26,4% dos portugueses tenham aumentado de peso.

Assim, de todas as doenças consideradas como fatores de risco para a covid-19, a obesidade é a mais comum, tendo em conta a prevalência a nível mundial e também no nosso país.

Leia o artigo completo na edição de abril 2022 (nº 326)