A obesidade precisa urgentemente de ser tratada como uma doença crónica e reincidente. O apelo é da Sociedade Europeia de Endocrinologia, preocupada com o impacto que a obesidade está ter na Europa, e é subscrito pela Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), Sociedade de Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo (SPEDM) e pela Associação dos Obesos e Ex-Obesos de Portugal (ADEXO), entidades que estão juntas na plataforma “Recalibrar a Balança – por uma resposta holística e equitativa contra a obesidade”.
Neste Dia Nacional de Luta contra a Obesidade, que se assinala a 22 de maio, a SPEO, a SPEDM e ADEXO sublinham a urgência de Portugal melhorar a forma como é feito o tratamento e gestão de obesidade, recordando as cinco prioridades definidas na plataforma “Recalibrar a Balança”:
- Promover uma abordagem holística e digna no tratamento da obesidade – do ónus individual é urgente passar para uma visão partilhada de saúde pública, no qual todos têm um papel a desempenhar;
- Mobilizar recursos para garantir a formação especializada dos profissionais de saúde;
- Criar um programa de consultas de obesidade nos cuidados de saúde primários;
- Viabilizar a comparticipação do tratamento farmacológico da obesidade, garantindo equidade;
- Criar mecanismos de combate ao estigma e discriminação associados a esta doença.
De acordo com a Sociedade Europeia de Endocrinologia, a obesidade está a tornar-se o problema de saúde mais prevalente a nível mundial, vivendo mais de metade dos europeus com excesso de peso ou obesidade, uma realidade que também se aplica a Portugal.
Tendo em conta esta realidade, a União Europeia (UE) criou várias iniciativas e campanhas de combate e prevenção da obesidade e, por ocasião do Dia Mundial da Obesidade, deste ano (4 de março), a Comissão Europeia publicou um documento sobre prevenção da obesidade na qual é feita a categorização desta como doença não transmissível.
No entanto, não foram tomadas medidas para implementar um tratamento uniforme da obesidade como doença endócrina crónica em toda a Europa. Aliás, na Europa, só Portugal, Itália e Holanda classificam a obesidade como doença.
A Dra. Paula Freitas, presidente da SPEO, recorda que “lançámos o Recalibrar a Balança por ocasião do Dia Mundial da Obesidade porque sentimos que é urgente implementar uma mudança na forma como o nosso país aborda a obesidade. Sobretudo agora que a pandemia já exerce menos pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde, mas temos uma população mais pobre e mais doente.
É importante relembrar a toda a população que perder peso significa ganhar saúde e que o médico pode ser o melhor aliado na luta contra o excesso de peso”.
Já o Dr. João Jácome de Castro, presidente da SPEDM, considera que “a obesidade é efetivamente uma doença endócrina e o tecido adiposo é hoje em dia encarado como um órgão endócrino.
É preciso lembrar que o tecido adiposo está totalmente integrado na regulação do metabolismo e das funções neuroendócrina e imunitária e por isso a gestão e tratamento da obesidade têm de envolver profissionais de saúde.
Além disso, Portugal precisa de tornar mais eficaz a forma como se lida com o tratamento da obesidade.
Os caminhos apontados pelo “Recalibrar a Balança” podem efetivamente fazer toda a diferença”.
Carlos Oliveira, presidente da ADEXO, defende que “se por um lado Portugal considera formalmente que a obesidade é uma doença, algo que não acontece em muitos países da Europa, na prática há ainda muitas mudanças a implementar.
É preciso tratar a obesidade antes de tratar as suas consequências, como são a diabetes, a hipertensão ou alguns cancros e temos também de lutar contra o estigma e a discriminação com os quais as pessoas com obesidade vivem diariamente.”
Estima-se que haja 650 milhões de adultos a viver com obesidade em todo o mundo, segundo números da Organização Mundial de Saúde de 2016 e 1,5 milhões em Portugal (Inquérito Nacional de Saúde 2019).
A obesidade é um fator de risco para várias comorbilidades: além de aumentar o risco de morte por covid-19, estima-se que aumente o risco até 80% dos casos de diabetes tipo 2, 35% dos casos de doença cardíaca isquêmica, 55% dos casos de hipertensão arterial e 40% dos casos de cancro na Europa.
A esta lista junta-se o impacto económico: em 2014 estimava-se um custo de 120,6 mil milhões de euros em cuidados de saúde prestados na Europa, associados ao excesso de peso e obesidade, um número que se estima que seja de 197 mil milhões até 2025.