Com o início de mais um ano letivo, a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) relembra alguns dos principais sinais a que os pais devem ficar atentos e que podem ser um indício de erros refrativos ou até doenças na visão dos mais novos. Vinte por cento das crianças têm problemas de visão que interferem com o seu rendimento escolar e, por isso, a deteção precoce é a chave para o tratamento eficaz. A SPO reforça assim a importância das consultas de oftalmologia pediátrica de rotina nas crianças.
Miopia (dificuldade em ver ao longe), astigmatismo (visão distorcida) e hipermetropia (esforço aumentado com dificuldade em ver sobretudo ao perto) são os erros refrativos que podem afetar a nitidez da imagem dos olhos. Na criança particularmente perigosos quando presentes de forma assimétrica, ou seja, um olho com a imagem mais nítida, outro com a imagem mais desfocada, dando a ilusão aos pais de que as crianças veem bem. Se não forem corrigidos atempadamente, podem causar défices visuais permanentes, porque a criança tem tendência a evitar usar o olho com a imagem menos nítida, levando a que este fique mais “preguiçoso”, processo que chamamos de ambliopia.
Nas crianças, as doenças mais comuns são o estrabismo e a ambliopia. Estrabismo denomina a existência de um desalinhamento ocular. Surge habitualmente nas crianças podendo, em muitas delas, estar presente desde a nascença. É importante diagnosticar e tratar esta doença quando a criança ainda é pequena pois, caso contrário, a visão de um dos olhos poderá ficar irremediavelmente diminuída e em alguns casos pode perder-se a oportunidade de recuperar a visão binocular. A criança com estrabismo tem tendência a usar menos o olho desviado, levando a que este vá ficando mais “preguiçoso” (ambliope).
Ricardo Parreira, coordenador de Grupo Português de Estrabismo e Oftalmologia Pediátrica da SPO, alerta: “É muito importante a correção do estrabismo desde cedo, não apenas pelas questões relacionadas com a saúde ocular, mas também pelas consequências que pode trazer na entrada para o período escolar. Pode levar a uma menor autoestima por parte da criança e a um aumento do risco de sofrer bullying, além do impacto no seu rendimento escolar”.
Pais e professores devem, por isso, manter um elevado grau de vigilância e valorizar os pequenos sinais de que algo pode não estar bem na saúde ocular das crianças, tais como:
- Desinteresse na televisão;
- Lentidão ou rejeição das tarefas que exigem esforço visual;
- Fechar ou tapar um dos olhos;
- Lacrimejo;
- Dificuldade em suportar a luz (fotofobia);
- Olhos vermelhos e inchados;
- Dificuldade na leitura;
- Erros a copiar do quadro.
Por último, num mundo cada vez mais globalizado e tecnológico, é importante limitar o tempo de exposição das crianças aos ecrãs, respeitando a importância das pausas oculares. De acordo com as recomendações da Organização Mundial (OMS), em 2019, as crianças menores de 2 anos não devem ter qualquer tipo de exposição a ecrãs e as de 2 aos 5 anos não devem estar expostas mais do que uma hora por dia. Há também evidência científica de que o contacto com a luz natural pode evitar o início da miopia. Neste sentido, pais, professores e educadores têm a missão de incentivar a realização de iniciativas que privilegiem a interação direta e optar por atividades mais lúdicas e ao livre.