E se lhe dissesse que ter asma não o impede de fazer exercício físico? E sabia que a asma pode começar na idade adulta? E que quando está melhor deverá continuar a fazer a sua medicação inalada? E que esta não lhe causa habituação nem faz mal ao coração? E sabia que já existem medicamentos biológicos para os doentes graves? Há muitos mitos que são importantes combater nesta área e ainda muito a esclarecer.

Artigo da responsabilidade da Dra. Marta Dias de Sousa. Pneumologista no Centro Hospitalar Tondela-Viseu

 

A 2 de maio assinala-se o Dia Mundial da Asma e o objetivo desta data é sensibilizar a população para a necessidade de conhecer a doença e as suas complicações, procurando a adesão ao tratamento e o seu controlo.

A asma é uma doença muito prevalente, que afeta todas as faixas etárias e apresenta um enorme impacto em termos de recursos de saúde, absentismo e qualidade de vida. Estima-se que, a nível mundial, existam 334 milhões de asmáticos, e no nosso país cerca de 700.000 doentes, 20 a 30 mil dos quais com asma grave.

A asma carateriza-se por uma inflamação crónica das vias aéreas que condiciona estreitamento dos brônquios, resultando na sensação de dificuldade respiratória.

Os sintomas típicos são a falta de ar, pieira (descrita muitas vezes como “gatinhos”), tosse, mais frequentemente seca, e aperto no peito. Estes sintomas variam ao longo do tempo e em intensidade, podendo agravar com o esforço físico, exposição a alergénios (pólenes, pó), fumo, irritantes, inalação de ar frio, emoções fortes e em algumas infeções víricas.

A maioria dos doentes poderá ter também outras patologias associadas, nomeadamente a rinite, presente em cerca de 80% dos casos.

Sendo uma doença heterogénea, com diferentes processos subjacentes, pode ter manifestações diferentes de indivíduo para indivíduo, e mesmo no próprio doente ao longo da vida.

Apesar de não ter cura, com o tratamento adequado muitos doentes poderão fazer a sua vida normal, sem restrições, praticamente sem se lembrar que têm Asma a não ser na altura de fazer a medicação.

O tratamento chave são os corticoides, que promovem a diminuição da inflamação e o controlo da doença, e os broncodilatadores, que vão desencadear o alívio rápido da falta de ar.

Os fármacos são administrados preferencialmente sob a via inalatória, de forma a haver uma atuação rápida nos brônquicos, com mínimos efeitos laterais. Em alguns doentes mais sintomáticos, nas crises ou mesmo cronicamente, poderá ser necessária a administração de corticoides sistémicos, ou seja, em comprimidos/sob a forma endovenosa.

Tendo em conta que a asma é uma doença crónica, a terapêutica deve ser feita diariamente. Os doentes que não cumprem apresentam maior risco de exacerbações/crises de asma, que são episódios agudos de agravamento dos sintomas. Estes eventos podem ser fatais e podem ocorrer mesmo em doentes com doença ligeira, nomeadamente quando não estão a fazer a terapêutica de controlo.

Há ainda um subgrupo de doentes que permanece sintomático, apesar da terapêutica máxima otimizada. Felizmente para estes doentes com asma grave, hoje em dia já temos medicamentos biológicos, nomeadamente dirigidos a um tipo de inflamação (inflamação do tipo 2, presente em 70% dos doentes), que poderão permitir um controlo adequada da doença.

Importante ressalvar que apesar toda a inovação terapêutica a que temos assistido nesta área, muitos doentes continuam não controlados por má adesão ao tratamento e muitos destes não têm perceção do descontrolo da doença, o que faz com que não procurem ajuda para melhorar a situação. Os doentes habituam-se aos sintomas, vão adaptando o seu dia-a-dia, evitando exposições e fazendo menos esforços.

Daí ser importante alertar e sensibilizar. Não deixe que a doença o condicione! E procure ajuda médica, se tem estas queixas e ainda não tem diagnóstico, ou se o tratamento ainda não controla as os seus sintomas.

Porque não é normal ter asma. Mas pode ter uma vida normal com asma!