A termoablação percutânea é uma das técnicas de Radiologia de Intervenção que em muito tem contribuído para a melhoria dos cuidados prestados aos doentes, com excelentes resultados, tempos mais curtos de internamento e óbvios ganhos em termos de qualidade de saúde e económicos.

Artigo da responsabilidade do Dr. Pedro Marinho Lopes. Médico radiologista. Coordenador da Unidade Funcional de Radiologia de Intervenção do CHVNG – Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia

 

Atualmente, no mundo inteiro, milhões de pessoas vivem com o diagnóstico de cancro. O enorme peso socioeconómico destas patologias tem servido de motor a uma constante procura por soluções inovadoras para o seu combate, não só a nível do tratamento, mas também no diagnóstico mais precoce e até na sua prevenção, tendo sempre como preocupação a melhoria da qualidade de vida das pessoas com cancro, durante e após o tratamento.

No que se refere às opções de tratamento, o que se deseja são respostas mais eficazes, mas ao mesmo tempo com menores efeitos laterais, menor invasividade e, no limite, economicamente comportáveis. As técnicas de termoablação percutânea aqui apresentadas reúnem todos esses critérios.

RADIOLOGIA DE INTERVENÇÃO

A Radiologia de Intervenção é uma área de diferenciação, dentro do universo da Radiologia (especialidade médica), que se dedica ao diagnóstico e tratamento de várias patologias de um modo minimamente invasivo. Recorre a técnicas de imagem, fazendo uso das mais modernas tecnologias.

Alguns médicos portugueses tiveram e têm um papel fundamental no desenvolvimento da Radiologia de Intervenção mundial. No entanto, esta é uma área ainda pouco conhecida pela população em geral e mesmo por muitos profissionais de Saúde, acrescendo o facto de, salvo meritórias exceções, só estar disponível nos grandes Centros Hospitalares e em algumas instituições privadas (algo importante a corrigir a curto prazo).

As técnicas realizadas no âmbito da RI, sendo percutâneas e/ou endovasculares, implicam, na sua globalidade, apenas uma incisão milimétrica na pele (imagem 1). Assim, ao serem menos invasivas do que as técnicas clássicas, permitem menores tempos de internamento, menor risco de complicações, custos menores e um retorno mais rápido à vida ativa, com uma eficácia comparável, proporcionando assim óbvios ganhos, tanto em termos de qualidade de saúde como económicos.

TERMOABLAÇÕES PERCUTÂNEAS

Uma das técnicas realizadas pela Radiologia de Intervenção que em muito tem contribuído para a melhoria dos cuidados prestados aos doentes, com excelentes resultados, tempos mais curtos de internamento e óbvios ganhos em termos de qualidade de saúde e económicos, são as ablações percutâneas.

Estas técnicas iniciaram-se há mais de três décadas e, embora se encontrem plenamente estabelecidas em diversas unidades hospitalares portuguesas, existe ainda uma enorme assimetria na oferta destes cuidados.

As termoablações percutâneas são procedimentos minimamente invasivos, realizados apenas com corte de 3mm na pele. Tecnicamente, são semelhantes à realização de uma biópsia. É introduzida na lesão, através da pele, uma “agulha especial” (imagem 2) que a irá tratar, recorrendo a métodos térmicos (radiofrequência, micro-ondas ou crioablação). No fundo, a lesão é “queimada” ou “congelada”, num processo que leva à sua destruição. Têm a vantagem de substituir a cirurgia e terem menor risco de complicações.

Estes procedimentos são orientados por tomografia computorizada (TC) ou ecografia e duram cerca de uma hora (imagem 3). São indolores para o doente, uma vez que são realizados sob sedação ou anestesia geral, com a colaboração de Anestesiologia. Atualmente são utilizados no tratamento de fases iniciais de algumas neoplasias, em doentes que não são candidatos a cirurgia (por exemplo, quando esta é tecnicamente inviável, por comorbilidades ou por risco aumentado de complicações) ou no tratamento de alguns nódulos benignos.

Estas técnicas podem ser aplicadas no fígado, rins, pulmões e ossos, na mama e tiroide e em tecidos moles. Estão incluídas, por exemplo, nas guidelines de referência do tratamento de hepatocarcinoma e do carcinoma de células renais.

Leia o artigo completo na edição de março 2023 (nº 336)