Aceitação, autocompaixão e flexibilidade emocional vão transformar a sua saúde mental. Perceba como.

Artigo da responsabilidade do Dr. Alexandre Bogalho. Psicólogo Clínico. Neuropsicólogo de Hospitais Privados.

 

Nos últimos anos, o campo da Psicologia tem passado por uma evolução significativa, impulsionada pelo desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas que procuram ir além dos modelos tradicionais.

As chamadas terapias psicológicas de terceira geração, como a terapia de aceitação e compromisso (ACT), a terapia comportamental dialética (DBT) e a terapia focada na compaixão (CFT), representam uma mudança de paradigma no tratamento da saúde mental.

Estas terapias não se concentram apenas na mudança de comportamentos e pensamentos, mas procuram promover a aceitação, a flexibilidade psicológica e a atenção plena. O que estas abordagens trazem de novo é uma perspetiva mais ampla e inclusiva sobre o sofrimento humano, focando-se na relação do indivíduo com a sua experiência interna.

PARA ALÉM DA MUDANÇA COGNITIVA

As terapias de terceira geração emergem como uma resposta à limitação das abordagens anteriores, nomeadamente a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que dominou o campo da psicoterapia nas últimas décadas.

A TCC, ao procurar identificar e corrigir pensamentos distorcidos, provou ser eficaz em muitos casos. No entanto, muitos pacientes ainda enfrentam dificuldades persistentes, especialmente quando o sofrimento se relaciona com experiências internas difíceis de modificar diretamente, como emoções intensas, pensamentos intrusivos ou sensações físicas dolorosas.

É aqui que as terapias de terceira geração se diferenciam. Ao invés de tentarem eliminar pensamentos e sentimentos negativos, estas terapias ensinam os pacientes a aceitarem essas experiências como parte inerente da condição humana.

Por exemplo, a ACT baseia-se na premissa de que a luta para controlar ou eliminar experiências internas indesejadas pode exacerbar o sofrimento, em vez de o aliviar. Assim, ao invés de tentar eliminar os sintomas, os pacientes são incentivados a desenvolver uma flexibilidade psicológica, ou seja, a capacidade de estar presente e de agir de acordo com os seus valores, mesmo diante de dificuldades emocionais.

Além disso, estas terapias incorporam a prática da atenção plena (mindfulness), que ajuda os pacientes a cultivarem uma consciência não julgadora do momento presente. A DBT, que foi inicialmente desenvolvida para tratar pessoas com transtorno de personalidade borderline, integra a atenção plena como um componente central, combinando-a com estratégias de regulação emocional e tolerância ao desconforto. O resultado é uma abordagem que visa ajudar os indivíduos a navegarem as suas emoções de forma mais adaptativa, em vez de reagirem de forma impulsiva ou destrutiva.

O QUE TRAZEM DE NOVO?

O que distingue as terapias de terceira geração das suas antecessoras é a ênfase na aceitação, compreensão emocional e engajamento com a vida, mesmo diante de adversidades. Estas terapias reconhecem que o sofrimento emocional faz parte da experiência humana e que tentar eliminá-lo pode ser contraproducente. Em vez disso, os indivíduos são encorajados a aceitar a sua realidade interna, a observar as suas emoções e pensamentos sem julgamento, e a direcionar as suas ações de forma congruente com os seus valores pessoais.

Outro aspeto inovador é, precisamente, o foco nos valores pessoais. A ACT, por exemplo, enfatiza a importância de viver uma vida baseada em valores, ou seja, agir de acordo com aquilo que é mais importante para o indivíduo, mesmo que existam pensamentos e sentimentos dolorosos no processo. Esta abordagem torna-se especialmente relevante em situações de sofrimento crónico ou condições de saúde mental em que a cura completa pode não ser realista. Em vez de focar na eliminação de sintomas, promove-se o bem-estar através da vivência de uma vida plena e significativa.

BENEFÍCIOS DAS TERAPIAS DE TERCEIRA GERAÇÃO

Os benefícios das terapias de terceira geração são múltiplos e abrangem uma vasta gama de condições de saúde mental. Para além de serem eficazes em transtornos de ansiedade e depressão, estas terapias têm-se mostrado promissoras no tratamento de transtornos de personalidade, transtornos alimentares, adições e até mesmo no sofrimento existencial. Ao ajudar os indivíduos a aceitarem as suas experiências emocionais em vez de as evitarem, estas abordagens promovem uma relação mais saudável com o sofrimento e uma maior capacidade de resiliência.

Outro benefício significativo destas terapias é a promoção de uma maior autocompaixão. Por exemplo, a terapia focada na compaixão ajuda os indivíduos a desenvolverem uma atitude mais gentil e compreensiva em relação a si próprios, especialmente em momentos de dor ou falhanço. Esta mudança de perspetiva pode ser transformadora, uma vez que a crítica interna severa é, muitas vezes, uma fonte de sofrimento adicional.

Além disso, estas abordagens são adaptáveis a diferentes contextos culturais e têm sido aplicadas com sucesso em programas de promoção de bem-estar em populações diversas, incluindo em ambientes escolares e de trabalho. A sua versatilidade permite a aplicação em grupos e contextos não clínicos, alargando o seu impacto positivo na sociedade.

Leia o artigo completo na edição de novembro 2024 (nº 354)