São múltiplas as doenças preveníveis através de vacinação, do início ao fim da vida. Destaco sete e relembro que a aposta na prevenção será sempre preferível aos custos da cura.

 

Artigo da responsabilidade do Dr. Rui Costa, especialista de Medicina Geral e Familiar; coordenador do GRESP – Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da APMGF

 

 

 

 

A realidade mostra-nos a importância cada vez maior de investir na prevenção de doenças graves. A vacinação deve ser uma prioridade em todas as faixas etárias e devemos cumpri-la sempre, seja através do Programa Nacional de Vacinação (PNV) ou através das recomendações extra-plano, aconselhadas pelos médicos assistentes.

Há pouco mais de um ano, no início da pandemia, a Direção Geral da Saúde (DGS) reforçou a importância da vacinação e do cumprimento de cada um dos nossos planos de imunização. Reforçou, em particular, o primeiro ano de vida, período em que as crianças são imunizadas contra doenças graves e potencialmente fatais, patologias que, felizmente, podemos prevenir através de vacinação. Reforço, também, o caso dos mais idosos, a quem devemos especial atenção. Com o passar dos anos, chega também o enfraquecimento do nosso sistema imunitário. Devemos estar preparados e prevenir o que nos é possível.

São múltiplas as doenças preveníveis através de vacinação, do início ao fim da vida. Destaco sete e relembro que a aposta na prevenção será sempre preferível aos custos da cura.

SARAMPO

Infeção provocada por um vírus, o sarampo tem como sintomas mais comuns febre e mal-estar, tosse, conjuntivite, corrimento nasal e manchas vermelhas dispersas na pele. Pode ser transmitido por contacto direto com gotículas infecciosas ou por propagação no ar (em casos de tosse ou espirros, por exemplo). Apesar de ser benigna na maioria dos casos, a infeção pode revelar-se grave, deixar sequelas neurológicas ou mesmo levar à morte.

O nosso Programa Nacional de Vacinação inclui a vacina para o sarampo para crianças e adultos que ainda não tenham sido imunizados.

MENINGITE

Embora rara, a meningite é uma infeção grave e potencialmente fatal, e por isso deve ser outra das nossas prioridades. Pode ser contraída em qualquer idade, mas as crianças pequenas e os adolescentes fazem parte dos grupos de risco. São conhecidos seis serogrupos (A, B, C, W, X e Y) da meningite meningocócica – a forma mais grave e mais comum da doença. Podem ser transmitidos por via aérea, por proximidade física, nas gotículas presentes nas secreções respiratórias, na tosse, nos espirros ou nos beijos.

Febre, dor de cabeça intensa, náuseas e vómitos, irritabilidade, confusão mental, estado de cansaço extremo, agitação psicomotora, rigidez da nuca, erupções da pele e choro agudo são os sintomas mais comuns desta doença, que apresenta uma mortalidade de 10%. Na sua forma mais grave, pode levar à morte nas primeiras 24 a 48 horas.

Apesar de ser uma doença rara, temos assistido ao crescimento de casos do grupo B um pouco por toda a Europa. Devemos também estar atentos ao crescimento discreto, mas rápido, do grupo W.

Em Portugal, são múltiplas as vacinas disponíveis para prevenir os diferentes serogrupos, seja em PNV ou extra-Plano Vacinal.

RUBÉOLA

A vacina contra a rubéola está em PNV. A rubéola é uma infeção viral contagiosa que pode ter consequências devastadoras, sobretudo durante a gravidez. Uma grávida infetada durante as primeiras 16 semanas tem uma enorme probabilidade de passar essa infeção ao feto. Essa infeção pode causar abortos espontâneos, nados-mortos ou nascimentos com deficiências congénitas graves.

Entre os sintomas mais comuns da rubéola encontramos erupções rosa pálido, lisas e regulares, de distribuição rápida na pele, acompanhadas de gânglios palpáveis e dolorosos na zona posterior do pescoço e nuca. Sinais como febre baixa, dor de cabeça, mal-estar, conjuntivite ligeira, inflamação e corrimento nasal, dor articular, falta de apetite, dor a engolir e tosse são sintomas complementares desta doença, que se transmite, sobretudo, por contacto direto com uma pessoa infetada ou pelo contacto com secreções nasofaríngeas por dispersão de gotículas.

Por todas as razões enunciadas, a aposta na prevenção é fundamental.

PNEUMONIA

Inflamação dos pulmões, geralmente causada por infeção, a pneumonia pode ser causada por diferentes agentes infecciosos, como vírus, bactérias e fungos. Pode transmitir-se por contacto direto com as secreções respiratórias de um doente ou mesmo de um portador saudável. A bactéria pneumococo é apontada como a causa mais frequente e, felizmente, a infeção pode ser prevenida através de vacinação.

Os sintomas mais comuns da pneumonia incluem tosse com expetoração, febre, calafrios, falta de ar, dor no peito quando se inspira fundo, vómitos, perda de apetite e dores no corpo.

A vacinação antipneumocócica é a forma mais eficaz de prevenir a pneumonia e está em PNV para todas as crianças nascidas a partir de 2015, bem como para alguns grupos de risco. Está recomendada pela DGS a todos os adultos que sofram de algumas doenças crónicas ou que, por alguma razão, tenham um sistema imunitário mais fragilizado.

PAPEIRA

A papeira ou parotidite tem causa viral e aguda. Transmite-se entre pessoas ou pelo contacto com objetos e superfícies contaminadas. A sua manifestação mais comum é o inchaço de uma ou de ambas as parótidas, abaixo dos ouvidos. Os sintomas iniciais de uma papeira caracterizam-se por dor de cabeça, perda de apetite, mal-estar e febre. Quando atinge as glândulas salivares, a febre aumenta para temperaturas elevadas, e pode persistir entre 24 a 72 horas. Apenas um terço dos doentes apresentam sintomas respiratórios moderados. Se a infeção passar para outros órgãos, sobretudo se envolver o testículo e ou o sistema nervoso central, pode causar orquite, meningite e encefalite.

O aparecimento da vacina levou à redução drástica do número de casos. Em Portugal, está no Programa Nacional de Vacinação.

HPV

A vacina contra infeções por HPV (vírus do papiloma humano) faz parte do PNV e está recomendada para administração a partir dos 10 anos de idade.

Responsável por um elevado número de infeções que, na maioria das vezes, não apresentam sintomas e são de regressão espontânea, a infeção por HPV é uma das infeções de transmissão sexual mais comuns a nível mundial.

A maioria dos infetados não têm sintomas nem sinais óbvios. Por vezes, dá-se a presença de verrugas, mas são pouco percetíveis, seja pela sua localização ou pela dimensão que apresentam. Transmitidas, maioritariamente, por via sexual, as infeções por HPV podem originar vários tipos de cancro, como o cancro do colo do útero, o cancro vaginal, anal ou da vulva, o cancro orofaríngeo ou o cancro peniano. Razões mais que suficientes para a inclusão da vacina no PNV, ainda mais em tão tenra idade.

COVID-19

A atualidade fala por si. Nunca como agora se falou tanto de uma vacina e dos benefícios que pode ter na prevenção e na travagem dos efeitos devastadores de uma infeção.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a grande maioria dos doentes com covid-19 apresentam sintomas, tais como, febre, tosse seca, falta de ar ou dificuldade respiratória, dor de garganta, diarreia, fadiga, arrepios, mialgias ou dores musculares, e perda de paladar ou de olfato. O processo de vacinação contra a covid-19 está em curso, não só em Portugal, como no resto do mundo.

VACINE-SE!

Dei sete exemplos, mas poderia dar muitos mais. Todos são doenças que podemos (e devemos) prevenir ao longo da vida. Por nós, pelos nossos e pela comunidade em que estamos inseridos. A par destas vacinas, encontramos outras de igual importância. Estão recomendadas, dentro e fora do Programa Nacional de Vacinação. Vacine-se pela sua rica saúde!

Artigo publicado na edição de maio 2021 (nº 316)