Cuidar das pernas é um passo para se sentir bem e voltar a usar um vestido curto ou calções sem vergonha. Mas é também uma questão de saúde, dado que a doença venosa crónica não melhora espontaneamente e tende a piorar na ausência de tratamento.

Artigo da responsabilidade da Dra. Joana de Carvalho. Cirurgiã Vascular,  diretora da LegClinic by Allure. Autora dos livros “Pernas Lindas – Como ter as pernas com que sempre sonhou” e “Lipedema – Como tratar a “doença das pernas gordas”

 

Desde criança, as saias e os vestidos foram a minha eleição, e ainda hoje o meu guarda-roupa espelha essa preferência. Compreendo, por isso, a infelicidade de muitas pacientes que me confidenciam ter vergonha de expor as suas pernas na praia ou na piscina, chegando a comprometer a sua qualidade de vida. Apercebi-me, ao longo dos anos, que umas “pernas lindas” são muito mais do que a ausência de varizes ou derrames e que todas nós ambicionamos exibi-las com confiança.

O QUE É A DOENÇA VENOSA CRÓNICA?

A doença venosa crónica (DVC) é uma condição que afeta as veias das pernas, dificultando o retorno do sangue ao coração. É um problema extremamente prevalente entre as mulheres. É comum, no entanto, haver confusão entre varizes e derrames. Vamos esclarecer:

VARIZES são veias dilatadas e tortuosas, com mais de 3mm de diâmetro, visíveis a olho nu e palpáveis como saliências na pele.

TELANGIECTASIAS, muitas vezes chamados de “derrames” ou “aranhas vasculares”, são pequenos vasos na espessura da pele, de cor roxa, vermelha ou azul, muito evidentes. Embora possam causar desconforto, a sua importância é sobretudo estética, e não se transformarão em varizes nem levarão às complicações que as mesmas podem condicionar.

O que algumas pessoas chamam de “varizes internas” são, na verdade, veias mais profundas, não evidentes a olho nu, as quais, estando doentes (com insuficiência ou refluxo valvular), “alimentam” as varizes externas. O tratamento destas veias profundas é essencial para os bons e duradouros resultados das terapêuticas.

PORQUE AFETA SOBRETUDO AS MULHERES?

Todos nós podemos ter varizes, mas a genética é um dos principais fatores de risco e a predisposição familiar é muito comum. As mulheres são mais afetadas devido a fatores como:

Alterações hormonais que ocorrem ao longo da vida, como na puberdade, durante o uso de contracetivos orais, na gravidez e na menopausa.

A gravidez é um fator de risco importante, devido ao “boom” hormonal e ao peso do útero gravídico. É por este motivo que, se não houver planos a curto prazo para engravidar, as varizes devem ser tratadas previamente, para uma gravidez mais confortável e segura.

SINTOMAS E COMPLICAÇÕES

Os sintomas mais típicos incluem dor, sensação de peso e cansaço nas pernas, que se agravam ao fim do dia, com o calor e durante o período menstrual. Pode surgir também edema (inchaço), geralmente ao fim do dia e que regride com o descanso noturno. Pernas “inquietas” e cãibras noturnas são também sintomas comuns.

Em casos mais avançados, podem surgir manchas acastanhadas na pele (hiperpigmentação) ou o endurecimento da pele, que fica com aspeto brilhante e fragilizado (lipodermatosclerose).

Infelizmente, muitos destes sinais não regridem após o tratamento, o que reforça a importância da intervenção precoce. Nos casos mais graves, podem mesmo surgir feridas (úlceras) e há um risco acrescido de tromboflebites (coágulos nas veias, que causam dor, calor e vermelhidão). É crucial saber que a doença venosa crónica não melhora espontaneamente e tende a piorar na ausência de tratamento.

Leia o artigo completo na edição de julho/agosto 2025 (nº 362)