Artigo da responsabilidade do Enf.º Bruno Reis, Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia
A Sociedade evoluiu e é hoje mais informada epor isso, mais exigente e mais ciente do que são os seus direitos e deveres. Os prestadores de cuidados de saúde têm vindo a adaptar-se a essa evolução, adequando as suas práticas a essa necessidade e exigência.
Salvaguardo que sou Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstétrica, a trabalhar num Hospital Público e que este artigo é apenas a minha opinião sobre um tema muito sensível e complicado, tendo por base a minha experiência profissional.
A violência, seja qual for o tipo, é reprovável!
O conceito “Violência Obstétrica” tem sido, fruto dos tempos, muito falado, até banalizado, mas de forma pouca esclarecedora, do meu ponto de vista.
Não podemos falar em “Violência Obstétrica” sem chamar à discussão conceitos como o Consentimento Informado e a Livre Escolha.
Qualquer pessoa tem o direito de ser informada de todo e qualquer ato que lhe seja dirigido para que possa, de livre vontade, aceitar o mesmo, dando assim o seu consentimento para a intervenção. Neste processo de aceitação deve expor as suas dúvidas e solicitar todos os esclarecimentos que ache necessários. Se pretender que algo seja realizado ou não realizado, deve informar os profissionais dessa intenção.
Este diálogo deve existir e cabe à equipa multidisciplinar equacionar a vontade da utente e ponderar se a mesma é segura e se a pessoa está devidamente informada das possíveis consequências da sua vontade expressa.
A este processo chamamos Consentimento Informado Livre e Esclarecido, prática que deve acontecer sempre, pois supri-la é, desde logo, má prática profissional, eticamente reprovável e judicialmente punível.
Assumindo que a pessoa, mesmo na Obstetrícia, tem direito à sua privacidade e reserva da sua intimidade, a forma como “expomos” as mulheres deve ser cuidada para que haja, em primeira instância, brio profissional, respeito pelo próximo e um cuidado extremo com corpo feminino.
“Falhamos” quando não cumprimos princípios básicos de respeito pelo corpo feminino, fazendo com que a mulher se sinta, de alguma forma, violentada. Isso, além de ser violência obstétrica, é má prática profissional!
Assumo que possam existir, lamentavelmente, casos pontuais de violência verbal, pouco sentido de oportunidade e, por vezes, pouca empatia, mas generalizar e estigmatizar este assunto como sendo um problema global e comum é servir outros interesses também eles pouco nobres.
Em Portugal, existem bons exemplos onde a Obstetrícia é um ato pleno de respeito e consentimento. Acredito serem mais os casos onde isso acontece do que o contrário e, parece-me arriscado, assustar as mulheres com um tema que peca por falta de esclarecimento.
É importante envolver a mulher ou o casal nas suas escolhas e, aconselhar sobre a viabilidade das mesmas, para que a segurança seja garantida.
Informar e esclarecer são os atos a vulgarizar nas unidades de saúde, e cada vez mais, os profissionais estão apostados em fazê-lo. É importante que as equipas se preparem para as novas correntes e tendências, para que essa adaptação seja eficaz e produza satisfação na população a cuidar.
Cabe a todos que este tema seja apenas um ato do passado e uma temática que possa perdurar nos compêndios da história.
Nada se faz sem diálogo e, hoje mais do que nunca, as mulheres devem exigir esse diálogo. Ficou para trás o tempo da aceitação muda, mas temos de ter a consciência que o Dr. Google não é em fonte exata de informação e que o princípio base e elementar para os cuidados em Saúde é a confiança.
Aconselhe-se, oiça várias opiniões e escolha em consciência, mas essencialmente, sinta-se parte dessa escolha e faça com que o respeito por si, pelo seu corpo e pela sua família seja sempre a premissa que define todo o processo.
Ressalvo que em Portugal é seguro nascer, e que os profissionais que trabalham nesta área são dos melhores, senão os Melhores do Mundo.
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